A queda nas cotações do barril de petróleo – que no início
do ano desceram abaixo dos US$ 30 nas bolsas
de Londres e de Nova York – forçou um corte geral
nos custos e o engavetamento dos projetos que não gerariam
caixa sufi ciente para remunerar o investimento. A precária situação
da Petrobras piorou o cenário no Brasil – enquanto os
gastos globais caíram 42% nos últimos dois anos, de acordo
com estimativa da Agência Internacional de Energia, o Brasil
viu o volume de investimentos recuar de US$ 43 bilhões em
2014 para cerca de US$ 20 bilhões este ano.
A boa notícia é que a pior fase fi cou para trás. Os preços
do barril se recuperaram para uma faixa próxima dos US$ 45 e
ninguém aposta em um novo recuo. “No curto prazo, os preços
do petróleo continuarão a ser desafi ados este ano e começarão
a se recuperar no início do próximo ano, mas ainda abaixo de
US$ 60 o barril. Isso por causa do excesso de oferta. No longo
prazo os preços do barril irão subir, mas não acima de US$ 100
o barril, com as mudanças no mix de energia”, avalia o consultor
da IHS Energy para Upstream, Bob Fryklund.
Pelos cálculos da Wood Mackenzie, US$ 50 são sufi cientes
para viabilizar o desenvolvimento de megaprojetos como
o pré-sal brasileiro. Isso está se tornando possível porque disciplina
de custos se tornou um mantra do setor. Petroleiras e
fornecedores demitiram, simplifi caram estruturas e padronizaram
equipamentos, em um esforço para baratear a extração
de petróleo e gás. No mar do Norte, as empresas passaram a
compartilhar ativos. Com o redesenho do projeto de engenharia,
a BP conseguiu reduzir o orçamento do projeto de
Mad Dog, no Golfo do México, de US$ 20 bilhões para US$
9 bilhões. A Statoil seguiu a mesma receita e conseguiu reduzir
de US$ 70 para US$ 45 o breakeven da segunda fase do
campo de Peregrino, na Bacia de Campos.
No pré-sal a Petrobras já consegue perfurar um poço em
89 dias – seis anos atrás, demorava 310 dias. Com a redução
da necessidade de aço superduplex a companhia economizou
mais de R$ 660 milhões em 115 poços do pré-sal.
Agora pretende utilizar a quarta plataforma da área de Libra
para implementar um novo modelo de negócios para sistemas
submarinos, trazendo os fornecedores de equipamentos
para a fase de concepção do projeto. A meta é reduzir os
custos em cerca de 30% – com modifi cações nos arranjos
submarinhos em outros projetos já em andamento, a Petrobras
estima potencial de ganho de 15%.
O Brasil é apontado até pela Organização dos Países Exportadores
de Petróleo - Opep como o principal responsável
pelo aumento da produção fora do grupo. Um levantamento
elaborado pela consultoria GlobalData com 236 projetos
offshore programados para iniciar a etapa de desenvolvimento
até 2025, aponta que o Brasil será o destino de US$
116 bilhões – 13% do que as petroleiras irão investir no
período.
Apenas a área de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos,
tem uma reserva estimada em 12 bilhões a 14 bilhões de
barris, o que exigiria pelo menos uma dezena de plataformas.
Duas plataformas já estão programadas para a área – a
primeira para 2020 e a segunda para o ano seguinte.
“Temos que considerar que as empresas não trabalham
olhando a curva de preços futuros, até porque uma
área comprada hoje só vai produzir daqui a cinco ou até
dez anos. E hoje estamos em um período de incertezas. As
empresas que trabalham com preços mais otimistas, podem
achar um bom negócio investir nesse momento. Outra questão
é a recomposição do portfólio. E o pré-sal se apresenta
como uma possibilidade interessante para recompor portfólio”,
ressalta o professor Edmar de Almeida, da UFRJ.
Em março, o Conselho Nacional de Política Energética
publicou uma resolução que dá um prazo de 12 meses para
a retomada das operações em campos com produção paralisada,
ou a devolução da concessão. Esta é primeira medida
que tem o objetivo de destravar investimentos nesse setor.
Outra é a retomada das rodadas de licitação de blocos exploratórios.
Nos últimos sete anos, o Brasil ofertou somente
745 blocos para exploração, em três rodadas. A queda da
atividade exploratória e das reservas provadas de petróleo e
gás observada nos últimos anos refl ete não apenas o recuo
dos preços do petróleo e a situação da Petrobras, mas também
a ausência de ofertas de novos blocos.
Para 2017 o governo já fala em uma nova rodada de blocos
exploratórios. Há também o segundo leilão de partilha, com
áreas unitizáveis, e os campos marginais – dez serão ofertados
na 4ª Rodada de Licitações de Campos Marginais, além das
áreas em terra e águas rasas colocadas à venda pela Petrobras.
Nas mãos de empresas menores, eles têm mais agilidade para
mobilizar a cadeia de fornecedores. Mas é na revisão das regras
– com o fi m do operador único dos campos do pré-sal – que as
petroleiras creditam o maior potencial de gerar investimentos.
A avaliação no setor é que o Brasil tem excelentes recursos
e a Petrobras, depauperada pela venda de combustíveis
abaixo dos preços internacionais e pelos esquemas de corrupção
investigados pela Operação Lava Jato, já não tem
fôlego para operar todos os campos do pré-sal, como exige
a Lei de Partilha. A companhia só pretende retomar investimentos
em exploração quando reduzir seu endividamento
– que no fi nal do primeiro semestre somava R$ 398 bilhões.
Isso deve demorar pelo menos dois anos.
Com o cinto da Petrobras apertado, a produção de petróleo
no país dependerá da disposição das demais petroleiras.
“A pressão sobre o setor no Brasil criou uma mudança em
direção ao mercado mais livre e, portanto, surgiu uma nova
janela de oportunidade. Isso é orientado pelo avanço nas
mudanças das clausulas do pré-sal, que sinaliza algumas
oportunidades, e o plano de gestão do portfólio da Petrobras,
que focou na taxa de retorno”, fi naliza Bob Fryklund.
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