Edição 233 – Dezembro/Janeiro de 2002 |
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Tecnologia a fundo |
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A busca pelo petróleo tem motivado
a Petrobras a submergir cada vez mais fundo, em profundidades que se aproximam
dos três mil metros. Isto porque 72% do total das reservas brasileiras
estão em águas profundas – entre 400 e 1000 metros – e ultraprofundas
– mais de 1000 metros. “A Petrobras precisa enfrentar o desafio de produzir
petróleo a profundidades crescentes, porque isso representa a única alternativa
para alcançar níveis de produção compatíveis com a meta da empresa”, explica
Marcos Assayag, coordenador do Programa de Capacitação Tecnológica para
Exploração em Águas Ultraprofundas – Procap-3000. Novos limites |
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Um dos desafios para viabilizar a produção
nessas profundidades é o escoamento dos fluídos. Enquanto o petróleo está
no reservatório, sua temperatura gira em torno de 90ºC, mas, ao ser transportado
através das águas geladas do fundo do mar, a temperatura cai, podendo ocorrer
a formação de depósitos de parafina e hidratos ao longo das linhas submarinas.
“Procuramos isolar termicamente a linha, para que o petróleo mantenha uma
temperatura acima do limite de formação de cristais, evitando o tamponamento”,
anuncia Assayag. Várias alternativas para abrandar esse problema têm sido avaliadas pelos técnicos envolvidos com o Procap-3000. Uma delas, que vem conquistando a simpatia das oil companies, é a chamada Pipe In Pipe – uma tubulação instalada no interior de outra, revestida com um isolante térmico produzido em poliuretano. Outra alternativa testada pelos técnicos é a utilização de Pigs de espuma de baixa densidade para limpeza das linhas. O que também pode diminuir a probabilidade de formação de parafina é a tecnologia de poços de longo alcance: atingindo alvos distantes no reservatório, diminuindo o comprimento das linhas em contato com a massa d’água. |
Laboratório hiperbárico | |
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Nas dependências de seu Centro de Pesquisas, a Petrobras
mantém um laboratório de tecnologia submarina, equipado com uma moderna
câmara hiperbárica capaz de reproduzir as condições adversas de temperatura
baixa – menos de 4ºC – e alta pressão – mais de 300 bar – características
do fundo do mar. No projeto, a Petrobras investiu US$ 3 milhões, desenvolvido nos últimos dois anos pela área de Tecnologia Submarina do Cenpes. A câmara hiperbárica tem seis metros de comprimento e dois metros de diâmetro, e vem sendo utilizada para qualificar os equipamentos para operações offshore. Todo o controle dos testes e simulações é computadorizado – os equipamentos terão ainda acompanhamento visual através de duas câmeras internas de TV. Dentre os itens de verificação estão a integridade e desempenho dos equipamentos submetidos a pressão muito elevada e a ciclos repetidos, como a abertura e fechamento de válvulas. Os principais equipamentos incluídos nesses testes são componentes de árvores de natal molhadas, manifolds submarinos e conectores submarinos. Marcus Vinícius Coelho, assessor do Procap, explica que reparos no fundo do mar são muito caros, quando não impossíveis, daí a importância de exaustivos testes preliminares, simulando o funcionamento dos equipamentos em campo. A própria construção da câmara foi um desafio para os técnicos do Cenpes, da DSND – fabricante da câmara – e da Nuclep – que produziu o vaso de pressão. Técnicas especiais eram necessárias para construir a câmara, com paredes compostas de anéis cilíndricos com espessura de até 17 cm. Além da câmara, estão mantidas outras duas menores, que permanecerão auxiliando no atendimento da demanda para testes e simulação das operações a dois mil metros de profundidade. |
Desenvolvimentos Fundamental para a Petrobras também tem sido desenvolver equipamentos que suportem as condições adversas do fundo do mar. Sozinha, ou em parceria com fabricantes desses equipamentos, a companhia vem desenvolvendo desde sistemas de conexões até complexas unidades de produção. “O business da Petrobras não é fabricar equipamentos, é produzir petróleo. A companhia tem uma política de desenvolver a tecnologia e disponibilizá-la para que uma variedade de fabricantes possa produzir e atender a demanda”, explica Assayag. Herança do Procap-2000, o sistema de separação submarina Vasps, desenvolvido em parceria com outras companhias de petróleo, entra agora numa fase de testes. O Vasps promove a separação das fases gasosa e líquida ainda no fundo do mar. O líquido é enviado para a plataforma através de uma bomba centrífuga submersa, enquanto o gás escoa por outra linha. O primeiro protótipo começou a operar no meio do ano passado, no campo de Marimbá. O uso de bombas centrífugas submersas em poços submarinos em águas profundas também é resultado de um projeto do Procap-2000. No Procap-3000 busca-se, agora, aumentar o intervalo de manutenção para 5 anos e a potência do equipamento. Em alguns casos, quando a utilização de plataformas-padrão é inviável ou pouco atrativa, um sistema de bombeamento multifásico submarino poderá ser interessante – a Petrobras irá instalar, ainda este ano, um protótipo desse sistema no campo de Marlim. As técnicas de gás lift também vêm sendo reavaliadas para otimizar sua aplicação em águas profundas. Pelos dados da companhia, 47% do petróleo é produzido atualmente com gás-lift, percentual que pode crescer com o aumento no número de poços produtores na Bacia de Campos – onde a técnica é predominante. Dentre os projetos, incluem-se ainda os sistemas de produção não convencionais, como sistema submarino inteiramente elétrico e injeção de água bruta. “As tecnologias identificadas como promissoras serão desenvolvidas”, explica o coordenador. Até mesmo a coleta e tratamento de dados geológicos, geotécnicos e oceanográficos têm espaço no Procap-3000, a fim de fornecer informações necessárias sobre o leito do mar e coluna d’água para projetos e instalação de equipamentos de produção. |
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