A iminência da declaração de comercialidade da área de
Pão de Açúcar, na Bacia de Campos, é o emblema da retomada
em um setor que há tempos não encomenda uma nova plataforma
para produção de petróleo. O bloco foi adquirido na 7ª
Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, realizada
em 2005, pelo consórcio formado por Repsol e Statoil.
Desde então o país viveu a euforia da descoberta das reservas
no pré-sal e a melancolia da queda nos preços do petróleo e da
falta de novas áreas exploratórias. Um levantamento da Accenture
Strategy mostra como o ânimo oscilou nesse período: em
2013 o setor de petróleo e gás no Brasil recebeu um investimento
de US$ 33 bilhões. No ano seguinte, quando os preços
do barril iniciaram o movimento de queda e a Operação Lava
Jato foi defl agrada, os investimentos somaram US$ 31 bilhões.
Em 2015, foram US$ 23 bilhões, e no ano passado os aportes
caíram para US$ 16 bilhões. A Petrobras, endividada, pôs o pé
no freio e reduziu de US$ 30 bilhões para US$ 14 bilhões seus
investimentos nesses quatro anos. O refl exo mais visível foi a
queda do volume de reservas de petróleo – de 16,2 bilhões de
barris em 2014 para 12,7 bilhões de barris no ano passado.
“O fato de não termos investimentos signifi cativos de outras
operadoras se dá justamente pelo fechamento do mercado
causado pela falta de rodadas de licitação. Cada projeto no présal
atrai cerca de US$ 10 bilhões para a fase de desenvolvimento
da produção. Com alguns projetos em andamento, facilmente
teríamos um investimento até 100% maior do que é hoje”,
afi rma diretor executivo da consultoria, Matheus Nogueira.
A boa notícia é que esses aportes devem iniciar uma trajetória
ascendente – para US$ 19 bilhões já em 2018 e chegar
a US$ 29 bilhões em 2022, segundo projeções da Accenture
Strategy. O novo patamar de preços do petróleo já está absorvido
pela indústria. E o peso da Petrobras será menos preponderante
daqui para a frente.
A própria Agência Nacional do Petróleo estima que as
áreas que serão ofertadas até 2019 conseguirão atrair US$ 80
bilhões em investimentos diretos. “A maior questão está relacionada
a custo e competitividade. Há cerca de 41 rodadas de
licitação programadas para 2017 e 2018, e o Brasil, como todos
os outros países, compete por dólares limitados”, ressalta
o Chief Upstream Strategist da IHS Markit, Bob Fryklund.
As nove Rodadas que irão acontecer nos próximos três anos
terão a oferta de blocos tanto no modelo de concessão quanto no
de partilha de produção. O maior potencial está nas áreas localizadas
em águas profundas das Bacias de Campos e Santos – que
não são ofertadas desde 2006, quando o governo decidiu que as
áreas com potencial para o pré-sal seriam ofertadas sob o regime
de partilha da produção, com a operação única da Petrobras.
Nas áreas unitizáveis – reservatórios que se estendem
além das fronteiras de um campo do profícuo pré-sal – o
investimento deve chegar mais rápido – que na indústria do
petróleo signifi ca aproximadamente três anos. “Como você já
tem um risco exploratório menor, porque já existe a descoberta
em um campo adjacente, a empresa faria só uma campanha
de avaliação, que é mais curta, e já poderia começar a fazer o
investimento no ciclo de produção”, ressalta Nogueira.
Os projetos já anunciados pela Petrobras e suas sócias e
também por Queiroz Galvão, Karoon e Statoil trarão mais
21 plataformas para as Bacias de Santos e de Campos até
2021 – e um aumento de 700 mil barris à produção de petróleo
e gás do país, hoje em torno de 2,6 milhões de barris
por dia. No longo prazo, a produção de petróleo deve chegar
a 5 milhões de barris por dia. O Brasil é apontado até pela
da Organização dos Países Exportadores de Petróleo - Opep
como um dos principais responsáveis pelo aumento na oferta
global de petróleo para os próximos anos. Há mais otimismo
do que pessimismo em relação ao futuro. Resta saber qual o
tamanho da fatia que caberá à sociedade brasileira – e isso
dependerá dos bônus arrecadados nas Rodadas, dos royalties
pagos sobre a extração do petróleo e do gás e, sobretudo, do
percentual de bens e serviços contratados localmente. |