Na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, um
grupo de pesquisadores do Departamento de Engenharia
Química estuda a injeção de microemulsões e
nanoemulsões para aumento da recuperação em campos maduros.
A ideia surgiu a partir das pesquisas com surfactantes
e sistemas micro e nanoemulsionados – que têm ação superfi
cial e alta capacidade de solubilização. Em laboratório, os
testes têm apontado fatores de recuperação de 60% até 100%.
Na Universidade de Campinas, a pesquisa envolve a injeção
de polímeros – que tem como vantagem a antecipação da produção
e redução dos volumes de água e solução injetados. A
Statoil, parceira da Unicamp na pesquisa, planeja realizar um
projeto piloto com essa técnica no campo de Peregrino, na
Bacia de Campos.
Técnicas de recuperação avançada – ou recuperação terciária
– têm potencial para aumentar o fator de recuperação
dos reservatórios além dos percentuais obtidos com a injeção
de água. Via de regra, as técnicas de recuperação secundária
aumentam de 30% para 50% o volume de petróleo extraído
de um campo – em alguns casos extraordinários, a injeção de
água ou de gás pode chegar a 60%. As pesquisas mostrarão o
real potencial que cada técnica de recuperação avançada terá
para estender a vida útil de campos maduros.
A Petrobras adota essas técnicas de recuperação avançada
há mais de 30 anos – a empresa já experimentou a injeção de
polímeros e surfactantes, métodos microbiológicos, métodos
térmicos e injeção de gás miscível (hidrocarbonetos ou CO2).
A que está em operação a mais tempo e com maior número de
casos é a injeção de vapor em campos terrestres.
Na maioria dos campos, a opção é a injeção de água – que
já se provou ser o mais econômico em manter a pressão do
reservatório. Essa técnica de recuperação secundária é responsável
pelos fatores de recuperação esperados para os campos
de Roncador e Marlim, o segundo e o quinto de maior
produção do país. Também é utilizada nos principais campos
terrestres do país. Canto do Amaro, na Bacia Potiguar, possui
mais de mil poços e produz cerca de 15 mil barris por dia
– na última década a Petrobras investiu em injeção de água e
adensamento da malha do campo. Carmópolis também possui
mais de mil poços e produz atualmente 14,5 mil barris por
dia. Canto do Amaro produz há 30 anos e Carmópolis desde
1963. No campo de Estreito, também na Bacia Potiguar, a
Petrobras adota a injeção de vapor – considerando a área submetida,
o fator de recuperação sem esta tecnologia seria de 5
a 10 vezes menor.
Os maiores percentuais de recuperação são encontrados
nos campos de Lagoa Parda, na parte terrestre da Bacia do
Espírito Santo, que chega a 58,4% com a reinjeção da água
produzida, e Namorado, na Bacia de Campos, com 58,8% a
partir da injeção de água do mar.
Nem sempre esses processos convencionais apresentam
bons resultados. A água ou o gás injetados, além de tentar
manter a pressão do reservatório, empurram o óleo em direção
aos poços produtores e ocupam o seu espaço dentro
da rocha. Mas em reservatórios de óleo pesado, por exemplo,
a água injetada transpassa o óleo e retorna à plataforma.
Dependendo das características do campo, a razão água-óleo
torna a operação economicamente inviável. Nas técnicas de
recuperação avançada, o objetivo é alterar outras propriedades
– reduzir a viscosidade do óleo através da injeção de
vapor ou aumentar a viscosidade da água com a injeção de
polímeros, por exemplo.
O sucesso da aplicação dessas técnicas depende não só do
tipo de óleo armazenado, das propriedades reservatório, ou das
interações entre a rocha e os fl uidos. A localização do campo
– em terra ou em mar – a profundidade, temperatura e a pressão
do reservatório também interferem no resultado final.
O gerente de Soluções Tecnológicas da Halliburton, Mauro
Nunes, adverte que todas as informações sobre o comportamento
do reservatório ou do campo precisam ser coletadas
– e através de várias técnicas, qualquer alteração para melhorar
a produção, aumentar o fator de recuperação e reduzir
os custos operacionais podem ser alcançadas. “O método de
recuperação terciária é necessário na maior parte dos reservatórios,
mas, por vezes, para melhorar a efi ciência e o deslocamento
do varrido, pode ser economicamente inviável”.
Algumas técnicas foram desenvolvidas para contornar o
problema. A Prevent Production of Unwanted Fluids - AICD
tem por objetivo melhorar o desempenho e efi ciência da completação
através do equilíbrio da vazão de água e da produção
do poço, e a Offshore Water Treatment Applications - Sea-
Wave trabalha com o processo de eletrocoagulação e fl otação
induzida para quebrar as emulsões de óleo e água de modo a
obter os parâmetros para descarte. “Para a gestão apropriada
do reservatório, quando a manutenção da pressão é necessária
e heterogeneidade e permeabilidade estão presentes, a tecnologia
de Completação Inteligente - CI pode fazer a distribuição
adequada de líquido injetado (água, gás ou ambos) nas
respectivas zonas de interesse”.
Este processo pode ser extremamente desafi ador caso se
deseje a distribuição da quantidade adequada de água em
cada zona, evitando que uma quantidade signifi cativa de óleo
possa ser deixada no reservatório. “Um perfi l adequado de
injeção e melhor efi ciência de varredura são os principais
desafi os ao tentar alcançar fatores de recuperação razoáveis,
com a existência de estruturas de alta permeabilidade, como
fi ssuras, fraturas e zonas erodidas-out, o que tende a diminuir
a efi ciência de varredura de qualquer operação de injeção de
água, gás ou polímero”.
No Brasil, essa tecnologia de Completação Inteligente já
foi aplicada em mais de 50 poços. As técnicas de AICD e Seawave
têm menos casos – a primeira foi aplicada em quatro
poços, enquanto a Seawave tem sete unidades em trabalho.
Nunes também destaca a Digital Oilfi eld – que integra dados
de várias fontes em uma única plataforma – que implantada
pela primeira vez na Bacia de Campos e hoje já conta com
dez iniciativas. “O objetivo é, holisticamente, aumentar a eficiência operacional, a produção e o fator de recuperação, com
foco sempre no controle de custos”.
Um novo campo em cada ponto percentual
Os campos maduros representam cerca de 40% da produção
da Petrobras. Aumentar um ponto percentual o fator de recuperação
em todos eles equivale a descobrir um campo de petróleo
offshore de grande porte. No entanto, esta não é uma tarefa trivial.
A escolha da técnica mais adequada ao reservatório demanda
um grande esforço de pesquisa tecnológica e de gestão.
Na costa da Noruega a Statoil conseguiu elevar para mais
de 60% o fator de recuperação nos campos de Statfjord e Oseberg.
Algumas das técnicas utilizadas incluem poços avançados
(multilaterais) e infi ll, satélites submarinos, sísmica 4D e
injeção de água e gás. Em 30 anos, Statfjord já produziu 4,7
bilhões de barris de petróleo – entre 2012 e 2015, sua produção
média aumentou, e o campo tem produção esperada até
2025; 1% de melhoria na recuperação representa mais de 60
milhões de barris de óleo equivalente.
Em comparação com os campos noruegueses, os campos
brasileiros são bem mais novos – a estratégia, nesse caso, é
manter o foco em Improved Oil Recovery - IOR, ou recuperação
melhorada. “Muito do aumento de recuperação vem
de técnicas relacionadas a perfuração, completação de poço
e também do gerenciamento do reservatório (recuperação
secundária). Técnicas de perfuração, como poços multilaterais,
infi ll e poços de alcance estendido (ERW), bem como
operações de perfuração customizadas e uso da injeção (água
/ gás) desempenham um papel crucial na obtenção de óleo
adicional”, afi rma a gerente de reservatório da Statoil, Maria
Clara Costa.
No campo de Peregrino, na Bacia de Campos, a Statoil já
adotou algumas das técnicas de IOR utilizadas na Noruega
– três poços multi-laterais - MLT foram completados e estão
em produção, dispositivos de controle de fl uxo (ICD/AICD)
estão sendo usados em vários poços, e desde 2014 a injeção
de água nas camadas de reservatório de óleo tem um projeto
piloto em funcionamento. A aquisição de dados sísmicos de
banda larga está sendo utilizada para melhorar o planejamento
de poços, previsão de ocorrência de reservatório e geosteering.
Em Peregrino foi perfurado o mais longo poço de
alcance estendido do Brasil, com um afastamento horizontal
de 8.080 metros. “Há uma gama de possibilidades para explorar
técnicas de IOR no país. Algumas das particularidades de
cada campo podem não ser aplicáveis a outros, mas em geral
as técnicas podem ser adaptadas para cada reservatório ou
instalação”, ressalta Maria Clara.
O Centro de Pesquisa da Statoil no Brasil mantém parcerias
com a Unicamp e com a PUC-Rio em cinco projetos que
têm como objeto de pesquisa o uso a injeção de polímeros e o
desempenho de bombas centrífugas (elétricas) submersíveis
na presença de emulsões.
“As principais vantagens associadas a um bom projeto de
injeção de polímeros referem-se especialmente à antecipação
da produção e redução dos volumes de água/solução polimérica injetados e produzidos”, explica a professora Rosângela
Barros Zanoni Lopes Moreno, do Departamento de Engenharia
do Petróleo da Unicamp.
A injeção de polímeros para a recuperação de petróleo é
aplicada principalmente na China e no Canadá. No Brasil,
além de Peregrino, experiências já foram realizadas nos campos
de Canto do Amaro, Carmopolis, Buracica, Frade e Papa-
Terra.
O grupo de pesquisa coordenado pela professora Rosângela
desenvolve dois projetos: Métodos de recuperação de
campos em águas profundas - injeção de polímero e Modelagem
de reservatório para injeção de polímeros - simulação de
pequena escala. O primeiro é voltado à caracterização do processo
em laboratório – as propriedades da rocha de teste e dos
fl uidos de reservatório são analisadas e o fl uido a ser injetado
é projetado para que a razão de viscosidade alvo seja obtida. O
estudo dos fenômenos associados ao escoamento de polímero
através do meio poroso subsidia o time de modelagem do
segundo projeto, que busca representar os fenômenos físicos
associados à esse método de recuperação avançada.
Nanotecnologia
Uma grande esperança para aumentar o fator de recuperação
reside na nanotecnologia. Isso porque é nas redes de poros
de escala nanométrica que reside uma quantidade signifi cativa
do petróleo.
No Laboratório de Nanoespectroscopia da UFMG, os pesquisadores
irão utilizar a nanotecnologia para aumentar o volume
de produção dos campos de petróleo – a Universidade
fechou um convênio com a IBM Brasil, que já desenvolve
estudos de nanociência e nanotecnologia e modelos computacionais
focados na interação de materiais líquidos e sólidos.
“Dentro desta colaboração, os pesquisadores da IBM e da
UFMG vão desenvolver e aplicar em conjunto novos métodos
de investigação experimental que envolvem instrumentação
avançada científi ca, dispositivos integrados e técnicas de medição
altamente sensíveis. Esta combinação permite investigar
pela primeira vez, os processos físicos e químicos fundamentais
que determinam como os líquidos são ligados a superfícies
sólidas em nanoescala”, conta o gerente de pesquisa na
área de Ciência & Tecnologia para Aplicações Industriais do
Laboratório de Pesquisa da IBM Brasil, Mathias Steiner.
Um dos projetos de pesquisa da IBM, relacionado a interação
da superfície com líquidos, já enfatizou a importância
da abordagem da neurociência na recuperação de petróleo
– no início do ano a empresa teve concedida uma patente nos
EUA. Esse conhecimento se junta agora à experiência em instrumentação
científi ca do Laboratório de Nanoespectroscopia
para construção de equipamentos e métodos que viabilizem
a pesquisa por novos materiais, conceitos de dispositivos e
métodos de medição em nanoescala. Em última análise, a
indústria irá se benefi ciar desta pesquisa por meio de novas
tecnologias de simulação e materiais funcionais que permitem
estratégias específi cas para extrair mais petróleo de cada
reservatório.
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