Os sistemas de segurança e automação instalados
na plataforma do campo de Draugen, no Mar do Norte,
não são apenas usados pela operação. Os dados passaram
também a ser analisados pela Norske Shell na
busca por novas formas de aumentar a produtividade.
No campo de Atlantis, no Golfo do México, o projeto
implantado pela BP integra as informações obtidas
dos equipamentos para gerar notificações e relatórios
analíticos aos engenheiros, em tempo real, para que
eles possam se antecipar a problemas de desempenho
da plataforma. Se os resultados estiverem de acordo
com o planejado, a mesma solução será estendida a
outras 33 plataformas.
É possível encontrar experiências similares em outras
empresas – algumas aderiram proativamente a essa
revolução gerada pelas tecnologias digitais, embora a
maioria dos casos ainda sejam tratados com sigilo. A
ideia principal é conectar – equipamentos, processos
e pessoas. Aquela ideia de operação em silos, em que
os dados obtidos em um processo eram utilizados para
uma finalidade específica, está fora de moda. A adoção
de big data, a computação em nuvem, data analytics e
outras tecnologias relacionadas à Internet das Coisas,
que trouxe ganhos para as indústrias de manufatura e
para setores de comércio e serviços, agora está à disposição
do setor de petróleo e gás.
De acordo com estudos do BCG, o desenvolvimento
da estrutura, digitalização e processos das plantas
podem causar uma redução de até 20% nos custos totais
de produção. Durante um período de dez anos, os
investimentos acumulados de uma empresa para capturar
esses benefícios serão de 13% a 19% da receita
de um ano.
Nesse novo modelo, a disrupção não é impulsionada
por um desenvolvimento tecnológico específico,
mas pela maneira como a tecnologia é usada. “Tecnologias
digitais, como simulação e monitoramento
em tempo real, sempre foram muito exploradas pela
indústria de petróleo e gás. Mas nos últimos anos houve
uma evolução de conceitos como colaboração e desenvolvimento
de aplicativos, que ocorreu com muito
mais força em outros setores”, explica o CEO da Radix,
Luiz Eduardo Rubião.
A Radix é uma das integrantes do The Open Process
Automation Forum, uma iniciativa que reúne
109 petroleiras, indústrias químicas e fornecedores de
equipamentos e sistemas em torno da próxima geração
do controle de processo.
O que tem chamado a atenção é o novo paradigma
em termos de arquitetura e maneira de resolver problemas.
A questão não se resume a troca de informações
entre um equipamento e um software, mas quanto
as informações das duas pontas podem ajudar toda
a empresa. A integração da operação, corporativo e
laboratórios – e até fornecedores e clientes – independentemente
do formato ou estruturação das informações,
muda significativamente a a tomada de decisões,
a tolerância a produtos fora de especificação e falha de
equipamentos, e reduz o tempo de desenvolvimento
de novos produtos e soluções.
Os ganhos podem ser visualizados antes mesmo
que um produto saia do forno. A concepção, o suprimento
e os testes são feitos de forma virtual, reduzindo
pela metade o tempo de desenvolvimento de
uma nova formulação. Isso, em última análise, tem
um efeito sobre as relações fornecedor-cliente. “O
desenvolvimento de produtos e plataformas e o engajamento
do cliente tem um potencial inexplorado”,
afirma o líder global da Deloitte para o setor de Química,
Duane Dickson.
É bem verdade que alguns movimentos foram importantes
para fundamentar essa disrupção digital: o avanço do poder de computação e da transmissão de
dados sem fio, a queda acentuada nos custos de sensores
e o desenvolvimento de algoritmos que alertam
para qualquer mudança e sugerem decisões a serem
tomadas ao analisar os dados. “Implementar sensores
para capturar informação hoje é muito mais viável do
que há dez anos. Também é possível tratar de forma
mais inteligente essa informação, dando respostas
mais assertivas ao cliente. No final do dia a
digitalização ocupa esse espaço”, lembra
o gerente da unidade de negócios
de Óleo e Gás da ABB, Maurício
Cunha.
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No início da década passada,
a BP lançou um programa batizado
de Field of the Future e fundamentado
em conectividade e
colaboração em tempo real entre a
operação offshore e o monitoramento
em terra. Com a evolução das aplicações
que armazenam grandes volumes
de dados e o desenvolvimento da computação
em nuvem, o programa ganhou uma
nova dinâmica. A petroleira também se
deu conta que trazer especialistas em tecnologia
para seu lado traria mais resultado
que tentar, sozinha, buscar uma solução.
A Exxon, grande impulsionadora do Open Process
Automation Forum, compartilha uma atitude
semelhante. No ano passado, a empresa
foi buscar o know how da Lockheed
Martin, integradora especializada
no setor aeroespacial, para definir
os requisitos e integrar o protótipo
da nova geração do sistema
de controle, e chamou empresas
de software, hardware e outras
petroleiras para desenvolver padrões.
Com uma grande base de
sistemas instalados em suas refinarias
e plataformas, a preocupação da
petroleira é compreender qual será o reflexo
de cada uma dessas tecnologias nas
suas operações.
Desafios
A novas tecnologias têm ganhado espaço
justamente em um momento em que as empresas
buscam alternativas às tecnologias já estabelecidas,
para redução de custos e aumento da eficiência. Quando
aplicada a toda a cadeia de valor, essas tecnologias
digitais podem simplificar e sincronizar processos e
acelerar a tomada de decisão.
O mesmo vale, contudo, para as ameaças – entre
elas, a vulnerabilidade a ataques cibernéticos e o desemprego.
A medida que mais equipamentos e processos
são interligados e mais dados são armazenados
na nuvem, a infraestrutura está cada vez
mais suscetível a hackers. Dois recentes
eventos exemplificam o tamanho da
vulnerabilidade: o vírus conhecido
como Shamoon limpou cerca de
três quartos dos computadores
da Saudi Aramco, em 2012. Foi
um dos maiores ataques cibernéticos
corporativos da história. As
empresas passaram a dedicar mais
recursos para resguardar seus dados
e operações. No final do ano passado,
um corte no fornecimento de energia
em Kiev, na Ucrânia, foi atribuído a um ciberataque.
A mãe das dúvidas, no entanto, diz
respeito às mudanças que essa disrupção
digital trará ao mercado de trabalho. A
temática já foi discutida até no Fórum Econômico Global
e é pauta de estudos do Banco Mundial. Há quem
aposte que softwares e robôs poderão substituir
25% dos trabalhadores até 2025. É
certo que máquinas desempenham
muitas tarefas de forma mais dinâmica
e produtiva, e suportam condições
insalubres ao ser humano.
Também é certo que a tecnologia
criará vagas na área de computação
e uma maior interação entre
homens e máquinas. Ainda assim,
dificilmente o saldo será positivo.
A indústria do petróleo e gás
ainda está aprendendo com as primeiras
experiências. Técnicos, executivos e
acionistas esperam que esses resultados
se materializem. De preferência antes
da próxima onda disruptiva. “Por mais
que haja dúvidas sobre como a coisa vai
acontecer, na verdade é um processo irreversível.
E o que temos que fazer é a coisa da melhor
maneira possível”, finaliza Rubião. |
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