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Edição 322 • 2010 |
Pelo ar em alto mar
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Plataformas de petróleo começam a adotar novas
tecnologias para transmissão de dados sem fio |
Flávio Bosco
Mesmo que de forma tímida,
as soluções wireless
começam a desembarcar
nas plataformas de petróleo. Em
águas nacionais, dados de automação
saem dos CLPs e chegam ao sistema
supervisório sem atravessar fio os em
pelo menos cinco plataformas da Petrobras. Na P-53, pela primeira vez
uma arquitetura foi baseada no padrão
IEEE 802.11g – Wi-Fi. Foi uma
sugestão da Siemens, fabricante dos
controladores programáveis - CLP instalados na plataforma.
Também é só – pelo menos por
enquanto. Diante de outros desafio os– principalmente da extração do petróleo
da camada pré-sal – a utilização
de instrumentos wireless ainda não
foi definida como prioridade pelos
engenheiros da companhia. Antes de
ser adotada nos novos projetos ou nas
modernizações das plataformas existentes,
a Petrobras precisa estar certa
da eficácia da tecnologia. E olha que,
quando o assunto é tecnologia, a companhia
só admite uma posição bastante
conservadora. “Uma plataforma de
petróleo não é um laboratório, para
ficar experimentando e arriscando
tecnologias que ainda não estão disseminadas”,
ressalta o engenheiro de
equipamentos da Petrobras, Nilson
Caetano da Silva Jr.
A comunicação sem fio já não é exatamente uma novidade – em todos
esses navios-plataformas do tipo
Floating Production Unit - FPU que
utilizam os sistemas turret para ancoragem
e conexão das linhas com o
fundo do mar, a troca de dados pode
ser feita através de radiolink.
Na P-53 a estratégia de aplicação
de rede sem fio foi desenhada ainda na
fase de detalhamento da plataforma –
embora desenhar um projeto para uma
unidade já em operação não seja uma
limitação, uma vez que qualquer plataforma
já traz alguma forma para captura
e envio de dados. Por dia, a unidade
instalada no campo de Marlim Leste,
na Bacia de Campos, produz 180 mil
barris diários, comprime 6 milhões
de m³ de gás e gera 92 megawatts de
energia elétrica. Seu turret, considerado
o maior do mundo, tem capacidade
para 75 risers – que interligam poços a
1080 metros de lâmina d’água.
Passados pouco mais de um ano do
início da operação, o sistema “funciona
a contento”, explica o engenheiro,
lembrando que itens como reclamações
e demanda de manutenção – que não
ocorreram desde a entrada em operação – são parâmetros utilizados para medir
a performance da solução, já que, em
cada plataforma, há uma composição
diferente para esse tipo de sistema.
Em suma, dois enlaces de rádio realizam
a comunicação entre os CLPs
redundantes do turret com os CLPs
redundantes do navio. Os outros dois
enlaces realizam a conexão dos CLPs
do turret com os servidores de dados
do sistema de operação e supervisão
da unidade de produção.
As informações de controle e intertravamento
que são trocadas entre
os sistemas de automação do navio
e do turret com o sistema supervisório
poderiam trafegar por um sistema
de rádio-enlace baseado no padrão
wi-fi em faixa de 2,4 GHz. Encontrar
CLPs com essa tecnologia não
era problema – já que a fornecedora
tinha disponível esse tipo de equipamento.
Diante de duas opções – o padrão
IEEE 802.11a e o padrão IEEE
802.11g – a escolhida foi a que apresentava
um leque maior de equipamentos.
Encontrar equipamentos
com a tecnologia wi-fi era mais fácil
e, por isso, mais barato. Outra característica sedutora do padrão wi-fi é a
manutenção do enlace, mesmo que
condições adversas provoquem a
redução da taxa de transferência de
dados.
O engenheiro destaca a atenção
dada ao critério de locação das antenas – com uma analise criteriosa
das estruturas e equipamentos que
podem interferir na transmissão dos
dados. Aplicar uma rede sem fio em
uma plataforma, embora possível,
demanda um levantamento de campo
bastante cuidadoso – principalmente
com relação aos níveis adequados das
taxas de transmissão.
“Na montagem
da solução apresentada, tínhamos a
preocupação com as interferências
e atenuações sobre os pontos localizados
na torre de telecomunicações
da plataforma, que fica na popa do
navio, e no turret, localizado na proa.
Acabamos optando por instalar as
antenas de transmissão e recepção
próximas”.
Com pouquíssimas variações, a
comunicação sem fio pode ser uma
alternativa em qualquer área da plataforma
que utilize fibra óptica ou
rede ethernet. As restrições se referem,
claro, aos equipamentos submersos
ou que ficam enclausurados – e que, de alguma forma, necessitam
de solução para propagar seus
sinais.
A questão da cybersegurança
nem ocupa o topo da lista de dúvidas – até porque, num ambiente em que
o acesso de pessoas pode ser controlado,
e qualquer outra embarcação
não consegue se aproximar de uma
plataforma sem que seja notada, as
soluções de firewalls, criptografia e
autenticação já são suficientes para
evitar qualquer acesso indevido. As
maiores preocupações ainda estão
relacionadas a capacidade de tolerância
a falhas e auto-recuperação
de links. “Uma tecnologia sem fio,
atendendo a algumas dessas exigências
e alguns dispositivos que podem
reforçar o gerenciamento e a segurança,
merece ser avaliada”, finaliza
Nilson.
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Específico para área industrial,
wirelessHart previne falhas
comuns à transmissão sem fio |
Domingo, 6:45. Queda na
conexão entre o transmissor
de temperatura e o gateway.
O sistema nem nota – em
três segundos, aquele transmissor
encontra um outro transmissor
mais próximo, e estabelece uma
rota alternativa para transmitir as
informações. Conexão restabelecida.
Bem vindo a era do wirelessHart.
O padrão que une a rede Hart com
a tecnologia de transmissão de dados
sem fio foi desenvolvido em formato
mesh – na prática, cada instrumento
de medição também tem a função de
retransmitir o sinal. Pensado para ser
aplicado em pontos de difícil acesso – onde a ronda dos operadoresé sinônimo de risco de acidentes – ou
que tornam inviável ou dispendiosa
a instalação de cabos – como fornos
rotativos e aquecedores indutivos – a
tecnologia começa a ganhar espaço da estrutura de cabeamento tradicional,
para monitoramento de pressão
e temperatura.
“Além de ser definido
em conjunto com a Hart Foundation,
o wirelessHart está em fase final de
aprovação pelo International Electrotechnical
Commission - IEC”, destaca
o diretor de sistemas da Emerson Process,
Claudio Fayad, um dos maiores
entusiastas da tecnologia no Brasil. Algumas aplicações já sentem segurança
em adotar essa instrumentação
sem fio até mesmo para controle – como em um projeto desenvolvido
nos laboratórios da Universidade do
Texas, com uma coluna de destilação,
em que o algoritmo PID foi alterado
para acelerar o tempo de envio das
informações. “Em alguns casos, adotamos
a instrumentação wireless para
controle de temperatura e pH, onde
o tempo de resposta pode ser menor
do que 4 segundos”, conta diretor da
Emerson Process.
A vantagem óbvia do sistemaé a eliminação da fiação, que pode ser
um fator complicador quando existe
pouco espaço físico para a disposição
de eletrodutos, quando as distâncias
envolvidas são muito grandes e que
podem encarecer o projeto – ou ainda
nos casos em que os equipamentos se
movimentam, inviabilizando a utilização
de cabos. “Atualmente qualquer
modificação numa plataforma existente é muito mais facil de viabilizar
com wireless que com convencional”,
ressalta o diretor de Vendas da Honeywell
do Brasil, James Aliperti.
Na análise do executivo, a tecnologia
wireless é mais utilizada em plataformas
de petróleo do que se acredita
– o que ainda não está difundido é o
uso de transmissores sem fio, por conta
de um conservadorismo natural de
um setor que tem considerações particulares
de suporte e manutenção.
Depois de uma bem sucedida aplicação
para monitorar a pressão anular
no wellhead e pressões no trocador de
calor na plataforma de Grane, no mar
da Noruega, a StatoilHydro já têm o
wirelessHart como padrão para interligação
dos sensores de monitoração
sem fio.
A BP instalou 40 transmissores de
pressão sem fio no campo onshore de
Wytch Farm, no Reino Unido. A leitura
manual de medidas de pressão
na plataforma foi identifi- cada como
uma área que poderia ser melhorada,
mas transmissores conectados por
fios eram simplesmente muito caros
devido à infraestrutura de instalação
elétrica. Dois transmissores foram
montados em cada poço, e um único
gateway sem fio foi instalado fora da área de processo, conectando os transmissores
ao sistema de controle.
Na refinaria da Chevron em Richmond
/ EUA, 16 access points da Cisco
e 12 gateways da Emerson Process
cobrem uma área superior a 80% dos
sensores – trata-se da maior rede wireless
já instalada em uma refinaria.
No Brasil, a mais recente instalação
Emerson Process monitora a pressão,
temperatura e vibração de dois
dos quatro compressores na Unidade
de Compressão de São Mateus – são
56 transmissores coletando dados e
enviando a um gateway interligado
ao sistema de manutenção preditiva.
Nesse caso, instalar um sistema de
monitoramento signifi- caria eliminar
as rondas dos operadores que coletavam
os dados manualmente – e a opção
pelo sistema adotado significou
uma economia de US$ 200 mil em relação
a uma instalação convencional
com cabos e eletrodutos.
Um estudo realizado por dois
consultores da Emerson Process em
uma planta de aromáticos com hidrotratamento,
calcula em até 36% a
economia gerada com instrumentação
wireless, em relação a instalação de
rede 4-20 mA com cabeamento tradicional
e placas de I/O. Os resultados
mostram também que 44% dos sinais
podem ser implantados com instrumentação
wireless.
“Este estudo efetivamente
comprova que a tecnologia
wireless não precisa ser restrita ao
número limitado de cenários onde o
custo é proibitivo ou seja impossível
implantar cabos”, afirma Dan Daugherty,
um dos autores do estudo.
A própria Petrobras tem um estudo
referente a instrumentação de uma unidade de hidrotratamento, que
aponta economias mesmo no caso de
uma planta nova. “Embora estudos
deste tipo sejam interessantes, não focalizam
o cerne da questão, que não é o custo de uma alternativa contra a
outra, mas a resistência natural ao uso
de uma tecnologia nova, e até certo
ponto revolucionária, e as limitações
reais que a instrumentação sem fio
tem quanto aos tempos de atualização
ou consumo de bateria. A maioria
das instalações atuais ainda está nos
casos onde a solução sem fio resolve
um problema específico muito melhor
que a alternativa convencional”, avalia
James Aliperti.
Não há qualquer dúvida que a utilização
da tecnologia sem fio traz ganhos
econômicos – pelo menos para
os novos projetos. Mas nos fóruns do
setor, ainda é clara uma preocupação
com o desenvolvimento de baterias
com maior tempo de duração e que
suportem condições de trabalho em
ambientes hostis, com a aplicação da
tecnologia wireless em áreas classificadas, com a segurança contra ataques
de hackers e o padrão para transmissão
de dados.
WirelessHart disputa com
OneWireless o posto de wireless
“oficial” para aplicações industriais.
A primeira conta com quase duas dezenas
de fornecedores homologados.
Já a segunda, criada nos laboratórios
da Honeywell, tem o mérito de ser,
certificado pelo Wireless Compliance
Institute, conforme a ISA 100.11a – que ainda busca estabelecer um
padrão global para comunicação sem
fio na indústria. A função básica é a
mesma – com uma pequena diferença
na filosofia de trabalho: enquanto
o wirelessHart permite que cada instrumento
funcione também como um
roteador de sinal, no OneWireless a
transmissão sempre é encaminhada
para os dois dispositivos com o sinal
mais forte.
Mais do que isso, a preocupação
típica de quem vai instalar qualquer
sistema wireless é a impossibilidade
de garantia total da comunicação em
100% do tempo. “Uma preocupação entre alguns
engenheiros é a possibilidade desses
dispositivos wireless serem tão pouco
confiáveis quanto os telefones celulares
e o receio é de que quedas de ligação
ou comunicações não recebidas
possam causar problemas de segurança
ou produtividade nas plataformas”,
explica o professor Dennis Brandão,
especialista em comunicação e informática
industrial da Universidade de
São Paulo.
Hoje os projetos desenvolvidos
em arquitetura mesh estão em alta.
Embora a chance de falhas possa ser
reduzida com a adoção de distâncias
máximas entre transmissores e receptores
e a comunicação visual entre os
dispositivos, a tolerância a falhas e
a confiabilidade da transmissão leva
a adoção da comunicação entrelaçada
baseada na nuvem de irradiação.
Esse tipo de desenho permite a continuidade
da transmissão dos dados
mesmo que um obstáculo interrompa
o sinal direto. Isso porque, cada
instrumento também funciona como
roteador – e o sinal emitido por um
equipamento sai buscando rotas alternativas
até encontrar o ponto de
recepção final.
Nesse sentido, o índice de confiabilidade
da rede cresce na proporção
do número de instrumentos – quanto
mais instrumentos, mais densa, e com
mais caminhos alternativos, torna-se
a rede. Aplicações mais avançadas
permitem até fazer um mapeamento
com a localização de todos os instrumentos,
e encontrar os chamados pinch
point – gargalos onde a informação
só possui um caminho – para realocar
os repetidores.
Outra inovação é a chamada Frequency
Hopping Spread Spectrum
- FHSS: quando há interferência que
impeça a comunicação na frequência
programada, o instrumento busca outra
banda para operar.
Fayad lembra que, como normalmente
o tempo de atualização é maior
do que quatro segundos, não haverá
nenhum impacto no monitoramento,
mesmo que a retomada desse caminho
leve um ou dois segundos. “Mesmo
não apresentando componentes de
redundância, é uma rede redundante
por natureza, porque tem múltiplos
caminhos até o gateway”.
O engenheiro William Kishi,
ligado à Coordenação Técnica da
Yokogawa, ressalta que nenhum sistema é imune à perda de sinal – mesmo
a instrumentação convencional.
A diferença é que o fio não pode
alertar um operador sobre um problema,
enquanto os links de comunicação
permitem saber que os dados
não estão sendo transmitidos devido
a uma perda de sinal entre um escravo
e o mestre. “Além disso, em caso
de falha de comunicação, o escravo
vai controlar suas saídas com base na
condição default de segurança contra
falhas”.
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Controle avançado |
Braskem amplia o uso de controle avançado para
elevar performance de plantas de polimerização |
Fórmulas matemáticas sofisticadas,
que prevêem como se comportam
dezenas de variáveis ao
mesmo tempo e simulam todas as restrições,
com um objetivo bem defi- nido:
conduzir a operação da planta para
o ponto de melhor rentabilidade, na
rota mais eficiente. Ficção científica?
Não. Pergunte a qualquer especialista
em automação como é possível mesclar
as demandas técnicas da operação
com as equações financeiras da corporação
e uma das respostas mais citadas
será: controle avançado.
Trata-se de uma estratégia implementada
um nível acima do sistema
de controle do processo, que atua nos
set-points das variáveis de operação
para indicar o melhor arranjo. Quando
o operador verifica qualquer alteração
na matéria-prima ou na temperatura
dos reatores, sua decisão é muito
semelhante a um motorista equipado
com GPS: ele não precisa mais parar
para perguntar o caminho.
Desde agosto do ano passado,
quando os engenheiros concluíram
a implantação do controle avançado
em uma das plantas de polietileno da
unidade PE4 da Braskem, localizada
no pólo petroquímico de Triunfo / RS,
os operadores contam com um apoio
que vai além da simples padronização
da operação.
“Já temos resultados
promissores de redução de custos e
de aumento de produtividade, significando benefícios fi- nanceiros tanto em
épocas de baixa do mercado – quando
as reduções de custos são mais importantes
– como em épocas de mercado
aquecido – quando a taxas de produção
estão no máximo, com operação
nos limites dos equipamentos”, afirma
o engenheiro de controle de processos
da Braskem, Tiago da Silva Osório.
Essa planta utiliza, no processo
de produção de polietileno com a
tecnologia Spherilene, dois reatores
de polimerização em fase gasosa em
série – aqui a estratégia de controle
avançado conta com três camadas de
controle: um otimizador de produção,
um controlador de composição
da fase gasosa e um controlador de
qualidade. O primeiro é responsável
por otimizar a carga da unidade, atuando
sobre a injeção de catalisador
e de eteno nos reatores. Já o controlador
de composição atua sobre as
vazões de alimentação nos reatores
– em suma, os dois respondem pelos
benefícios financeiros. O controlador
de qualidade controla a viscosidade e
a densidade da resina, enviando setpoints
para o controlador de composição,
sendo responsável por manter o
produto dentro das especificações.
Os benefícios dos projetos de
controle avançado estão diretamente
relacionados à redução da variabilidade:
modelos que descrevem o comportamento
estático e dinâmico do
processo, os algoritmos de controle
avançado conseguem prever o comportamento
das variáveis e se antecipar
às perturbações no processo.
Com um melhor controle da variável,
é possível mantê-la mais próxima
da sua restrição, sem ultrapassá-la. E
quanto mais próxima essa variável
estiver de seus limites operacionais,
maiores serão os resultados econômicos
– as referências mundiais indicam
ganhos de 3,5%. Há diferentes formas
de isto ocorrer: aumentar a carga
média da unidade através do melhor
controle e a sua aproximação dos limites;
aproximar os produtos aos seus
limites de
especificação, reduzindo as
perdas e o reprocessamento de produtos
fora de especificação; ou ainda
reduzir o consumo de insumos. |
Controle preditivo baseado em modelos |
O controle avançado surgiu pela
primeira vez dentro de uma refinaria,
foi adotado com resultados expressivos
pelos crackers de nafta e, por conta
da concorrência cada vez mais acirrada,
ancorou com força total nas plantas
produtoras de resinas. O tema é uma
das prioridades do Plano Diretor de
Automação da Braskem – a empresa já tem sistemas desse instalados nas unidades
de insumos básicos e plantas de
polímeros em Camaçari/BA e Triunfo,
e está implantando nas outras unidades
de polietileno e polipropileno.
De cada dez das principais plantas
petroquímicas do mundo, nove já adotaram alguma estratégia de controle
avançado – lógica fuzzy, controle
adaptativo ou controle preditivo
baseado em modelos – MPC, uma
classe de algoritmos de controle que
utilizam um modelo fenomenológico
ou empírico do processo para predizer
as futuras respostas da planta. A
maioria acabou optando por esse último
por conta, principalmente, da sua
capacidade de trabalhar com sistemas
multivariáveis e com interação entre
variáveis. Além disso, suas ações de
controle são calculadas levando em
consideração as restrições nas variáveis
manipuladas e controladas.
A diferença básica é que as plantas
de craqueamento de nafta geralmente
adotam controladores MPC lineares,
enquanto nas unidades de polimerização
são utilizados controladores
MPC não-lineares. De forma geral, as
primeiras operam em uma única condição,
dentro de especificações que
não variam constantemente – os principais
distúrbios estão relacionados a
variações na matéria-prima utilizada.
Nas plantas de polímeros, a situação
se inverte: a matéria-prima chega com
qualidade relativamente estável, mas
as condições de operação sofrem alterações
com uma frequência elevada,
para obtenção de produtos com especificações diferentes – uma planta de
polipropileno, por exemplo, pode variar
a concentração de hidrogênio no
reator em uma razão de dezenas de
vezes em algumas horas.
Mesmo para plantas de polimerização,
há diferenças em função da
natureza do processo, da capacidade
dos equipamentos e do mix de produção.
“Os conceitos são os mesmos. A
forma de se obter benefício econômico
será semelhante. Porém cada processo
tem suas peculiaridades e, desta
forma, necessitam de soluções de
controle que se adaptem a essas peculiaridades”,
destaca Tiago Osório.
Implantar uma estratégia de controle
avançado é um verdadeiro trabalho
multidisciplinar.
É algo que vai
além de malhas PID, malhas cascatas
ou malhas antecipativas: são projetos
caros, que não fazem parte dos sistemas
de controle regulatório, e requerem
uma adaptação e customização
para cada aplicação.
O passo a passo de um projeto
desses começa pelo óbvio: definir,
claramente, o seu objetivo. As características
próprias de cada unidade
petroquímica fazem que com que fatores
distintos limitem sua capacidade e
sua controlabilidade. Junto a isso, um
estudo de viabilidade para avaliação
dos ganhos potenciais do projeto deve
ser elaborado. Só a partir daí a equipe
envolvida com o projeto passa a definir a melhor estratégia de controle
– quais variáveis serão controladas, e
quais serão manipuladas para efetuar
o controle.
Nada garante que a implementação
de um MPC será a estratégia
recomendada em todos os casos – a
aplicação a ser escolhida vai depender
do nível de complexidade exigida para
resolver o problema. “Em geral, o termo
‘controle avançado’ é utilizado em
problemas de controle multivariável e
preditivo, o que torna MPC e NMPC
mais aplicável. Mas, entendemos que
controle avançado seja qualquer tipo
de controle em que se utilize conhecimento
do processo – em geral através
de modelagem – para facilitar o cálculo
das ações de controle.
Até mesmo
o desenvolvimento de um PID com
parâmetros variáveis em função das
condições do processo já é um projeto
de controle avançado”, ressalta o
engenheiro de controle de processos
Gustavo Alberto Neumann, que esteve
à frente do projeto na Braskem.
Na maioria das vezes, é necessário
realizar uma adequação da infraestrutura
de hardware de instrumentação,
melhorias no controle regulatório e do
sistema de informações de processo
– as estratégias de controle avançado
funcionam como uma camada de controle
acima do regulatório, que necessariamente
precisa estar operando satisfatoriamente.
Antes de implementar os
controladores MPC propriamente ditos,
há ainda a etapa de modelagem matemática
– e, caso existam variáveis com tempo de amostragem superiores ao
tempo de atuação do controlador, como
medições de laboratório, ainda haverá a
necessidade de implantar analisadores
virtuais. Engana-se, no entanto, quem
acredita que uma planta já em operação
dificulte o trabalho – na verdade uma
planta em operação já tem dados históricos
disponíveis para análise da operação
da unidade e desenvolvimento
dos modelos matemáticos utilizados no
controlador.
O que acontece, em muitos
casos, é que os técnicos estão acostumados
a operar a planta sem controle
avançado – daí, implementar uma estratégia
de controle avançado significa
quebrar paradigmas.
Alguns sistemas de controle já trazem
os controladores preditivos multivariáveis
disponíveis como blocos
– similares a PIDs – embora há quem
considere que a solução mais eficiente
é ter o controlador fora do sistema de
controle. Ter tudo residente no próprio
SDCD parece ser uma opção bastante
interessante pois, além da facilidade
de comunicação, reduziria o número
de interfaces, tanto para as equipes
de operação e produção como para a
automação.
De qualquer forma, é importante
testar essas aplicações com
controladores de grande porte, que
tenham muitas variáveis, para ter certeza
de que não há comprometimento
na sua performance – na Braskem, os
sistemas implementados ainda são
aqueles residentes em computador
dedicado, onde os controladores se
comunicam com o sistema de controle
através do OPC DA.
A parte final da implementação
é comum a qualquer projeto: treinamento,
verificação da documentação
e acompanhamento dos índices de desempenho
e dos benefícios.
Gustavo Neumann explica que o
retorno sobre o investimento se calcula
comparando os cenários antes
e depois da implementação da nova
estratégia de controle, computados os
benefícios e considerados os custos
de implementação – infraestrutura,
configuração, modelagem, desenvolvimento
dos controladores, licença
de softwares, serviços e horas de treinamento.
“Com os benefícios que o
controle avançado traz para as plantas
onde ele é instalado, a pergunta agora
passa a ser: ‘porque não investir nessa
tecnologia?’”.
A justifi cativa mais óbvia para dar
uma resposta negativa a essa questão
seria o alto custo da implementação
– que em uma planta produtora de
resinas com capacidade de 300 mil
toneladas pode chegar a
R$ 1 milhão – e o tempo
de implementação.
Para se ter uma idéia, do
planejamento ao comissionamento
– incluindo a
configuração, modelagem
e desenvolvimento dos
modelos, e treinamento
e documentação – os
engenheiros da Braskem
levaram nove meses para
implantar o projeto na
planta Spherilene da unidade
PE4 – mesmo com
toda experiência adquirida
em outros projetos. |
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Nasce a
superpetroquímica verde e amarela |
Como foi a negociação que criou a oitava maior empresa petroquímica do mundo |
Sexta-feira, 22 de janeiro. Este
ano, os presidentes da Petrobras,
da Braskem e do Conselho
de Administração da Odebrecht
não conseguiram enforcar nenhum
dos dois feriados do epicentro econômico financeiro do país. Passaram
parte da manhã e da tarde explicando
– primeiro a investidores e analistas
de mercado e logo em seguida a jornalistas
– uma operação negociada
nos últimos oito meses de exaustivas
reuniões que invadiam madrugadas e
finais de semana.
A história dos precursores da petroquímica
brasileira chegara ao fim,
de forma quase melancólica. Os herdeiros
de Alberto Soares Sampaio
tiveram que se curvar à implacável
nova-organização-petroquímicamundial,
dominada agora pelos beneficiários dos altos preços do petróleo
e pelos fundos de private equity – não
fosse assim, corriam o risco de ver sucumbir
o negócio criado em junho de
2008 para ser a segunda maior petroquímica
do Brasil.
As expectativas criadas em torno da Quattor foram rapidamente minadas
pela crise econômica mundial. A
venda foi a saída – um negócio que
rendeu R$ 700 milhões à holding Unipar
e a oitava colocação no ranking
das maiores fabricantes de resinas do
mundo à Braskem. “Esse aumento de
escala possibilita ser uma empresa
global. Queremos que signifique aumento
na capacidade de investimento”,
explica José Sergio Gabrielli,
presidente da Petrobras, que agora aumenta
em pelo menos 10% sua fatia
no bolo acionário da nova Braskem.
Decano da petroquímica nacional,
Alberto Soares Sampaio criou a Unipar
junto com Walter Moreira Salles a
partir da Refinaria de Petróleo União.
O primeiro pólo petroquímico do
país, erguido vizinho à refinaria, era o
maior patrimônio da Unipar. Por duas
décadas foi comandada por Paulo
Geyer, genro do fundador. Seus cinco filhos hoje dividem uma holding chamada Vila Velha, que detém 57% das
ações da Unipar. Vera, Maria e Cecília
não chegavam a um acordo com
Alberto Geyer e Joanita sobre os rumos
da empresa.
Na formação da Quattor, a Unipar
juntou todos os seus ativos – que
incluía a Polietilenos União, Unipar
Química e participações na Rio Polímeros
e PQU – com os ativos que
a Petrobras adquirira da Suzano um
ano antes. Para ficar com a maioria
das ações com direito a voto, a Unipar
teve ainda que aportar mais R$
380 milhões. Com menos de um ano
de vida, a companhia atravessou uma
crise global que derrubou a demanda
por seus produtos e restringiu o
crédito, e ainda viu seu plano de expansão
atrasar. Diante de uma dívida
de R$ 6,5 bilhões, não restava muito
a fazer.
As idéias foram surgindo em
seguidas reuniões desde o primeiro
semestre do ano passado. Ainda
que fosse o desejo da Petrobras– sócia minoritária na Quattor – uma
troca de ações com a Braskem dificilmente
seria aprovada. A polêmica
não estava restrita a insistência
de um dos netos de Alberto Soares
Sampaio – Alberto Geyer – em tentar
impedir o negócio nos tribunais.
O problema era reatar uma antiga
sociedade – a última experiência
fora desfeita antes mesmo da criação
da Braskem, quando a Unipar
deu sua fatia na OPP Polietilenos
em troca das ações que a Odebrecht
possuía na holding. Por outro lado,
uma aquisição pura e simples esbarrava
num preço que a Braskem
não conseguiria levantar sem multiplicar
seu endividamento. Além
disso, a Braskem nunca escondeu
que sua prioridade era adquirir uma
operação no mercado americano.
A solução foi montar uma engenharia
financeira para aumentar o
capital da Braskem. Odebrecht e Petrobras
aportariam suas ações na holding
BRK Investimentos Petroquímicos,
e logo em seguida realizariam
a capitalização – Odebrecht com R$
1 bilhão e Petrobras com R$ 2,5 bilhões.
Os outros acionistas podem
acompanhar esse aumento de capital
com um valor entre R$ 1 bilhão e R$
1,5 bilhão em uma oferta privada.
Após essas duas etapas a Braskem
recebe da Unipar as ações da Quattor.
Pelo pacote, paga R$ 647,3
milhões, assume os compromissos
que a Unipar tem com o BNDESpar
– estimada hoje em R$ 170 milhões
– e o endividamento acumulado pela
Quattor, que será abatido com o dinheiro
da capitalização. Finalmente
a Braskem incorporaria a fatia da
Quattor em mãos da Petrobras.
Na negociação ainda foram incluídas
100% das ações da Unipar
Comercial e 33% da Polibutenos,
pelas quais a Braskem vai pagar R$
52,7 milhões – a Unipar só não vendeu
sua participação na Carbocloro.
Até lá, Petrobras e Odebrecht terão
120 dias para acertar todos os detalhes
do novo acordo de acionistas.
O presidente da Braskem, Bernardo
Gradin, explica que a composição
acionária final vai depender da resposta
dos acionistas minoritários – que hoje detém 1/3 das ações. Gradin
permanece à frente da Braskem, “a
pedido da Petrobras”, frisa o diretor
executivo da Odebrecht, Newton de
Souza.
Na realidade, o acordo de acionistas
prevê que o presidente seja
indicado pela Odebrecht. É ele quem
escolherá os seis diretores estatutários
– sendo que o diretor financeiro deve
surgir de uma lista de nomes apresentados
pela própria Odebrecht e o
diretor de investimentos e portfólio
ser escolhido a partir de uma lista de
indicações da Petrobras. A Odebrecht
terá ainda 50,1% do capital votante e
seis dos onze assentos no Conselho de Administração – quatro cadeiras
serão ocupadas por gente da Petrobras
e uma por representante dos minoritários.
Se todos os minoritários exercerem
seus direitos de preferência, a fatia
da Odebrecht no capital total será de 34,5% e a Petrobras passará para
32% – se ninguém aderir, a Odebrecht
manterá os 38,3% do total e a fatia da
Petrobras subirá de 25,3% para 36%.
Com um aporte de R$ 270 milhões,
o BNDES manteria sua participação
de 5,3%. O preço de subscrição foi
definido em R$ 14,40 por ação, com
base na cotação média dos papéis nos
últimos pregões.
Processos de fusões e aquisições
geralmente são cercados de otimismo
– particularmente na aquisição
da Ipiranga e na formação da Quattor,
com uma boa dose de ufanismo.
Dessa operação surge a maior petroquímica
do continente americano
– no ranking das maiores petroquímicas
do mundo, a Braskem sobe
quatro degraus – serão 26 unidades
espalhadas por Rio Grande do Sul,
São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e
Alagoas, com capacidade para processar
5,5 milhões de toneladas de
resinas por ano e um faturamento de
R$ 25,8 bilhões. Separadas, a receita
bruta da Braskem, entre janeiro
e setembro do ano passado, foi de
R$ 14 bilhões, enquanto a Quattor
fechou os nove primeiros meses de
2009 com uma receita de R$ 4,6
bilhões.
Gradin destaca que ainda
é cedo para calcular o valor das sinergias.
Apesar da supremacia no mercado
interno, a Braskem não deve enfrentar
dificuldades para ser aprovada pelo
Conselho Administrativo de Defesa
Econômica – Cade. A produção brasileira
ainda representa 4% da oferta
mundial – e 20% das resinas aqui
consumidas são importadas. “Não
temos uma visão de petroquímica nacional
ou regional, mas global”, finaliza
Gabrielli.
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Primeira operação internacional chega
com
aquisição nos EUA |
Dez dias depois, Bernardo Gradin se
reuniu novamente com investidores, analistas
e jornalistas para anunciar o primeiro
movimento de expansão da Braskem: a empresa
fechou a compra da Sunoco Chemicals,
marcando a entrada da companhia com
uma operação no mercado norte-americano.
Há um ano essa era a prioridade da empresa
– que chegou a conversar com outros cinco
potenciais alvos de aquisição. “Os EUA serão
uma base importante na estratégia para a
empresa que queremos criar até 2020”, explica
o presidente da Braskem.
Mas a idéia da Petrobras é torná-la
veículo de seus investimentos também no
Brasil – para isso colocou em um acordo
de associação a responsabilidade da
Braskem sobre a parte petroquímica do Comperj e o Complexo Petroquímico de
Suape. A preocupação da Braskem é que esses projetos não comprometam sua
capacidade de crescimento no exterior. Somando os projetos já anunciados na
Venezuela, Peru e México, o montante ultrapassa a casa dos US$ 10 bilhões num
horizonte de sete anos.
A aquisição da Sunoco Chemicals foi a primeira a ser viabilizada – não deve,
no entanto, ser a única. A Braskem mantém conversações com as outras empresas,
em busca de ativos que permitam ampliar a presença em solo americano. A
depreciação dos ativos naquele mercado foi um grande estímulo à investida da
Braskem. Por uma operação que engloba as três fábricas de polipropileno – no
Texas, Pensilvânia e Virginia Ocidental – com capacidade total de 950 mil toneladas
por ano, a Braskem pagará uma “bagatela” de US$ 350 milhões. O negócio
corresponde a 13% da capacidade instalada de polipropileno nos EUA, e assegura
também um contrato de suprimento de propeno com cinco fornecedores – entre
as quais a própria Sunoco.
No encerramento do Fórum Estratégico Empresarial México-Brasil, realizado
no México, a Braskem e a Idesa assinaram com a estatal mexicana Pemex os contratos
de investimento e de fornecimento de etano para a implantação de um projeto
integrado no Estado de Veracruz, no qual investirão US$ 2,5 bilhões. O projeto
contempla a produção de um milhão de toneladas de polietilenos por ano, em três
plantas de polimerização, com início de operação previsto para 2015.
Na Venezuela, em associação com a Pequiven, a Braskem desenvolve duas joint
ventures orçadas em US$ 4,5 bilhões: a Propilsur, para produzir 450 mil toneladas por
ano de polipropileno, e a Polimérica, para um pólo integrado 1,1 milhão de toneladas
de polietileno. O projeto no Peru prevê a construção de um complexo integrado de polietilenos
de 1,2 milhão de toneladas a partir de um investimento de US$ 2,5 bilhões.
Nos três casos, a atratividade está na fonte de matérias-primas competitivas.
O direcionamento estratégico da Braskem já está desenhado: “ser a líder das Américas
e tornar-se uma das cinco maiores petroquímicas do mundo”, destacou Gabrielli.
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