Refinarias: Brasil enfrenta dificuldades
para atrair investimentos |
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O sucesso alcançado no leilão de áreas para exploração e produção
de petróleo não está se repetindo no segmento de refino. Para atrair
investidores privados, o Governo Federal terá que adotar uma política
de incentivos econômicos e fiscais. Os dados constam do estudo “Perspectivas
do Refino e da Produção no Brasil” elaborado pela consultoria Booz
Allen Hamilton. “O investimento em refino é alto, com baixa remuneração.
Como há ociosidade de refino em outros países, o Brasil enfrenta essa
dificuldade de atrair investimentos”, avalia David Zylberstajn, diretor
da consultoria DZ & Associados.
O estudo – que foi entregue ao Presidente Fernando Henrique Cardoso,
ao ministro Francisco Gomide (Minas e Energia), e ao Congresso Nacional
– oferece um diagnóstico da atividade de refino no país e estabelece
um modelo de desenvolvimento para o segmento. “A preocupação da ANP
foi apresentar uma reflexão sobre o setor e estimular medidas imediatas
para evitar que o País eleve o índice de dependência externa”, explica
o diretor-geral da ANP, Sebastião do Rego Barros.
O parque de refino nacional precisa de investimentos entre US$ 13,5
bilhões e US$ 15 bilhões. Ou então, em 2010 terá que gastar até US$
10 bilhões com a importação de derivados – valor quase quatro vezes
maior aos US$ 2,8 bilhões importados em 2001. O estudo prevê um aumento
do atual nível de dependência externa no suprimento de derivados,
de até 860 mil de barris/dia em 2010 – o que representa 35% de dependência
externa e um impacto na balança comercial de US$ 6,3 bilhões. Para
um cenário moderado, onde o crescimento da economia fique em 3%, o
consumo de combustíveis passaria dos atuais 1,8 milhão de barris diários
para cerca de 2,5 milhões de barris.
Entre 1990 e 2000, o consumo de derivados no Brasil apresentou um
crescimento de 43% no Brasil, passando de 1,27 milhões de barris para
1,82 barris por dia. O aumento só foi superado pelo da China (115%)
e pelo da Índia (71%). A partir de 2004, quando o país começar a produzir
mais petróleo do que sua capacidade de refino, terá que aumentar as
exportações de óleo cru e aumentar as importações de derivados.
Para evitar este quadro, o Brasil depende da adição de cerca 600 mil
barris/dia na capacidade instalada de refino – o equivalente a três
refinarias do porte da Reduc. Hoje o déficit já chega a 142 mil barris
diários – 17% do consumo – com um gasto de divisas de US$ 1,4 bilhão.
A solução para o problema, no entanto, não é tão fácil quanto se imagina:
a dificuldade para expansão do parque de refino nacional deve-se à
capacidade excedente de unidades de refino em todo o mundo, ao elevado
custo para a construção de novas unidades. Segundo Rego Barros, o
custo de construção de uma nova refinaria chega a US$ 10 mil para
cada barril de petróleo.
“Ainda há uma predominância da Petrobras no setor, e qualquer novo
empreendimento dificilmente deteria uma fatia maior que 10% do mercado”,
acrescenta Zylberstajn. Das 13 refinarias no país, 11 pertencem a
Petrobras – que detém 98% do mercado nacional. |
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O estudo destaca que atualmente a atividade de refino apresenta
baixa atratividade econômica. Como conseqüência, investimentos na
construção de novas refinarias só têm ocorrido em condições excepcionais
de crescimento da demanda associado a diversos tipos de incentivos
econômicos e fiscais ou barreiras alfandegárias sobre importações.
Por isso, a Agência encaminhou ao Governo Federal sugestões para atrair
investimentos, que incluem incentivos fiscais. “Não temos fórmula
mágica. Tivemos o cuidado de não apontar qual é o caminho. Isso é
um ponto essencial, que ultrapassa o mandato e a legislação da ANP”,
finalizou Rego Barros.
Novos projetos
Três novos projetos podem suprir parte desse déficit previsto para
o setor de refino. Um está localizado no Rio de Janeiro, próximo à
Bacia de Campos. Outros dois serão implantados na região Nordeste
do país, que consome 550 mil barris/dia e cresce 4% ao ano.
A Renorte, que deverá processar cerca de 220 mil barris / dia de óleo
Marlim, será implantada pelo governo do Rio, em parceria com a iniciativa
privada, na região Norte fluminense. Dos R$ 2 bilhões necessários
para o projeto, R$ 350 milhões virão de um fundo especial formado
com royalties do petróleo. Segundo o secretário Estadual de Petróleo,
Luiz Limaverde, oito empresas já manifestaram interesse em participar
da construção da refinaria.
Limaverde disse que o projeto está em andamento e deverá ser concluído
antes do término do mandato da governadora Benedita da Silva. “Queremos
deixar tudo encaminhado para que seja impossível que uma nova gestão
se recuse em realizar a obra”.
Projeto do grupo Thyssen, a Renor aguarda as negociações em torno
da participação societária para dar início às obras no Distrito Industrial
e Portuário de Pecém, localizado na região metropolitana de Fortaleza
/ CE. Na primeira etapa, prevista para entrar em operação em 2003,
deverão ser processados 110 mil barris por dia. Na segunda fase do
empreendimento, que deverá, até 2008, ampliar para 200 mil barris
diários a capacidade de processamento da refinaria. Só na primeira
fase, será investido US$ 1,8 bilhão no empreendimento.
Os aspectos estruturais do projeto estão praticamente definidos, como
a configuração da planta e o tipo do óleo a ser refinado. A refinaria
também processará o petróleo do campo de Marlim, para a produção de
gasolina, diesel, GLP, querosene de aviação e óleo combustível.
Na mesma região, o Grupo Vibrapar pretende investir R$ 625 milhões
na primeira refinaria de petróleo de Pernambuco. A estimativa é que
sejam produzidos inicialmente 30 mil barris / dia a partir de 2003,
podendo chegar a 60 mil barris em 2006.
A refinaria será instalada no Complexo Industrial e Portuário de Suape,
para a produção de gasolina, solvente, querosene, GLP, diesel e óleo
combustível. As obras devem começar já no segundo semestre deste ano.
O Grupo Vibrapar vai alocar R$ 314 milhões próprios e financiar o
restante – outros parceiros, BNDES ou bancos internacionais. (Flávio
Bosco) |
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