Nos últimos anos, convive-se com importantes mudanças
estruturais nos setores energéticos, resultante
de acordos globais e de pressões ambientais,
ampliando a oferta de fontes de energia renováveis, e possibilitando
o surgimento de novos atores, com maior ou menor
impacto na indústria de petróleo e gás natural.
E, os investimentos praticados em todo o mundo mostram
que a interferência tende a se acirrar, e exige que as
empresas focadas em prospecção de petróleo, e aquelas
voltadas ao refino e/ou aos derivados abram o leque, incorporando
novas fontes. Há estudos que indicam declínio da
procura por petróleo por volta de 2030, com a demanda por
energia seguindo crescente.
Nesse contexto, as empresas de energia enfrentarão concorrentes
não-tradicionais, em busca de competitividade
sustentável, com novos modelos de participação, voltados
a oportunidades de integração vertical e horizontal, dentro e
entre cadeias de valor energético.
A Shell está entre as empresas que enxerga a transição
energética como algo absolutamente natural e necessário,
consequência direta das mudanças no clima, causadas, entre
outros fatores, pelas emissões de carbono. E, há ações
efetivas nesse sentido, tanto como parte do Acordo de Paris,
quanto de olho no futuro: o grupo assumiu um compromisso
com a sociedade, e traçou metas rígidas para as próximas
décadas, prevendo redução de 50% em suas emissões, até
2050.
Atingir esta meta passa por diversos fatores, previstos
no planejamento da Shell: além de investimentos em
novas energias, é preciso aprofundar o entendimento das
operações e das maiores fontes de emissão; detectar quais
as oportunidades de melhoria de eficiência, os esforços de
educação e de conscientização dos colaboradores, além de
desenvolver tecnologias que favoreçam o abatimento das
emissões globais da companhia e de seus clientes.
No caso específico do Brasil – percebido pela Shell como
um dos principais focos do programa de novas energias do grupo
–, segundo informações oficiais, está em fase de estudos para
iniciar seus projetos em energias renováveis. Em âmbito global,
a empresa prevê investimentos entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões,
anualmente, mas também dedica atenção especial no provimento
de informação ao mercado. Exemplo é o portal Cenario
Sky, que divulga estudos do grupo sobre a redução de emissão
de carbono, entre outros assuntos.
Entre as empresas globais que estão investindo na diversificação
das fontes de energia, também se destaca a
Equinor, que somou a geração de energia eólica offshore à
sua atividade fundamental, respondendo, por exemplo, pela
operação de três parques eólicos offshore de grande escala,
no Reino Unido – Hywind Scotland, primeiro parque eólico
comercial do mundo usando turbinas flutuantes, e Sheringham
Shoal e Dudgeon, que utilizam turbinas fixas – e por
outros projetos em desenvolvimento, tanto no Reino Unido,
quanto na Alemanha, Polônia e Estados Unidos. |
|
|
|
Uma chaminé de incineração de resíduos, na fábrica
de recuperação de energia de Klemetsrud, em Oslo,
libera tanto CO2 por ano quanto 200.000 carros, mas
não é preciso deixar que esse gás chegue à atmosfera, e
destrua o clima; é possível armazená-lo com segurança,
três quilômetros abaixo do Mar do Norte. Dessa forma,
os resíduos que não podem ou não devem ser reciclados
são usados para fornecer calor para a vizinhança
ao redor, bem como para a eletricidade – um processo
chamado Combined Heating and Power, ou CHP, abreviado. |
|
|
|
A Equinor capturou e armazenou mais de 20 milhões
de toneladas de CO2 desde 1996, o equivalente às emissões
anuais de 10 milhões de carros: o CO2 é removido do gás
natural, e enviado a 1.000 metros sob a plataforma de Sleipner,
até a formação Utsira, onde é permanentemente armazenado
em pequenos poros na rocha.
Nem todo mundo ouviu falar de CCS – captura e armazenamento
de carbono –, até porque não é algo que se possa
fazer sozinho; não se pode ter um CCS no carro ou em
casa; é necessário um compromisso industrial considerável,
que só é relevante para as principais fontes de emissão. De
muitas maneiras, esta é a grande solução climática desconhecida. |
|
|
|
Stuart Haszeldine, professor de captura e armazenamento
de carbono na Universidade de Edimburgo,
afirma que a captura e o armazenamento de carbono
são muito caros e não rentáveis para muitas empresas;
então, não foi possível comercializar o CCS ou criar
uma cadeia de valor em grande escala para o CCS.
Ainda.
A Equinor, como a maioria das empresas de petróleo
do mundo, está trabalhando em várias frentes, porque
quer ser capaz de construir uma iniciativa de energia renovável,
enquanto continua a desenvolver seu negócio
de petróleo e gás de uma maneira eficiente, sustentável
e segura. Mas, não apenas para fora; em suas próprias
operações, a Equinor impõe essa postura, como
nos navios que viajam para plataformas de petróleo,
usando uma nova bateria, com tecnologia que reduz as
emissões de CO2: todas as embarcações de fornecimento
norueguesas, com contratos de longo prazo com a
Equinor, devem ter essas baterias instaladas. E constatou
que está usando menos combustível, economizando
dinheiro e reduzindo as emissões de CO2. A empresa
ressalta que isso tem sido possível por causa das pessoas
de visão da organização, da inovação de empresas
empreendedoras, e do apoio de fundos, como o NOx e
ENOVA. Para a Equinor, quanto mais perto se está dos
desafios, mais perto se está das soluções, e sua capacidade
de influenciar aumenta.
Esse interesse também vem incrementando a atividade
da empresa norueguesa no Brasil, uma vez que
está investindo, em parceria com a Petrobras, no estudo
e no desenvolvimento de um modelo de negócios
rentável para a geração de energias renováveis,
começando pela eólica offshore e, em seguida, cada
vez mais para outras matrizes, como, por exemplo, a
solar. As duas empresas têm propostas claras com relação
ao tema. |
|
|
|
A Equinor, por acreditar que energia não deve ser apenas
segura e sustentável, mas também competitiva, planeja
aplicar de 15% a 20% de seus investimentos em projetos de
energia renovável, em 2030. Já a Petrobras, até 2022, intenta
instalar, no litoral nordestino, o primeiro aerogerador
offshore no país, com o intuito de avaliar a performance
desse equipamento em campo. |
|
|
Gustavo Checcucci, diretor de Energia
da Braskem, fala sobre dois projetos de
energia distintos, e em regiões diferentes,
que exemplifi cam a estratégia da empresa
no desenvolvimento de sua matriz energética,
e a sua competitividade através de
projetos estruturantes com soluções inovadoras:
um na Bahia e outro no ABC.
“Em novembro de 2018 anunciamos, na
Bahia, a compra de energia eólica por 20 anos, em
um contrato estimado em R$ 400 milhões, viabilizando a expansão
do Complexo de Folha Larga, que a EDF Renewable
do Brasil está desenvolvendo no Estado. Esse novo parque de
energia renovável estará localizado no município de Campo
Formoso, a 350 km a noroeste de Salvador”, comenta Checcucci,
lembrando que, com essa iniciativa, “a Braskem avança
na estratégia de obtenção de uma matriz mais limpa e sustentável.
Estimamos reduzir a quantidade de emissões de CO2 em
325 mil toneladas, ao longo do período do contrato”. |
|
|
|
Já no Polo Petroquímico do ABC, a empresa desenvolve,
em parceria com a Siemens, projeto de modernização
do sistema elétrico, que – garante o diretor de Energia da
Braskem – “resultará em maior efi ciência na produção e
melhoria em indicadores de sustentabilidade da empresa.
O investimento total, avaliado em R$ 600 milhões, prevê a
atualização tecnológica do sistema que atende ao cracker.
Com a cogeração combinada de energia elétrica e gás de
processo, vamos consumir menos energia, e emitir ainda
menos gases de efeito estufa. A estimativa é de uma redução
de 11,4% no consumo de água e de 6,3% nas emissões
de CO2 da unidade. Com esta modernização, a Braskem
estima a redução do consumo de energia equivalente ao de
uma cidade com um milhão de habitantes”.
O viés do consumidor
A participação das renováveis é crescente também no universo
dos consumidores especiais, de menor porte, que, “somente
podem comprar livremente sua energia se essa for oriunda
dessas fontes, e se observou, desde 2016, uma migração muito
grande desses consumidores do mercado cativo, atendido pelas
distribuidoras para o mercado livre. Para os próximos anos, a
tendência é crescer o apetite dos consumidores por fontes denominadas
limpas, em função do selo verde que isso pode conferir
ao negócio”, explica Reginaldo Medeiros, presidente executivo
da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia
(Abraceel), frisando que aproximadamente 36% do consumo do
mercado livre vem das fontes incentivadas (eólica, solar, biomassa
e PCHs). “Mais da metade da geração dessas fontes foi
vendida no mercado livre, com destaque para a geração por
biomassa, que vendeu 68% aí”, constata.
A presença de outras fontes, como a eólica, também se desenvolve
e, segundo Maurício Tolmasquim – professor de Planejamento
Energético da Coppe/UFRJ – hoje ultrapassa a capacidade
de Itaipu – que gera 14 GW –, situando o país
em sétimo lugar em termos de capacidade instalada.
“Os novos aerogeradores são muito grandes, com
produtividade elevada. Além disso, o Brasil tem
uma vantagem, com o domínio da tecnologia,
de explorar petróleo offshore, que pode ser
transferida para a geração eólica. Por isso, as
empresas de petróleo estão olhando muito para
esse mercado”.
De acordo com Tolmasquim, essa mudança
de foco para a indústria do petróleo carrega, além
do aspecto ambiental, a segurança de comercialização
por longo prazo, e uma receita complementar, que equilibra
as variações de preço do petróleo no mercado.
E, para o futuro, estão previstas mudanças também para
o mercado consumidor, segundo o presidente executivo da
Abraceel, citando proposta apresentada pela instituição para
venda de excedentes de geração distribuída, pois, hoje, “o
consumidor apenas pode abater sua geração excedente de
futuras faturas, o que coloca as distribuidoras no centro da
solução como prestadoras dos serviços de medição, garantindo
remuneração adequada pelos serviços prestados”.
Essa proposta, entre outros benefícios, viabiliza a criação
de novos modelos de negócios e, aliada à expansão do
mercado livre, “favorece o aumento do uso de fontes renováveis
de energia, uma vez que abre a possibilidade de o
consumidor fi nal investir e/ou escolher comprar a energia
gerada exclusivamente em usinas solares, eólicas ou outras
fontes renováveis, produzidas localmente”, prevê o presidente
executivo da entidade que congrega os Comercializadores
de Energia. |
|
Shale Gas: combustível com pegada social |
|
Fontes convencionais e não convencionais de óleo e gás |
|
|
|
O caderno “O shale gas à espreita no Brasil: desmistifi
cando a exploração de recursos de baixa permeabilidade”,
lançado em fevereiro, apresenta o resultado de
pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos de Energia
da Fundação Getulio Vargas (FGV Energia), em conjunto
com a Universidade Federal de Santa Catarina, e a Universidade
do Estado de Santa Catarina. O trabalho
leva em conta a economia, o desenvolvimento social
e a melhoria de infraestrutura que a exploração
e produção de petróleo e gás natural, em estruturas
do tipo não-convencionais, estão promovendo nos
EUA e na Argentina.
Como explica a professora e coordenadora de
pesquisa da FGV Energia, Fernanda Delgado, no
caso brasileiro, trata-se do gás de Folhelho, e o estudo
buscou projetar como o Brasil, a exemplo de
outros países, pode explorar seus recursos de hidrocarbonetos
de baixa permeabilidade.
No trabalho divulgado, é enfatizada a importância
da reativação do ambiente onshore e do projeto
piloto do poço transparente, tendo como exemplo os
Estados Unidos, que têm grande sucesso da exploração
de shale gas, ao ponto de reduzir sensivelmente
a importação de petróleo.
A título de comparação, foi realizada uma análise
do atual cenário brasileiro onshore, a partir de
uma avaliação para a Bacia do Recôncavo, utilizando
machine learning, de forma a identifi car os
sweet spots. “As discussões mencionadas levaram a
FGV Energia a endossar que, no ambiente onshore
brasileiro, o aproveitamento de recursos não convencionais
pode contribuir de sobremaneira para
a manutenção das atividades exploratórias em bacias
maduras, ou em áreas greenfi eld, promovendo
o aumento do fator de recuperação destes campos”,
resume a pesquisadora. |
|
|
|
O caderno de shale gas tem o objetivo de desmitifi car a
exploração de recursos de baixa permeabilidade, e mostrar
as oportunidades de investimento na exploração em terra,
contribuindo para o equacionamento de entraves por parte
do governo e da sociedade no Brasil, comenta Fernanda
Delgado, informando que as estimativas da ANP, de 2013,
sinalizam que as reservas recuperáveis das principais bacias
sedimentares (Paraná, Recôncavo, Parnaíba, Parecis e São
Francisco) estariam próximas a 11,7 trilhões de m³. |
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|