Edição 240 – Agosto de 2002 – Revista Petro & Química
Petrobras comemora 25 anos da
Bacia de Campos
Flávio Bosco
Em 13 de agosto de 1977 era produzido o primeiro barril de petróleo no campo de Enchova, Bacia de Campos. Passados 25 anos e 3,7 bilhões de barris de petróleo produzidos, a província é responsável por mais de 80% do petróleo produzido no país.

Hoje a dependência externa do país caiu de 80% para 20% de volume importado. Graças à Bacia de Campos, o Brasil economiza diariamente US$ 30 milhões – valor que teria que desembolsar caso importasse diariamente 1,2 milhão de barris.

Esses volumes de produção colocam a Bacia de Campos em patamares superiores a vários países membros da Opep, como Qatar, Síria, Yemen ou Gabão. “A Bacia de Campos foi o coroamento da estratégia de tornar a Petrobras uma grande companhia de petróleo. A Petrobras seria outra companhia se não fosse a Bacia de Campos”, avalia Armando Guedes Coelho, engenheiro responsável pela área comercial da companhia na época.

36 campos produzem 1,26 milhão de barris de óleo e 18,4 milhões de m³ de gás natural por dia. Os números impressionam: são 14 plataformas fixas, 14 sistemas flutuantes de produção e nove FPSO’s, ligadas a 1.781 poços perfurados, 426 árvores de natal e 56 manifolds – sem contar 32 sondas de perfuração e completação.

Desde o final da década de 1950, com a perfuração de um poço em Cabo de São Tomé, a Petrobras vinha realizando atividades exploratórias de reconhecimento na Bacia. A ida para a plataforma continental baseava-se nos critérios de continuidade das bacias terrestres costeiras. Com o resultado de levantamentos geofísicos – especialmente sísmica de reflexão – foram iniciadas algumas perfurações.
Em 1974 a companhia descobriu óleo em quantidades comerciais no campo de Garoupa. “O País devia chegar à auto-suficiência, mas a Petrobras precisava tomar atitudes para aumentar as atividades em exploração e produção. Com a criação da Braspetro e dos contratos de risco, a companhia adquiria experiência internacional: os engenheiros que foram deslocados para outros países, voltavam com outras alternativas em mente. E a Bacia de Campos é uma demonstração desse fato”, observa Armando Guedes Coelho.

Para marcar as bodas de prata, o presidente da Petrobras, Francisco Gros inaugurou o monumento “Dos 25 ao Infinito”, instalado na Unidade de Exploração e Produção em Macaé / RJ e lançou um carimbo comemorativo dos Correios, que será usado nas correspondências postadas em Macaé, Campos e Cabo Frio.

Desenvolvimento tecnológico

Nos anos seguintes, sucessivas descobertas deslocaram as atenções – e os investimentos – para a Bacia de Campos. Mas a importância da Bacia ultrapassa os números de produção: foi lá que a Petrobras começou a desenvolver as tecnologias de produção de petróleo em águas profundas que a levou à liderança mundial. “Mais do que a descoberta da Bacia de Campos, nascia a tecnologia desenvolvida pela Petrobras, e conhecida no mundo inteiro”, conta José Brito de Oliveira, engenheiro que trabalhou na Bacia de Campos, à época do desenvolvimento da produção.

Com os dois choques do petróleo ocorridos na década de 1970, e o barril custando US$ 30, o Brasil buscava alternativas de suprimento. Assim, a Petrobras instalou pela primeira vez, um sistema de produção antecipada, adaptando uma plataforma de perfuração semi-submersível e quadros de bóias utilizados em terminais para a produção. Outro marco importante foi a construção das primeiras plataformas fixas de produção, mobilizando recursos de engenharia e tecnologias até então inéditas no país.

No final da década, a Bacia de Campos viu o início da produção nos campos de Garoupa e Namorado, utilizando manifolds e árvores de natal secas, encapsuladas em câmaras submarinas mantidas à pressão atmosférica. O sistema Lockheed – como era conhecido – foi considerado superado e definitivamente abandonado em 1985. “Era uma concepção tão futurística, que até hoje não há um sistema como aquele”, conta Brito.

À mesma época, ocorreu a primeira completação submarina, em lâmina d’água de 189 metros – recorde mundial em 1979. Também apareceram os conceitos de monobóias e semi-submersíveis.
Em 1982 foi registrado outro recorde de completação submarina, desta vez em lâmina d’água de 209 metros. No mesmo ano a Petrobras iniciou a produção do campo de Bonito, com o primeiro manifold submarino molhado conectado a uma plataforma flutuante. No ano seguinte, teve início a compressão de gás no campo.

Em 1986, com a primeira versão do Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas – Procap a Petrobras ultrapassou a barreira dos 1.000 metros de lâmina d’água na perfuração e testes de produção.

A década de 1990 é marcada pela entrada em operação das plataformas semi-submersíveis para produção de petróleo em águas profundas. “A Petrobras implantava sistemas semi-submersíveis como algo provisório, que seria substituídas por plataformas fixas. Mas a idéia de plataformas semi-submersíveis foi ideal para águas profundas, onde não poderiam ser instaladas plataformas fixas”, explica Brito.

Como conseqüência do pioneirismo na implementação de inovações tecnológicas, em 1992 a Petrobras recebeu o Distinguished Achievement Award, concedido pela Offshore Conference Technology – prêmio que viria a receber, pela segunda vez, no ano passado, também com o desenvolvimento tecnológico para exploração e produção em águas profundas.

Mas nem toda história é bela: a Bacia de Campos foi protagonista dos maiores acidentes ocorridos no país. Em 1984, 37 trabalhadores morreram e outros 17 ficaram feridos na explosão de uma plataforma da Petrobras.

Em 1988 um incêndio destruiu a plataforma de Enchova. No ano passado, a explosão que destruiu a P-36 deixou 11 mortos.

Hoje, a Petrobras obtém retorno em 42% dos 628 poços exploratórios e 92% em 537 poços de desenvolvimento. Além da companhia, outras 14 empresas atuam na Bacia.

Planos para o futuro

Nos próximos quatro anos, a Petrobras espera aumentar o volume de óleo produzido na Bacia de Campos, passando dos atuais 1,2 milhões de barris diários para 1,6 milhões em 2006. O presidente da companhia prometeu investir US$ 17,6 bilhões até 2005 na Bacia de Campos. Deste total, cerca de US$ 8,3 bilhões serão gastos somente com a entrada em operação de mais dez unidades de produção nos campos de Marlim, Albacora, Roncador, Caratinga e Barracuda.

“A aventura da Petrobras na região petrolífera está longe de terminar. A Bacia de Campos continua sendo a grande esperança brasileira e é, antes de tudo, uma vitória da inteligência nacional”, Francisco Gros.
Edição 240 - agosto de 2002
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