Segurança, sustentabilidade e efi ciência de sistemas
são disciplinas presentes na operação de plantas industriais
no geral, mas, que no setor de química e
petroquímica agregam-se à gestão da integridade das instalações,
dos equipamentos e dos negócios, entre outros
pontos, com a fi nalidade de reduzir os riscos e garantir a
preservação da vida humana, do meio ambiente global e da
própria companhia, viabilizando as próximas gerações.
E risco é uma parte vital, seja no gerenciamento de informação
na área financeira – para questões de investimento
ou seguros -, seja no gerenciamento de ativos industriais. |
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Fernando Lescovar Neto – engenheiro naval,
pós-graduado em engenharia de soldagem e em
gestão pela FGV, profi ssional habilitado em NR-
13 e diretor técnico da SGS do Brasil – comenta
que, no caso específi co de plantas industriais
dos setores químico e petroquímico, os fl uidos
originários do setor petrolífero circulam,
reagem e são armazenados via processos de
reação e de transformação, em fl uxo contínuo
ou bateladas, com intervenção de cada parte
no processo de transformação. Sendo assim, para
segurança e funcionamento sustentável da planta, o
sistema deve estar íntegro, até porque a infl amabilidade dos
fl uidos é um complicador, que exige atenção permanente em
relação a ocorrências relacionadas a vazamento de fl uidos,
contaminações, incêndios, explosões, etc. |
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Valores imensuráveis
Vida humana, patrimônio e meio ambiente são valores
cada vez mais presentes no alicerce da atividade dessas empresas,
elevando o rigor a níveis sempre crescentes para a
prevenção de riscos e de acidentes.
“A integridade e a segurança de um determinado equipamento
ou sistema, nasce no momento em que este equipamento
é projetado, de forma que o perfeito funcionamento
de um equipamento ou sistema considere bom projeto, boa
fabricação, bom comissionamento no início de suas atividades,
inspeções, operação adequada e manutenção executada
com base nos mecanismos de danos aos quais são
submetidos esses sistemas”, resume Lescovar.
Essa abrangente transdisciplinaridade exige do gestor de
uma planta petroquímica a construção de uma memória de
cada equipamento para execução de metodologia baseada
em quatro passos, olhando cronologicamente para o assunto
integridade de ativos: identifi cação dos ativos, classifi cação
dos mesmos, priorização baseada em risco e execução
(ação) de atividades de inspeção, manutenção, alteração,
reparo ou troca.
Cuidados e prioridades: atenção às variáveis
No processo de construção dessas boas práticas,
duas preocupações devem ser levadas em conta
para se implementar um processo de integridade
de ativos, na visão do diretor técnico da
SGS do Brasil: o uso da tecnologia disponível
que estiver ao alcance para aquisição de
dados, e o conhecimento humano referente
a interpretação desses dados, e geração de
ações de curto e longo prazos.
A chegada da indústria 4.0 favoreceu a disponibilização
de dados que, agora, passam a ser
tratados de forma muito mais integrada, e disponibilizados
para programas e aplicativos que favorecem a tomada
de decisão com menor interveniência do ser humano. Lescovar
enfatiza, também, a ação preventiva nos mais diversos sistemas,
para a inspeção baseada em risco e dados reais, manutenção e
lucratividade, tais como medições de espessuras remanescentes,
condições operacionais de vazão, pressão e temperatura, além
do uso de bases de dados consolidadas ao longo das últimas décadas,
situando entre as áreas prioritárias “aquelas associadas
a equipamentos críticos estáticos e rotativos, sistemas de caldeiras,
válvulas de segurança (PSVs) e estruturas de suporte
essenciais para o funcionamento da planta”.
Nesse campo, para o diretor técnico da SGS do Brasil,
há diversos players que já disponibilizam no Brasil “inúmeros
sensores em suas plantas e sistemas integrados que
trazem ao dashboard todos os indicadores e informações
relevantes para que se faça a gestão da integridade, assim
como possuem equipes bem formadas e estruturadas”.
Somam-se a essas decisões de curto prazo, várias análises
estratégicas de informações e dados, tais como de disponibilidade
de planta, de vida remanescente, de estratégias
de manutenção e de otimização de itens em estoque.
“O desafi o é grande, mas, para avançar, temos condições
humanas e tecnológicas que caminham lado a lado com a
comunidade mundial no que diz respeito a conhecimento e
inovações”, garante Lescovar. |
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Mas, também existem percalços a serem vencidos, que
são sinalizados pelo consultor, a exemplo de “distanciamento
signifi cativo entre o que existe de tecnologia disponível, e o
que foi possível se implementar em algumas plantas brasileiras,
que já possuem desgastes que remontam de diversos
anos passados”. Tal realidade exige do Brasil tarefa abrangente
de atualização e agrupamento de informações técnicas,
assim como priorização dos passos a serem executados, para
elevação da integridade dos ativos e, como consequência, ganhos
em disponibilidade de planta e retorno fi nanceiro.
A teoria na prática
Empresas globais possuem programas mundiais com
características regionais, desenvolvidos internamente, atendendo
a requisitos corporativos, e também a aspectos legais
do Brasil. O acompanhamento dos resultados e a revisão
periódica das políticas são práticas comuns. As implementações
datam da década de 1980. |
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No caso da Solvay, que, no Brasil, também atua com a marca Rhodia, a política foi estruturada sob a coordenação da Direção Industrial do Grupo Solvay, e é marcada pela realização de estudos de segurança de processos para todas as instalações e operações, revisados a cada cinco anos. Há, também, “forte prática de MOC (Management of Change), em que toda e qualquer modifi cação no processo produtivo, seja ele em equipamentos, parâmetros de operação ou componentes, é analisada por uma equipe multidisciplinar sob a ótica da segurança”, resume Guilherme Faria Silva, diretor da Plataforma Industrial da Solvay em Paulínia (SP). |
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Na Bayer, por sua vez, de acordo com Marcia
Peron – gerente Corporativa de Saúde, Segurança
e Meio Ambiente – “os programas abrangem todo
o ciclo de vida das instalações e equipamentos,
partindo de avaliações criteriosas de Segurança de
Processo em todas as etapas de projeto de novas instalações,
gestão de manutenção/inspeção e gestão do
processo operacional por meio de procedimentos formalizados.
São aplicados conceitos de prevenção como design
intrinsicamente seguro, uso de equipes multifuncionais de
forma a promover a participação efetiva de todas as áreas
envolvidas no tema e sistemática de monitoramento através
de indicadores de performance”. |
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Automação: parceria inestimável
Ao adicionar sensores para medir as condições dos processos
operacionais e dos ativos, e softwares e sistemas
para monitorar e controlar a integridade dos ativos, e
garantir operações seguras, efi cazes e produtivas
que atendam ao potencial de projeto da fábrica,
os fabricantes químicos e petroquímicos podem
melhorar muito a integridade dos equipamentos,
e mitigar riscos. E, com a facilidade
de implementação dos transmissores wireless,
os sensores podem medir quase tudo, desde a
integridade dos ativos rotativos, até os ativos fi -
xos, como tubulações, vasos e trocadores de calor.
Essa afi rmação de Marcelo Carugo, diretor Sênior
Global de Indústrias de Refi no e Química da Emerson Automation
Solutions, resume os ganhos proporcionados pelos
sistemas de automação, quando o assunto é integridade das
instalações e gestão dos riscos inerentes à operação de plantas
industriais da área química e petroquímica.
Os novos sensores e as tecnologias wireless favoreceram
a capacidade de expandir o monitoramento para ativos essenciais,
muitos em áreas remotas, onde a energia e a fiação não
estão disponíveis. Os softwares preditivos de análise, por sua
vez, transformam grandes dados em informações acionáveis,
mitigando o risco de produção reduzida, e paradas não planejadas.
Nesse contexto, segundo Carugo, a próxima etapa compreende
tecnologias digitais como Digital Twin, simulação de
planta e realidade aumentada, que podem ajudar a treinar o
pessoal a utilizar efetivamente essas novas informações, bem
como testar cenários de otimização e conformidade antes
mesmo de implementá-las.
“Com base em nossa experiência com a implementação
dessas tecnologias globalmente, identifi
camos potenciais economias na faixa de 7%
a 15% do EBITDA”, prevê o diretor da Emerson,
lembrando que a empresa possui uma
biblioteca com mais de 80 práticas comprovadas
de melhoria de valor para impulsionar
a excelência operacional em programas de
disponibilidade, produção, segurança e redução
de energia, além de um longo histórico de fornecimento
de excelência na implementação de projetos
de capital em fábricas em todo o mundo. |
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Ao simular todas as operações e equipamentos da unidade, o operador desenvolve um “modelo mental” mais completo e preciso da planta, entendendo a causa e o efeito de suas ações e as interações complexas da plataforma de automação com o processo. |
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Benefício das normas |
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As normas facilitam a vida cotidiana, aumentando a segurança
e racionalizando as operações, pois, a padronização
garante que os produtos, serviços e os métodos sejam corretamente
adequados ao uso pretendido, assim como que os
equipamentos, processos e produtos sejam seguros, compatíveis
e interoperáveis. Esse resumo de João Bassa – consultor
na Maham e diretor de Normas na ISA Brasil – sinaliza
o papel das normas e dos padrões no desenvolvimento de
projetos e operações de forma estruturada e com diminuta
“personalização”, reduzindo os custos de instalação, construção,
partida e operação. Também promovem a padronização
de partes e componentes, reduzindo o volume de
sobressalentes em estoque. Finalmente, permitem aumentar
a segurança das instalações, o que, em suma, se traduz em
menores custos operacionais e maior produtividade.
Destacando o papel colaborativo de desenvolvimento de
normas, Bassa ressalta, entre os benefícios a maior comunicabilidade
entre os envolvidos, a redução de interpretações
errôneas, a aplicação prática do acumulado conhecimento
especializado, evitando o início de cada aplicação ou projeto
a partir do zero ou baseados no incerto conhecimento
individual do executante. Em resumo: “A adoção das normas
incrementa a segurança e a excelência operacional,
melhorando o desempenho, reduzindo os custos e os tempos
de inatividade”, garante.
Hoje, no Brasil, há poucas normas ABNT no setor, porém,
está sendo organizado um trabalho que englobará a
tradução e adequação da ISA/IEC 61511, que é tida como
o carro-chefe, quando o assunto é segurança em processos,
sendo adotada mundialmente como padrão. |
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