O consumo de biocombustíveis deverá triplicar nos próximos 20 anos – e somar 4,1 milhões de barris de petróleo equivalente por dia em 2035. Em 2011, o mundo consumiu 1,3 milhão de barris de petróleo equivalente por dia. O etanol representa aproximadamente 75% desse volume. As projeções foram apresentadas pelo chefe da Divisão de Indústria de Petróleo e Mercados da Agência Internacional de Energia, Antoine Halff, no Seminário Internacional de Biocombustíveis – evento promovido em São Paulo pelo Instituto Brasileiro do Petróleo e pelo Conselho Mundial de Petróleo.
As projeções da IEA são otimistas, apesar da retração registrada desde 2008: o Brasil permanecerá como segundo maior produtor de etanol e terceiro produtor de biodiesel do mundo – com 1 milhão de barris de petróleo equivalente. “Ainda que a produção de etanol nos EUA seja maior, a indústria de biocombustíveis no Brasil é mais importante em termos de eficiência, inovação, dinamismo e controle das emissões de gases de efeito estufa”, ressaltou Halff.
A demanda será puxada principalmente pelo setor de transporte rodoviário – que deve elevar dos atuais 3% para 8% a participação dos biocombustíveis na matriz. Nos EUA, os biocombustíveis responderão por 15% do consumo de transportes, enquanto no Brasil atenderão 30% da demanda, e na Europa 12% – impulsionados pela regulação referente a adição na matriz energética. Os percentuais serão bastante sensíveis a legislação para a adoção dos biocombustíveis – a europeia Renewable Energy Directive e a americana RFS, ambas em fase de revisões. O Brasil retomou a adição de 25% de etanol na gasolina no ano passado, dois anos após reduzir para 20% o índice. “Ter uma visibilidade de longo prazo e clareza com relação às políticas além de 2020 é fundamental para atrair investimentos para a indústria. Precisamos mais do que metas para que essa indústria seja viável”.
Para Halff, os argumentos favoráveis aos biocombustíveis, relacionados à diversificação de fontes energéticas, continuam válidos. “Para desenvolver ainda mais essa indústria, precisamos ter uma previsibilidade de longo prazo, apoio para inovação em toda cadeia e alinhamento internacional de políticas”.
Adição
O Inmetro irá avaliar os efeitos do aumento do percentual de etanol anidro na gasolina. A proposta de aumentar a mistura, dos atuais 25% para 27,5%, foi contestada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Auto- motores - Anfavea – segundo a entidade, não seria possível elevar o percentual sem comprometer o desempenho dos veículos.
Os fabricantes de veículos também são contrários ao aumento do índice de biodiesel no diesel, de 5% para 7%. Mas nesse caso, o setor admitiu a realização de testes antes que a decisão seja tomada.
De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, em 2013 o etanol retomou o patamar de 41% do consumo de motores de ciclo Otto – em 2012 a participação do etanol havia caído para 36%.
Outra reivindicação dos produtores de etanol não deve acontecer no curto prazo: aumentar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - Cide sobre a gasolina. “Temos uma taxa de inflação ainda muito alta e uma preocupação enorme da sociedade com o aumento de preços”, justifica o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério, Ricardo Dornelles.
Pelas projeções da Agência Nacional do Petróleo, o crescimento de 4% na demanda de derivados do petróleo elevará as importações de gasolina – e o déficit da balança pode chegar a US$ 2,5 bilhões. Para a balança de diesel a estimativa é de um déficit de US$ 9 bilhões em 2014.
A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, lembrou que em 2013, quando o PIB cresceu 2,3%, a demanda por derivados do petróleo se expandiu 4,6%. “O Brasil é um país imenso, que tem uma frota gigantesca. Então o biocombustível é bem vindo”, finaliza Magda. |