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Alguns reservatórios gigantes de petróleo deverão exigir um pouco
mais de atenção da Petrobras. Isso porque as atividades exploratórias
nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo têm levado à descoberta
de volumes significativos de óleos pesados – de elevada viscosidade
e densidade abaixo de 20º API – que não podem ser incorporados como
reservas devido ao custo e às dificuldades técnicas para extração.
Isso aponta a necessidade de investimentos cada vez maiores em novas
tecnologias para o desenvolvimento dessas jazidas, como a perfuração
horizontal e o bombeamento centrífugo de alta potência.
É o caso da recente descoberta na Bacia de Campos: o campo gigante,
com reservas de 600 milhões de barris de petróleo – a maior descoberta
da empresa desde o campo de Roncador, em 1996 – deverá produzir 20
mil barris diários de petróleo 17º API.
A maior parte das descobertas realizadas nos últimos anos tem apresentado
óleo com essas características. No ano passado, a Petrobras e a Shell
anunciaram a descoberta de um grande campo na Bacia de Santos, de
óleo 14º API. “Esta é a descoberta mais expressiva, mas há desafios
técnicos e comerciais”, conta Michiel Kool, vice-presidente de E&P
da Shell Brasil.
Além de ser mais complexa e cara do que a extração de óleos leves,
o valor do barril do óleo pesado no mercado internacional é cerca
de US$ 4 menor do que o petróleo tipo Brent – já que o refino desse
tipo de óleo gera produtos de baixo valor agregado. Por isso em muitos
casos o reservatório é considerado comercialmente inviável.
A recuperação de óleos pesados exige, por exemplo, um espaçamento
menor entre os poços de injeção. Por outro lado, para recuperar o
petróleo é necessário injetar mais água no poço – que acaba retornando
junto com o óleo, em volumes maiores do que nos campos convencionais,
o que impõe novos problemas e reduz a vida útil econômica do campo.
A água injetada, por apresentar menor viscosidade, tende a criar canais
de fluxo dentro do reservatório, fluindo mais facilmente que o óleo,
alcançando os poços produtores mais rapidamente, e em volumes cada
vez maiores. Ainda há a preocupação com o tratamento da água antes
de ser devolvida ao mar – o que representa novos investimentos em
tratamento.
Testes
Os poços de petróleo pesado requerem cuidados especiais, devendo ser
revestidos e completados com mecanismos de contenção. Também devem
ser realizados testes de longa duração – de pelo menos seis meses
– para verificar o desempenho do poço e o comportamento do óleo cru
nas linhas de produção.
As reservas mundiais de óleos pesados são estimadas em três trilhões
de barris, mas a baixa rentabilidade e a ausência de uma tecnologia
para extração não viabilizam sua produção – o único campo de petróleo
offshore que produz óleo pesado através de um sistema permanente é
o Captain, no Mar do Norte, a 107 metros de profundidade.
No Brasil, não bastassem os problemas relacionados à produção de petróleo
pesado, as reservas estão localizadas em águas profundas, colocando
dificuldades particularmente dramáticas – a baixa temperatura no fundo
do mar, de 4º C, afeta até o escoamento do petróleo pelas linhas.
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Valor do barril de óleo pesado é US$ 4 menor
que o tipo Brent |
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Para viabilizar a produção em algumas reservas, o Centro de Pesquisas
da Petrobras – Cenpes tem um projeto sistêmico, no âmbito do Programa
de Recuperação Avançada de Petróleo – Pravap. Para se ter uma idéia
da importância que a companhia vem dando à produção de óleo pesado,
este ano o projeto deverá receber R$ 2 milhões – até o final deste
ano o projeto será transformado em um programa.
A pressão de bombeamento do óleo e o risco de formação de parafina
dentro da linha são exemplos do desafio tecnológico intrínsecos à
produção do óleo pesado.
Uma das novas tecnologias desenvolvidas pela equipe do Pravap, em
parceria com a Unicamp, é o Core Flow, técnica que permite reduzir
a resistência do óleo cru no trajeto do poço até a plataforma. A técnica
se baseia na injeção de uma fina camada de água, evitando o atrito
do óleo com a parede do tubo – a água “recobre” o óleo viscoso, fazendo
com que ele “patine” pelas linhas.
Esse novo sistema reduz os esforços de bombeamento e a pressão interna
nas linhas, e não requer aquecimento do óleo – o que é uma vantagem
para a produção offshore. O consumo de energia é comparável ao bombeio
de água pelas linhas – testes de laboratório apontam uma energia 2.000
vezes inferior a que seria necessária. A tecnologia começou a ser
testada no campo onshore de Fazenda Alegre, no Espírito Santo.
Para facilitar o escoamento do petróleo pelo reservatório, uma das
técnicas utilizadas é a injeção de polímeros solúveis em água. A solução,
quase tão viscosa quanto o petróleo pesado, é capaz de empurrar maiores
quantidades de óleo em direção ao poço produtor – evitando a formação
de canais de fluxo entre os poços e aumentando o fator de recuperação.
A técnica é utilizada pela Petrobras em três áreas onshore. Para a
produção offshore, a utilização de polímeros apresenta algumas dificuldades,
como o transporte e armazenamento de água doce – uma saída, ainda
em estudo, é o desenvolvimento de um polímero viscosificante Ht/Hs,
que possa ser dissolvido com água do mar, e que apresente desempenho
satisfatório em altas temperaturas e elevada salinidade encontrada
dentro dos reservatórios.
Também é possível utilizar o calor gerado pelas bombas centrífugas
submersas para aquecer as linhas – facilitando o escoamento dentro
dos dutos.
Novos modelos
As equações tradicionais não demonstram como o petróleo pesado flui
por um meio poroso, indicando que a produção tende a ser nula. Uma
das tentativas de elaborar um modelo mais realista está baseada na
teoria Foamy Oil – quando os petróleos mais viscosos são submetidos
a uma pressão menor dentro dos reservatórios, tendem a formar bolhas
mais lentamente, e a união dessas bolhas seria mais demorado que o
normal. Permanecendo separadas, as pequenas bolhas de gás favoreceriam
o escoamento através das rochas porosas. A comprovação dessa idéia
permitirá elaborar um novo modelo matemático. |
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