Os reservatórios do pré-sal, que já representam 47% do
petróleo produzido no Brasil e representarão ainda mais nos
próximos anos, são um desafi o para as operadoras – mas
também uma oportunidade para pesquisadores. Atravessar 2
mil metros de lâmina d’água e 5 mil metros de rochas e sal
para retirar esse petróleo tem exigido formulações químicas
de alta performance – que tenham a capacidade de preservar
suas propriedades até chegarem ao reservatório.
“O pré-sal exige algumas adequações, tanto do produto
quanto da formulação. Os fl uidos devem ter a capacidade de
performar diante das variações de pressão e temperatura da
lâmina d’água e em contato com o óleo”, ressalta o gerente de
P&D de Petróleo e Gás da Oxiteno, Guilherme Fonseca.
Dois anos atrás a empresa decidiu disputar esse mercado
de fl uidos químicos, dominado por multinacionais – algumas
delas com produção local. Reuniu pesquisadores e equipou
seu Centro de P&D para produzir os intermediários que são
utilizados na formulação de fl uidos de perfuração, desemulsifi
cantes e anticorrosivos. O destaque é um equipamento que
permite simular as variações de temperatura e pressão que os
fl uidos encontrarão no caminho até o reservatório.
As maiores apostas das empresas que atuam nessa área são
os anticorrosivos, que permitem lidar com os altos teores de
CO2 e H2S, e os desemulsifi cantes, que auxiliam a separar o
óleo da água – mesmo que a demanda por esses produtos seja
pequena nos primeiros anos de produção, ela deverá crescer
signifi cativamente quando a extração nos poços do pré-sal
exigir injeção de água. Há também boas perspectivas para os
fl uidos de perfuração de alta performance – que dependem diretamente
da atividade exploratória, ainda retraída com o fim
dos programas exploratórios e a queda dos preços do petróleo.
A consultoria Freedonia Group projeta um crescimento de
4,9% ao ano na demanda de produtos químicos no Brasil, para
algo em torno de US$ 840 milhões, até 2019, impulsionado pelas
atividades no pré-sal – onde há maior potencial imediato de
geração de fl uxo de caixa. O limite pode ser justamente a capacidade
de execução dos investimentos previstos pela Petrobras
e outras operadoras. Para o mercado global a Freedonia aposta
em um crescimento de 6% ao ano até 2019, quando deve atingir
US$ 33 bilhões, puxado pelos fl uidos de perfuração avançados
e químicos para estimulação de poços – no curto prazo
os preços do petróleo devem favorecer o desenvolvimento de
fl uidos de perfuração de alto desempenho e fl uidos de estimulação
utilizados para a exploração de áreas não convencionais.
Em qualquer pesquisa, o desafi o é reproduzir o cenário em
laboratório – e depois provar que aquele produto irá repetir no
campo o mesmo comportamento. A concepção de formulações
customizadas que viabilizem o investimento tem por base a
profunda compreensão da química e da interação das moléculas
– no pré-sal, a alta pressão e alta temperatura exigem ajuste
não só das ferramentas, mas também dos fl uidos utilizados na
perfuração e na cimentação do poço. O rendimento da perfuração
tem relação direta com o ajuste do fl uido à formação. Por
serem mais estáveis a altas temperaturas, os fl uidos de perfuração
a base óleo são mais adequados para esse cenário. Mas eles
esbarram em restrições ambientais. Algumas matérias-primas
acabaram substituídas por outras com melhores índices de toxicidade
e biodegradabilidade. O custo superior, no entanto, é
um limite para os fl uidos a base de água ou renováveis.
Um dos capítulos do Estudo do Potencial de Diversifi cação da Industria Química Brasileira, elaborado pela Bain e
pela GasEnergy dois anos atrás, avaliou a oportunidade de
produzir localmente fl uidos de perfuração de base oleoquímica
– para aproveitar a disponibilidade de óleos de soja e palma.
Sua viabilidade dependeria diretamente de ajustes fi scais
e tributários. Outra rota que ainda precisa se provar viável é
a utilização de nanopartículas tanto na perfuração como na
recuperação avançada de petróleo. Um projeto de pesquisa
que uniu a PUC-Rio, a Universidade de São Paulo - USP e a
Norwegian University of Science and Technology - NTNU
conseguiu provar em laboratório uma nanoestrutura de laponita,
uma argila sintética, para estabilizar emulsões – falta
agora provar sua efi cácia em aplicações reais.
Nessa cadeia, há posições bem distintas, com empresas
que fabricam os fl uidos base e prestadoras de serviço que atuam
na formulação e aplicação. A Oxiteno faz parte do primeiro
grupo. No Centro de P&D, a missão é encontrar a molécula
adequada para a composição dos fl uidos – na formulação dos
desemulsifi cantes, por exemplo, os pesquisadores avaliam a
funcionalidade delas diante de diferentes tipos de emulsão
óleo-água e identifi cam quais terão melhor desempenho. Parte
das pesquisas, principalmente as voltadas a linha de estimulação,
deverá ser feita no novo laboratório da empresa nos
EUA. “Águas ultraprofundas, shale gas e shale oil e poços
maduros são os cenários que mais demandam tecnologia da
parte química. Então o desenvolvimento tende a se enquadrar
em um desses três cenários”, explica Guilherme.
Os desemulsifi cantes, fl uidos de perfuração e completação
e inibidores de corrosão são formulados com moléculas que
tenham propriedades para interagir com o petróleo e outras
coadjuvantes com propriedades específi cas, e compatíveis
entre si. Cada fórmula reagirá melhor em um reservatório específi
co. Em todos os casos, ensaios sempre serão necessários
para selecionar o produto químico mais adequado e otimizar
as condições de sua aplicação.
As novas formulações já têm atendido ao desafi o das altas
pressões e temperaturas – e também a corrosão ácida causada
pelo CO2 e H2S. A corrida, no entanto, ainda está aberta para
o desenvolvimento produtos ainda mais efi cientes. “Sempre
vai haver espaço para inovações, principalmente em se tratando
de problemas tão complexos como os relacionados às
perfurações no pré-sal”, afi rma a professora Regina Sandra
Veiga Nascimento, do Instituto de Química da UFRJ.
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Start up |
Simulação fluidodinâmica para entender acidificação em carbonatos |
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Rodrigo (à dir.): simulador customizado para a
Petrobras |
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O modesto número
de amostras
de reservatórios
carbonáticos, mais
um empecilho para
apontar o fl uido
mais adequado
para a estimulação
de poços, despontou
como oportunidade
para a
Wikki Brasil, uma
empresa de engenharia especializada em simulação fl uidodinâmica
computacional incubada na Coppe/UFRJ. Seus pesquisadores
desenvolveram o reactiveRhoPorousPimpleFoam – um
simulador de acidifi cação em amostras de rocha para analisar
o comportamento de um fl uido de estimulação ao ser bombeado
através de uma amostra do carbonato nas condições do
reservatório. “Com o simulador entregamos a não dependência
de amostras para a Petrobras continuar suas análises. O resultado
fi nal, através de diversas simulações, é o entendimento
do comportamento da iteração entre ácido e rocha para ajudar
a defi nir a técnica de estimulação adequada”, explica o engenheiro
Rodrigo Dias, sócio administrador da Wikki.
Acidifi cação – a injeção de ácido na rocha para a retirada
do dano e conexão com o reservatório através de canais de
alta condutividade – tem sido a técnica mais usada para estimular
os poços do pré-sal. A metodologia de acidifi cação em
amostras de carbonatos é desenvolvida em algumas universidades
e prestadoras de serviço – no Centro de Pesquisas da
Petrobras, os experimentos têm como objetivo compreender
o comportamento de um fl uido de estimulação quando bombeado
através de uma amostra. O grupo de estimulação de
poços da companhia já utiliza o simulador – que é o resultado
da linha de pesquisa conjunta entre engenheiros da própria
Petrobras e da Wikki Brasil. O modelo por trás do simulador
é conhecido na literatura. A diferença é o encapsulamento das
equações em um software customizado para a Petrobras.
A Wikki Brasil tem parceria com alguns professores da Coppe/
UFRJ e apoio da Wikki britânica – fundada pelo professor
Hrvoje Jasak, um dos principais especialistas em simulação fl uidodinâmica.
Hoje a empresa já tem entre seus clientes Furnas,
Embraer, Hidroenergia e cinco universidades. O reactiveRhoPorousPimpleFoam
é o primeiro produto na área de acidifi cação de
poços. A Wikki Brasil já trabalha no desenvolvimento da mesma
metodologia considerando ácidos divergentes. E também para
adaptar o simulador para a escala de poço, entregando um produto
que considera o processo de acidifi cação com menos hipóteses
em relação aos simuladores da área. |
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