Manufatura Aditiva ou Impressão 3D (tridimensional)
já é uma realidade, tanto para peças de polímeros quanto de
metais. A tecnologia existe há mais de 30 anos, porém, só
nos anos 1990, as patentes começaram a cair e os negócios a
acontecer. Voltada primeiramente para protótipos, a tecnologia
já é vista como forte tendência para peças de reposição,
pequenos lotes e peças especiais. Ela já é utilizada pelas
automobilísticas, forças armadas de
diversos países, fabricantes de peças
para foguetes e jatos, e também na
indústria de óleo & gás.
Alexandre Luz, Pesquisador de
Ciência de Polímeros e Coordenador
de Projetos da Braskem, lembra
que, essencialmente, os termos manufatura
aditiva e Impressão 3D são
sinônimos e se referem ao processo
de produção de objetos sólidos, a
partir de um arquivo digital, através
da adição camada a camada de material.
Recentemente, o termo manufatura
aditiva tem ganhado mais notoriedade em função de
se colocar como uma alternativa aos processos tradicionais
de produção.
A Emerson Automation Solutions, fornecedora de
tecnologia (hardware e software), inaugurou, há cerca de
dois anos, em Singapura, um Centro de Manufatura Aditiva,
sob responsabilidade de Adam Boyle, diretor global
de manufatura aditiva da Emerson, que afi rma que a terminologia
nessa área ainda está evoluindo, porém, a manufatura
aditiva é essencialmente sinônimo de impressão
em 3D. Contudo, os termos podem ajudar a separar as
tecnologias de impressão industrial mais adequadas para
protótipos daquelas voltadas para a produção de pequenos
volumes. O termo manufatura aditiva
também vem sendo adotado como terminologia
preferida pelas organizações
de padrões; então, acredita que o termo
impressão 3D tende a ser menos frequente
no espaço industrial. |
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Usuários, fornecedores e academia já estão trabalhando com a manufatura aditiva em diversas frentes. Um levantamento do IDC estima que os gastos globais em tecnologias de impressão 3D atinjam US$ 12 bilhões, em 2018, e, apesar dos muitos obstáculos, o futuro das tecnologias de impressão em 3D no setor de óleo & gás parece brilhante – o que é corroborado por pesquisa do Gartner, que prevê que, até 2019, mais de 10% de todas as empresas de óleo e gás, incluindo fornecedores de serviços, vão incorporar aos métodos de fabricação tradicionais os de manufatura aditiva avançados. Mas é importante frisar que a nova tecnologia não substitui as técnicas de fabricação “subtrativas” existentes; é apenas mais uma alternativa à disposição – do fabricante e do usuário. |
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Ao contrário da manufatura
tradicional – em que um bloco
é usinado/cortado – na manufatura
aditiva, um objeto é construído
por fi os de polímeros ou
fundido a partir de metal em
pó, camada por camada, em fatias
microscópicas. E existem
diversos processos para realizar
isso: a tecnologia FDM utiliza
termoplásticos e é usada para
construir geometrias complexas;
a Polyjet jateia fi nas camadas de
polímeros e os cura com laser
UV; a estereolitografi a, também
conhecida como SL ou SLA,
constrói peças usando um laser
UV para solidifi car resinas de fotopolímero líquidas; a sinterização
a laser, também conhecida como Sinterização a
Laser Seletiva, SLS ou LS, usa um laser de CO2 para aquecer
e fundir pó termoplástico – é muito usada para gerar
peças leves e resistentes ao calor e a produtos químicos;
a sinterização a laser direta em metal (DMLS) funde metal
e ligas metálicas em pó usando um laser de alta potência
para produzir peças metálicas robustas. |
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Com a manufatura aditiva, já é possível produzir instrumentos
e peças complexos e inovadores, antes impossíveis
de fazer. Ainda existe a barreira do tempo, já que a manufatura
aditiva tende a ser lenta – por enquanto. E rapidez é algo
relativo, já que peças e mesmo alguns equipamentos podem
ser “impressos” no local em horas, enquanto um processo
de compra e remessa tradicional chega a levar semanas, em
alguns casos. E não há desperdício, nem de polímeros, nem
de pó, porque o pó metálico não utilizado pode ser fi ltrado e
reutilizado – isso é especialmente importante no uso de pós
de metais caros e de alta liga. Para plantas complexas, com
milhares de peças de reposição diferentes em estoque, ou uma instalação remota de produção offshore, a possibilidade
de fazer peças sob demanda seria benéfico.
A indústria de petróleo e gás tem aplicado a manufatura
aditiva em brocas e articulações, até carcaças de bombas
e trocadores de calor. Mas, o que vem orientando a atual
seleção de peças “imprimíveis” na indústria é a razão “alta
complexidade / baixa quantidade”, onde se concentram peças
com geometrias complexas produzidas em pequenos
volumes.
Já foi questionado que manter a qualidade das peças
impressas seria difícil, porém, isso também está para ser
resolvido: o American National Standards Institute (ANSI)
estabeleceu o Additive Manufacturing Standardization
Collaborative (AMSC), um órgão composto por toda a
gama de interessados em todo o mundo – incluindo OEMs,
governo, academia, consórcios de padrões – para criar uma
avaliação das lacunas de padrões e, já no início de 2017,
publicou o rascunho inicial dessa avaliação – Roteiro de
padronização para manufatura aditiva, versão 1.0. |
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A ASME publicou um rascunho de padrão para uso experimental em manufatura aditiva, o documento Y14.46-
2017, Defi nição de Produto para Manufatura Aditiva – Minuta
Padrão para Uso em Teste, que abrange defi nições de
termos e características exclusivas de tecnologias de manufatura
aditiva, com recomendações para sua especifi cação
uniforme em produtos e documentos relacionados.
Já existem vários padrões publicados ou quase concluídos
na área, como a ISO / ASTM CD 52903-2 (“Manufatura
aditiva – Especifi cação padrão para manufatura aditiva baseada
em extrusão de material de materiais plásticos – Parte
2: Processo – Equipamento”) – atualmente em desenvolvimento;
ASTM F3187-16 (“Guia padrão para deposição de
energia dirigida de metais”). O Comitê F42 da ASTM sobre
Tecnologias de Manufatura Aditiva foi formado em 2009,
e reúne duas vezes por ano seus cerca de 100 membros.
Todos os padrões desenvolvidos pela F42 são publicados
no Livro Anual das Normas da ASTM, e vão desempenhar
papel importante em todos os aspectos das tecnologias de
manufatura aditiva. |
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“A qualidade e performance das peças impressas ainda
é um desafi o para a Manufatura Aditiva, pois, a presença
de poros e vazios, ou uma fraca interação camada-a-camada,
entre outros fatores, podem gerar peças com propriedades
ruins. Nesse contexto, os materiais e as condições de
processamento tem papel-chave para produzir peças que
possam ser submetidas à condições reais de uso. Nós, da
Braskem, estamos trabalhando para desenvolver materiais
específi cos para os processos de Impressão 3D e, durante
o desenvolvimento, utilizamos inúmeras técnicas de
avaliação, como uso de microscopia para avaliar
a estrutura da peça formada, testes de tração e
impacto para avaliar as propriedades mecânicas,
avaliações reológicas para ajustar o
material ao processo, entre outros”, afi rma
Alexandre Luz. |
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E já está acontecendo. O Centro de
Tecnologia da Shell, em Amsterdã, está
usando a tecnologia para fazer peças únicas
– com o mesmo modelo de máquina que
a Nasa!
“Na verdade, tivemos a impressora antes da Nasa.
Para escolher uma máquina em detrimento de outra é preciso
analisar o que a máquina pode imprimir e qual tecnologia
ela usa. Nossa impressora a laser Concept usa
sinterização seletiva a laser, que permite alto nível de detalhes.
Outros critérios para selecionar uma máquina são
a quantidade de lasers, tamanho de construção, qual material
pode imprimir...”, comenta Jorik Kuhlmann, Líder em
Impressões 3D da Shell.
Um exemplo em que a Shell está usando a tecnologia
de impressão 3D para tornar mais rápido e efi ciente o projeto
e a construção de equipamentos usados na produção de
petróleo e gás é a bóia que contém centenas de blocos de
espuma sólidos que a mantêm fl utuando na água. A equipe
responsável usou uma impressora 3D conectada ao sistema de projeto de seu computador para produzir versões de plástico
reduzidas de todos os componentes em apenas quatro
semanas – os métodos convencionais tomariam vários meses.
Peça por peça, eles construíram um protótipo funcional
da bóia, simulando a estrutura externa de metal com os blocos
de espuma dentro.
A tecnologia de impressão permite que a empresa crie
protótipos de escala precisos em diversos materiais e testálos.
De maneira geral, a empresa tem utilizado o design digital
e a impressão 3D para construir protótipos mais efi cientes,
que serão transformados em produtos físicos completos.
“Usamos a impressão 3D para peças de reposição, especialmente
se a peça necessária não for mais produzida
comercialmente ou tiver um prazo de entrega longo, devido
a outros motivos. Atualmente, essas tendem a ser uma solução
única, e não uma prática padrão, mas nossa meta
de longo prazo é digitalizar o máximo possível de nossas
ações”, conta Jorik Kuhlmann.
A Shell – que mantém equipe de pesquisa e desenvolvimento
há décadas – está na vanguarda das tecnologias
digitais há décadas, desde o surgimento de robôs submersos,
na década de 1970, até os atuais computadores de alto
desempenho, que ajudam a detectar novos recursos de
energia nas profundezas da superfície da Terra. A empresa
está trabalhando em novas tecnologias digitais em diversas
frentes, para alcançar o maior potencial para seus negócios.
Uma gama de tecnologias de ponta é parte da estratégia de
digitalização em todo o grupo, o que inclui: AI / Aprendizagem
de Máquina, Internet das Coisas, Tecnologias Vestíveis,
Realidade Virtual e Aumentada, Robótica e
drones e Blockchain. “O objetivo é usar essas
tecnologias para melhorar nossos principais
processos de negócios, gerar valor adicional
por meio de novas formas de trabalhar e desenvolver
novos modelos de negócios habilitados
por tecnologias digitais”, afi rma Jorik.
Ainda, seguindo a GE Aviation, a divisão
de petróleo e gás da GE começou, há cerca de
três anos, um piloto de produção de bicos de
combustível de metal para suas turbinas a gás, via
impressão 3D. E a Halliburton já usa impressão 3D para
produzir peças para perfuração em pequena escala.
Da petroquímica para o espaço
Uma parceria entre a Braskem e a Made in Space, empresa
de impressoras 3D, está garantindo mais autonomia
aos astronautas, pois, utilizando o Plástico Verde feito de
cana-de-açúcar, eles podem imprimir suas peças e ferramentas
durante as missões espaciais. E a primeira peça
criada fora da Terra com essa tecnologia foi um conector
de tubos para irrigação de vegetais gerado na Additive
Manufacturing Facility (AMF), a primeira impressora 3D
comercial permanentemente alocada na Estação Espacial
Internacional (International Space Center – ISS). Além de
fabricar a impressora com o apoio do Center of the Advancement of Science in Space, a Made in Space também foi
parceira da equipe de Inovação e Tecnologia da Braskem no
desenvolvimento da solução em Polietileno Verde, usada na
confecção dos produtos em três dimensões – pois, além de
adaptável ao equipamento, era necessário ser uma matériaprima
com alto grau de fl exibilidade, resistência química e
reciclabilidade.
Em março de 2016, o Plástico Verde I’m green chegou
ao espaço para ser utilizado na impressora 3D instalada na
Estação Espacial Internacional, facilitando o dia-a-dia dos
astronautas, que poderão imprimir peças e ferramentas conforme
necessitarem. Segundo a Made In Space, no futuro,
cerca de 30% das peças da Estação Espacial Internacional
poderão ser substituídas por produtos manufaturados na impressora
3D, em caso de defeito ou mau funcionamento.
Para Alexandre Luz, isso signifi ca mais agilidade e redução
de custos, já que os astronautas poderão receber, por
e-mail, o design digital dos objetos e imprimi-los, em vez
de esperar semanas, ou até meses, para que sejam manufaturados
na Terra e enviados por meio de foguetes. Como
próximo passo, previsto para o segundo semestre de 2018,
os astronautas que vivem na Estação Espacial Internacional
poderão utilizar uma recicladora de objetos e embalagens
plásticas que será capaz de ampliar ainda mais a autonomia
e a sustentabilidade das futuras missões fora do Planeta Terra.
A recicladora contribuirá para a redução dos custos das
missões espaciais e para a redução do peso transportado a
partir da Terra. A máquina possuirá um sistema de moagem
e extrusão de plásticos, produzindo um fi lamento adequado
à impressora 3D. Com acesso à recicladora, os astronautas
poderão reutilizar os artigos de Polietileno Verde fabricados
anteriormente na impressora 3D, além de outros materiais
plásticos já existentes, como embalagens de alimentos, e,
dessa forma, completar o ciclo do plástico. |
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“Sem dúvida a manufatura aditiva poderá ajudar a ampliar a autonomia de sites distantes dos grandes centros urbanos, como mineração, plataformas offshore e navios, passando a produzir, localmente e quando necessário, as peças que demorariam dias, e até meses, para chegar via meios atuais”, pontua Alexandre.
“Se a impressão 3D vai estar em cada site distante é difícil responder, porém, no momento, defi nitivamente não. Foi importante perceber que a impressão 3D não é tão simples quanto a impressão ‘regular’. As máquinas são grandes, delicadas e exigem um conjunto de habilidades distintas para operar. Além disso, o pós-processamento dos componentes de impressão requer uma variedade de máquinas. O que é mais provável é que tenhamos centros de impressão espalhados globalmente para imprimir ativos”, fi naliza Jorik. |
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