MATÉRIA DE CAPA – Edição 252 - Setembro de 2003
Aprender fazendo 
por Flávio Bosco
Ainstalação da Petrobras era concluída em 10 de maio de 1954, quando assumiu a totalidade da administração dos bens e serviços que lhes foram transferidos pelo CNP: os campos de petróleo do Recôncavo, reservas recuperáveis de 15 milhões de barris, bens da Comissão de Industrialização do Xisto Betuminoso; Refinaria de Mataripe processando cinco mil barris diários, uma refinaria e uma fábrica de fertilizantes em construção em Cubatão / SP, a Frota Nacional de Petroleiros com vinte navios, e o mais importante: seu corpo técnico.

A produção de petróleo era de 2.700 barris diários. Vinha dos campos de Candeias, Dom João, Água Grande e Itaparica, todos na Bahia. O parque nacional de refino atendia a uma pequena parcela do consumo nacional – então na casa dos 137 mil barris diários.

O Governo deu à nova empresa os recursos para expandir a indústria do petróleo no país. Com o desafio de atender às exigências da nascente indústria brasileira de petróleo, e buscando a redução dos custos de importação de derivados, a Petrobras opta pela construção de novas refinarias e pela criação de uma infra-estrutura de abastecimento, com a instalação de terminais e melhorias na rede de transporte.

A empresa montava a pesquisa de petróleo no “Inferno Verde” e virou símbolo de desenvolvimento na região amazônica. Em 1955, um dos primeiros poços perfurados na Bacia do Médio Amazonas, em localidade de Nova Olinda, produz óleo. A primeira descoberta de grande volume após a criação da Petrobras geraria grandes esperanças e intensificaria a campanha amazônica.

O general Juarez Távora, então chefe do Gabinete Militar do presidente Café Filho, faz uma exposição pelo rádio, comparando o resultado de Nova Olinda com a produção na Venezuela, para concluir que em breve o país seria auto-suficiente. Até o New York Times noticiou a descoberta como “a mais ruidosa do mundo desde as descobertas no Oriente Médio”. Mas a empolgação daria lugar a frustração: o poço não chegou a produzir três mil barris, e depois de várias outras perfurações, a área foi abandonada ao fim da década.

Sísmica realizada no Tocantins / Bacia do Maranhão

Então formado pela Escola Superior de Guerra, e tendo concluído sua pesquisa sobre logística, o major Jarbas Passarinho seria superintendente da Petrobras naquela região, quando nacionalizou a exploração, nomeando a chefia regional a Carlos Walter Marinho Campos. Também teve um incidente com o então candidato Jânio Quadros, que acusara a Petrobras de “brinca de procurar petróleo na Amazônia”.

Em 1957, a descoberta da acumulação de Jequiá foi a primeira na Bacia de Sergipe-Alagoas e, também a primeira fora do Recôncavo Baiano.

Ao final da década, a produção de petróleo era de 65 mil barris diários, e as reservas somavam 617 milhões de barris. Trabalhos exploratórios localizavam novas bacias nas regiões norte (Bragança-Vizeu, São Luís, Barreirinhas e Pará-Maranhão) e leste do país (Jequitinhonha, Nativo no sul da Bahia e Espírito Santo). O período acabou sendo caracterizado por perfurações sem o necessário respaldo técnico, conseqüência da pressa em perfurar, como a dar satisfação ao povo brasileiro.

Como as descobertas de petróleo não correspondiam as expectativas, o governo decidiu investir na construção e ampliação das refinarias para atender a crescente demanda interna – que pressionava a balança de pagamentos. Na década de 1950, o país já contava com quatro novas unidades: Manguinhos (RJ), e União (SP), inauguradas pela iniciativa privada em 1954, além da Refinaria de Cubatão (SP), inaugurada pela Petrobras em 1955, e Refinaria de Manaus (AM), também particular, inaugurada em 1956.

Também em 1956 era dado início à operação do Terminal de Madre de Deus, na Bahia, o que permitiria o escoamento para Cubatão do excedente de petróleo produzido naquele Estado. Era possível atender, já naquele ano, 62% do consumo nacional de derivados.

A criação do IBP e da Abdib

Em 1958, o quadro de técnicos da Petrobras era composto por 136 profissionais – 72 estrangeiros e 64 nacionais. O inglês era a língua dominante nos escritórios do Departamento de Exploração, mas a Petrobras já enviava seus técnicos brasileiros ao exterior, para treinamento e estudos pertinentes a pesquisa de petróleo.

Um ano antes, o Instituto Sulamericano del Petróleo promovia, na Argentina, uma reunião com representantes da América Latina buscando incentivar a criação de institutos dentro de cada país. A proposta atendeu às aspirações de profissionais da área no Brasil e, em 21 de novembro daquele ano era criado o Instituto Brasileiro do Petróleo. Destacavam-se nas atribuições do Instituto a formação e o aperfeiçoamento de pessoal através de cursos, a organização de congressos e seminários, e a elaboração de normas e publicações.

Mix de formação, coletividade, dedicação e idealismo, a história do Instituto Brasileiro de Petróleo & Gás é parte – talvez a mais importante – da história do petróleo no Brasil. Inspiração – e visão – de homens como o ex-ministro e primeiro presidente, Hélio Beltrão, Plínio Cantanhêde, Leopoldo Miguez de Mello, Geonísio Barroso e Otto Vicente Perrone, o IBP participou de toda a dinâmica da indústria nacional do petróleo – nesses 45 anos, não houve um só tema de relevância para o setor que não tenha sido debatido no âmbito do Instituto.

Nesse período, a Petrobras firma o compromisso de adquirir no mercado interno cada vez maiores quantidades de equipamentos. Em 1956, por sua ampliação, a Refinaria de Cubatão adquiriu no país 78% de seus suprimentos.

Em 1958 a Petrobras elaborou suas Normas de Suprimento, ao mesmo tempo em que realizava estudos da padronização e de um sistema de classificação de materiais e equipamentos – um esforço da Petrobras para adquirir cada vez mais materiais e equipamentos do mercado interno.

A necessidade de desenvolver uma indústria local para atender a essa demanda deu origem a Associação Brasileira para Desenvolvimento da Indústria de Base – Abdib, em maio de 1955.
Mr. Link

Em 1954, o primeiro presidente da Petrobras, general Juracy Magalhães, contratou os serviços do americano Walter Link, então geólogo chefe da Standard Oil, para implantar uma estrutura organizacional nos moldes das grandes companhias internacionais. Mr. Link montou e dirigiu o Departamento de Exploração e desenvolveu pesquisa nas bacias sedimentares do território brasileiro.

Com os resultados das perfurações, Mr. Link, na companhia de outros 13 geólogos, avaliou todas as bacias brasileiras e em 1961 apresentou o resultado desta avaliação à direção da Petrobras: se quisesse encontrar petróleo realmente, fosse procurá-lo no mar ou em outros países.

O “Relatório Link” apontava a inexistência de acumulações de grande porte nas bacias sedimentares terrestres brasileiras, fato que suscitou dúvidas no corpo técnico nacional e ainda hoje se ouve questionamentos a respeito. A bacia de Solimões, por exemplo, que fora classificada sem condições geológicas de geração e armadilhamento de hidrocarbonetos, hoje é produtora de gás e óleo leve (45º API) e aloja os campos de Urucu e Juruá.
Mr. Link foi acusado de ser “o sabotador a serviço da multinacional americana”.

Mais tarde, o General Tácito de Freitas lançaria o livro “Petróleo apesar de Mr. Link”, acusando o geólogo de estar a serviço das multinacionais do setor. A Petrobras, já sob o Governo Jango, trouxe técnicos franceses e soviéticos, que locaram poços em novas áreas – todos secos.

Mas essa imagem começaria a mudar a partir do final dos anos 60. Foi no mar que a Petrobras encontraria a Bacia de Campos – e onde conquistaria a liderança tecnológica de produção em águas profundas.

Anos 50
1954
• concluída a instalação da Petrobras
• inauguradas as Refinarias de Manguinhos/RJ e União/SP

1955
• descoberta de Nova Olinda/AM
• inaugurada a Refinaria de Cubatão/SP

1956
• inaugurada a Refinaria de Manaus
• descoberta de petróleo na nigéria e na Argélia

1957
• descoberta da acumulação de Jequiá a primeira Bacia de Sergipe-Alagoas
Ed. 252 - setembro de 2003
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