A experiência da Petrobras com injeção alternada de água
e gás ainda se limita a um único projeto, mas já assegurou um
prêmio – o sistema instalado no campo de Lula, no pré-sal
da Bacia de Santos, está na lista das inovações que renderam
à Petrobras o OTC Distinguished Achievement Award for
Companies deste ano.
O método, conhecido pela sua sigla – de Water Alternating
Gas – alterna a injeção de água e gás para aumentar o fator de
recuperação – via de regra, a água percorre o mesmo caminho
do gás dentro do reservatório, deslocando mais petróleo. O
gás injetado pode ou não ser miscível com os fl uidos do reservatório
– isso depende não só do tipo de gás, seja hidrocarboneto
ou CO2, mas também das condições termodinâmicas.
A técnica inicialmente desenvolvida para campos de terra, é
frequentemente adotada em campos maduros no Texas e em
águas rasas do Mar do Norte. O projeto da Petrobras é o primeiro
aplicado em lâminas d’água superiores a 2.000 metros,
empregando poços satélites.
Seu custo operacional é alto por conta do gás, que representa
uma grande fração do custo total do empreendimento
– sem contar nos custos dos equipamentos de compressão e
injeção do gás, sobretudo para o CO2, que tem grande capacidade
de corrosão. “No Brasil ainda tem sido pouco aplicado,
sobretudo pelo fato de sua viabilidade econômica, podendo
ser uma boa alternativa para os campos do pré-sal brasileiro
que apresentam características apropriadas para a sua aplica-
ção”, avalia o professor Wilson da Mata, do Departamento
de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Um estudo publicado em 2001 por dois pesquisadores da
Universidade Técnica da Dinamarca e um da Norsk Hydro
calculou entre 5% e 10% os ganhos com o método Wag – para
chegar a esse índice, Jes Reimer Christensen, Erling Halfdan
Stenby e Arne Skauge revisaram dados de 60 campos localizados
em terra ou em lâminas d´água de até 500 metros. O
índice é ratifi cado pela Statoil – que adota o método extensivamente
em diversos campos.
Ainda é cedo para determinar o potencial nos campos do
pré-sal – mas a expectativa é mais modesta. A principal diferença
está na relação entre as vazões de gás e água injetados:
há uma relação ótima de 1:1 entre as vazões, nas condições
de pressão e temperatura do reservatório para maximizar a
recuperação. No Mar do Norte, onde importar gás de áreas
adjacentes é relativamente fácil, injeta-se mais gás e menos
água no verão – no inverno, quando há maior consumo de gás
para geração de energia elétrica, essa relação se inverte. No
pré-sal, não há tanto gás disponível para reinjeção, reduzindo
a relação água/gás. Além disso, os campos estão localizados
em águas ultraprofundas, com grande espaçamento entre po-
ços, reservatórios carbonáticos heterogêneos.
Para auxiliar a avaliação do método, a Petrobras também
instalou em seu Centro de Pesquisas - Cenpes um laboratório
que reproduz as condições do reservatório quando submetido
a injeção alternada de água e gás.
“A injeção convencional de água ou de gás imiscível
visa à manutenção da pressão do reservatório, enquanto que
na injeção alternada de água e gás, busca-se aliar as vantagens
de cada uma das técnicas. Nos últimos anos a injeção
alternada de água e CO2 tornou-se relevante, uma vez que
o pré-sal caracteriza-se por um alto teor deste gás e que por
questões ambientais precisa ser sequestrado”, explica a professora
Rosângela Barros Zanoni Lopes Moreno, do Departamento
de Engenharia do Petróleo da Unicamp.
Made in Brazil
Rosangela coordena dois projetos de pesquisa voltados à
injeção de polímeros, abrangendo modelagem numérica e experimentos
laboratoriais. Os dois são conduzidos em parceria
com a Statoil – a petroleira estuda a injeção de polímeros no
campo de Peregrino, na Bacia de Campos, que contém petróleo
pesado. Um projeto piloto desenvolvido no Research
Center Rio – o centro de pesquisas da Statoil no Brasil – está
em fase de avaliação. Simulações preliminares indicaram um
aumento do fator de recuperação.
“A tecnologia de injeção de polímeros está em desenvolvimento
na Statoil. A injeção de polímeros é dependente das
características principais do reservatório, como salinidade e
temperatura. Apesar deste projeto estar ligado diretamente
às condições de Peregrino, a implementação deste projeto no
Brasil aumentará a maturidade tecnológica da Statoil”, afi rma
o chefe do Research Center Rio, Fabiano Lobato.
Nos campos da plataforma continental norueguesa, a taxa
de recuperação média da Statoil – com o uso de outros mé-
todos de recuperação avançada – está em torno de 50%. O
método de injeção alternada de água e gás tem sido extensivamente
adotado em vários campos, com um fator potencial
mencionado na literatura entre 5% e 10% quando comparado
com injeção de água.
A BG está fi nanciando a montagem e a aquisição dos equipamentos
– e também a formação dos pesquisadores que vão
atuar no Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo
- L-RAP da Coppe/UFRJ. O objetivo é o desenvolvimento de
competências em reservatórios carbonáticos, com o objetivo
de otimizar a recuperação avançada nos reservatórios do prè-sal – com foco em injeção alternada de água e gás, injeção de
água de baixa salinidade e smart water.
O laboratório deve estar em plena operação em setembro
de 2016 – os dois primeiros equipamentos do L-RAP, para
análises das interações fl uido-fl uido e rocha-fl uido, já estão
instalados e as primeiras atividades estão previstas para
este ano, incluindo estudos que envolvem injeção de água
de baixa salinidade. A partir do próximo ano, terão início os
testes de deslocamento em meio poroso consolidado – core-
fl ooding.
A empresa também fi nancia a formação de alunos da
UFRJ – através do programa Ciências Sem Fronteiras – em
intercâmbio com a Universidade de Herriot-Watt, na Escócia,
a fi m de melhor compreenderem os mecanismos de recuperação
avançada. Com a Unicamp, há duas iniciativas – uma
integrando sísmica 4D e ajuste de histórico e outra que combina
P&D com um programa de formação em gerenciamento
de incertezas para a
modelagem de técnicas
de recuperação
avançada, realizado
em parceria com
a Universidade de
Durham, na Inglaterra
A maior expertise da Petrobras nessa temática é a injeção de água offshore em campos na Bacia de Campos. O processo iniciou-se nos anos 80 no campo de Namorado, avan- çou nos campos de Marlim, Marlim Sul e Roncador, e hoje é a principal técnica de recuperação utilizada pela companhia. Entre as técnicas de recuperação avançada adotadas pela Petrobras, as principais são a injeção de CO2 , injeção alternada de água e gás, o uso de sísmica 4D para monitoramento dos reservatórios e uso de completação inteligente em poços. Nos campos terrestres, adota a injeção de vapor para reservatórios portadores de óleos pesados.
“O WAG é aplicado como método de recuperação avan- çada principalmente para óleos leves, como os do pré-sal brasileiro. Os óleos pesados, por outro lado, apresentam boas respostas aos métodos térmicos que visam, pelo aumento da temperatura do reservatório, a diminuição da viscosidade do óleo e, consequentemente, a melhoria da razão de mobilidade em relação à água sempre existente no meio poroso”, ressalta o professor Wilson da Mata.
A aposta nas tecnologias de aumento da recuperação nos reservatórios é uma alternativa ao acesso às novas reservas. Para a Petrobras, a produção proveniente de campos maduros – que em março girava em 756 mil barris por dia – dá uma boa medida da importância de cada ponto percentual no fator de recuperação desses campos representa na produção total.
Flávio Bosco |