Pequenas modificações fizeram a diferença na
construção do Complexo Acrílico da Basf, no
polo petroquímico de Camaçari / BA. Furos
oblongos deram flexibilidade à estrutura metálica, plataformas
elevatórias que alcançavam até 42 metros tomaram
o lugar de andaimes e telas preveniram que a
queda de instrumentos causasse acidentes. Obra é sempre
uma oportunidade para adotar novas tecnologias e
novas metodologias de construtibilidade. O complexo
da Basf tinha ainda a vantagem de ser uma réplica de
outra planta, erguida um ano antes na China. A WorleyParsons
– responsável pelo EPCM – já sabia quais
eram os caminhos críticos e as rotas de correção que
deveriam ser buscadas. E o time de engenheiros teve o
reforço de 40 alemães e chineses que haviam trabalhado
na construção do complexo chinês.
A exemplo da WorleyParsons, outras empresas de engenharia
deverão aproveitar os contratos para semear novas
práticas no país. A espanhola Duro Felguera construirá
duas usinas termelétricas para a Bolognesi. A americana
Fluor, em parceria com a Construcap, está à frente do EPC
do gasoduto e do sistema de coleta de gás da PGN no campo
de Gavião Branco. “Essas empresas trazem bagagem
internacional e podem agregar tecnologias como os softwares
3D e 4D e best practices vividas em outros projetos”,
avalia o presidente da Niplan Engenharia, Nelson
Branco Marchetti.
Não se trata da decadência da engenharia nacional
ou de uma resposta à carência de recursos internos – ao
contrário de países do Oriente Médio e da África, o Brasil
não depende de know how importado para tocar seus
projetos. A associação fi rmada com as empresas nacionais
deixa isso evidente. A Niplan, especializada em montagem
eletromecânica, prestou quase 12 milhões das 17 milhões
de homens hora consumidas na montagem do Complexo
Acrílico da Basf.
O foco da Fluor, que formou com a Construcap a joint
venture CFPS, é o conceito de engenharia, compras, fabricação
e construção - EPFC – que inclui a fabricação no
modelo EPC. “Ao gerir todo o processo para os clientes,
podemos aumentar a produtividade, concentrando-nos
na construção desde o primeiro dia e projetando melhores
conceitos de construção. Melhores conceitos – como
scaffolding-into-3D, OptimEyes e 3rd Gen Modular
Execution (tecnologias de automação e modelagem 3D
interativos) – permitem-nos reduzir o custo das instalações, quebrando paradigmas e melhorando a segurança,
a saúde e a pegada ambiental, bem como a programação de previsibilidade”, afi rma o vice-presidente de
Vendas da Fluor para a America Latina, Andrés
Beran.
Entre as empresas brasileiras, a novidade é
o uso do Building Information Modeling - BIM
– sistema de gerenciamento e informação integrado.
As equipes de planejamento são abastecidas
automaticamente com informações do canteiro,
antecipando a tomada de decisão, com o objetivo
de reduzir os impactos nos cronogramas de construção.
Para o presidente do CE-EPC, Cicero Facciolla,
a chegada de empresas globais acrescenta
tecnologias, metodologias e know how. Mas a experiência
das empresas nacionais é uma vantagem competitiva
que não pode ser ignorada. Em um modelo ideal, a
empresa nacional se posiciona como líder da empreitada,
para agilizar a transferência e compartilhamento do conhecimento,
encurtar a curva de aprendizado e reduzir os riscos
da adaptação. “O importante é defi nir regras claras e isonomia
em todos os processos envolvidos. A indústria local
tem um know-how importante e difi cilmente este
ativo vai sofrer uma erosão tão rapidamente”.
Quando vai retomar?
Especialistas consultados por Petro & Química são unânimes em afi rmar: a engenharia industrial
atravessa um momento de transição. E a
Operação Lava Jato, que investiga a corrupção na
Petrobras, nem é o maior problema – fosse apenas
esse, outras empresas já teriam ocupado o espaço
das empreiteiras que estão na lista negra da Petrobras.
Nos últimos anos, os grandes projetos têm
se tornado mais raros. Desde que contratou a
construção do gasoduto Rota 3, em setembro
do ano passado, a Petrobras não encomenda um
projeto vultoso. Para os projetos de exploração
e produção, ela tem optado por afretar plataformas.
As Refinarias Premium foram canceladas
e a construção do Comperj e da UFN V suspensas.
A escassez de projetos já fez a engenharia nacional
“virar suco” nas décadas de 80 e 90. Muitas
empresas encerraram suas atividades e os recémformados
tiveram que buscar emprego no mercado
fi nanceiro. Há duas décadas, quase ninguém confiaria um projeto de grande porte a uma empresa
nacional. A retomada das obras de infraestrutura e
energia inverteu esse problema – e sobrou vaga de emprego
para engenheiro.
Mercado aquecido é um campo fértil para o surgimento
de empresas. A Chemtech, criada por três engenheiros
egressos do Instituto Militar de Engenharia e da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, foi impulsionada pelos projetos
da Petrobras – em parceria com o Centro de Pesquisas
da petroleira e com a Aker, projetou plataformas
inteiras. A Radix já nasceu tendo a Petrobras como
seu principal cliente, e com a desaceleração, passou
a desenvolver projetos para petroleiras estrangeiras,
como a ExxonMobil, e para empresas da
área de alimentos e de saúde. “Os desafi os tecnológicos
foram o grande fator a favor do nascimento
e do crescimento da Chemtech e da Radix.
Precisamos ter empresas que consigam resolver
os problemas brasileiros da melhor forma possível
para o Brasil e para a sua realidade, gerando empregos
de qualidade aqui e desenvolvendo nossa
sociedade como um todo”, explica o presidente da
Radix, Luiz Rubião. |