De uma central, engenheiros da GE Digital conseguem
acompanhar o funcionamento de 52 turbomáquinas
instaladas em plataformas localizadas
na costa brasileira. Eles têm à disposição um sistema de
monitoramento e diagnóstico que recebe, a cada minuto,
informações – sobre o funcionamento de turbinas a gás,
compressores centrífugos, motores elétricos e caixas de
velocidades –, cruza com os padrões e mostra se algum
parâmetro está fora da faixa. Através de um portal, os
clientes também podem monitorar a condição de sua frota
em tempo real e prevenir falhas. Graças a tecnologia, a
forma de cuidar das instalações industriais está mudando.
Espalhar sensores pelos equipamentos e coletar dados é
apenas parte da estratégia. A outra parte consiste em analisar
toda a informação para saber o momento exato de intervir.
A vantagem imediata é a redução de gastos com inspeção
e reparos. “As empresas hoje investem em sistemas inteligentes
e monitoramento online, e os técnicos têm a noção
de que usar mais a cabeça signifi ca usar menos os braços e
mãos em momentos inoportunos”, ressalta o presidente da
Associação Brasileira de Manutenção - Abraman, Rogério
Arcuri Filho.
Não é uma empreitada simples. Prova disso é que a
norma ISO 55000, destinada à gestão de ativos, já tem três
anos, mas apenas uma empresa certifi cada no Brasil. A boa
notícia é que ainda há muito a ganhar com a adoção de
novas estratégias. A edição mais recente do Documento
Nacional da Abraman, publicada em 2015, apontou que
a manutenção preditiva (aquela baseada nas informações
coletadas da operação) representa apenas 15% das atividades
de manutenção no setor petroquímico – no setor de
petróleo ocupa ainda menos espaço: 5%. A manutenção
preventiva (feita em tempos pré-determinados) já responde
por 38% dos trabalhos – ou 32% na indústria do petróleo
– mas ainda está atrás da velha manutenção corretiva,
que representa 41% das atividades. Entre as empresas de
mineração e siderurgia, a manutenção preditiva constitui
56% das atividades.
Parte do desafi o é usar o que já está disponível – outro
dado revelado pelo Documento Nacional foi a idade média
do parque instalado: 23 anos. Mas a sua modernização,
por ora, não está nos planos. Manter essas instalações não
custa pouco – o orçamento de manutenção de uma refi naria
média chega a US$ 21,5 milhões por ano. As unidades
de melhor performance, por exemplo, gastam de US$ 7
a US$ 11 para cada mil barris de capacidade de destilação
equivalente. Para chegar a esse Maintenance Índex, a
consultoria Solomon Associates soma todos os gastos com
manutenção de rotina com o que uma parada geral representa
em um ano e divide pela capacidade de destilação
equivalente (que é presumida de acordo com a complexidade
da refi naria). Em uma central petroquímica, as atividades
de manutenção consomem de US$ 20 a US$ 25
por tonelada de etileno produzido – o que chega a
representar pouco mais de 5% do faturamento
das indústrias do setor no Brasil. |
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Outro índice estimado pela Solomon é
o chamado RAM Effectiveness – a efetividade
entre a disponibilidade da planta e os
gastos com manutenção. Para uma unidade
operacional a média atualmente está em
4,57% do custo de reposição da planta – o
plant replacement value é o valor que seria
necessário para substituir todos os ativos de
uma planta, estimado em US$ 263 milhões
para refinarias e petroquímicas.
O consultor Jeff Dudley ressalta que cada
aumento de 1% na disponibilidade mecânica pode se traduzir
em uma redução de 10% no custo de manutenção.
“Mas isso só vale para as empresas que melhoraram sua disponibilidade
mecânica acima de 95% e centraram foco na
confi abilidade e não nos custos”. Atualmente a disponibilidade
mecânica média de 140 refi narias
e petroquímicas acompanhadas pela Solomon
está em 94,1%. |
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É a escolha entre ter uma cultura de
confi abilidade de longo prazo ou focar na
geração de lucro no curto prazo. Em cada
opção há prós e contras e qualquer erro tem
a capacidade de tirar a empresa do competitivo
mercado global. A tarefa fi ca ainda mais
complicada quando a pressão está do lado das
receitas. “Em um ambiente de mercado aberto
e competição, o preço do produto determina
todos os custos de produção. Isso representou
uma mudança drástica nos orçamentos da manutenção”,
destaca o diretor comercial da Manserv, Ivan Cosenza.
A preocupação com o orçamento em tempos de escassez
de recursos foi tema de uma das mesas redondas do
último congresso de manutenção e gestão de ativos, organizado
pela Abraman no fi nal do ano passado. Dela, a conclusão
que a ótima gestão dos
custos depende de um planejamento
bem feito. E que vale
mais a pena prevenir do que
remediar. Por anos, a cultura
da manutenção se baseou em
uma premissa de que o equipamento
falharia. |
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A contabilidade dos gastos
com a substituição do equipamento,
o tempo e o dinheiro
perdido com a planta parada e
até de questões relacionadas à
segurança operacional foi o principal impulso às técnicas
que têm capacidade de reduzir períodos de parada não planejada.
Manter as condições operacionais dentro dos
limites é uma das categorias. Isso reduz o desgaste
dos equipamentos e os gastos com reparos.
Cosenza, um dos participantes da mesa redonda,
ressalta que não há como reduzir custos
sem um bom planejamento e sem gestão das
perdas – vazamentos, de combustíveis ou de
água tratada, é algo às vezes negligenciado
pelos gestores. Há também o tempo ocioso do
operador, aguardando equipamento ou liberação
da área.
Usar de maneira mais inteligente as informações
é também uma forma de adequar
o orçamento. Esses dados ajudam a apontar
de forma clara as principais carências e medir
seu desempenho. A última parada da Unidade de Destilação
Atmosférica da Refinaria Getúlio Vargas - Repar
foi feita em 19 dias – quase metade do tempo gasto em
uma operação similar. O ganho é resultado direto da
adoção da análise estatística de falhas.
Com máquinas assumindo cada vez mais atividades
até então exclusivas dos seres humanos,
a rotina da manutenção muda profundamente.
Resta a pergunta: o técnico de manutenção
irá desaparecer? Ninguém se arrisca a prever
quando não haverá mais trabalhadores se
deslocando pela planta para reparar um equipamento
quebrado. É certo que, com o avanço
da automação, muitas atividades serão superadas.
Softwares já desempenham automaticamente a
confi guração de instrumentos, e podem até dirigir
um carro. Mas também é certo afi rmar que
outras habilidades ganharão mais importância
– principalmente aquelas ligadas a capacidade de interpretar
dados e solucionar problemas. Há quem aposte numa
complementariedade entre máquinas e seres humanos – seja
com a maior adoção de sistemas para gerenciamento de ativos,
seja com os wearable devices, aqueles dispositivos que
podem fazer parte do uniforme do técnico.
“O paradigma segundo o
qual o técnico de manutenção
só atua quando há algo para
consertar praticamente não
existe mais. Enquanto houver
produção, o técnico será necessário,
mesmo que seja para dar
manutenção nos robôs”, ressalta
Rogério Arcuri Filho.
Nesse tema, a única certeza
é que o técnico de manutenção
terá que se adaptar aos novos
tempos. |
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