Rio de Janeiro, 20 de maio de 2008

Congresso: Nafta ainda continua como principal matéria-prima


No curto prazo, a expansão da indústria petroquímica brasileira está pautada em matérias-primas alternativas – até porque os projetos foram desenhados antes de a Petrobras anunciar as descobertas de petróleo na camada pré-sal, quando todas as estimativas apontavam pessimismo em relação a disponibilidade de nafta.

Dos quatro projetos em construção, pelo menos três – ou melhor 3,5 – utilizam matérias-primas não convencionais: a expansão da PQU, que utilizará gás de refinaria e nafta, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, que processará petróleo pesado, e as plantas de polietileno a partir de etanol projetadas por Braskem e Dow.

Durante o 8º Congresso Brasileiro de Petroquímica, o presidente da Oxiteno, João Parolin, apresentou cálculos que apontam custos de produção muito similares para a utilização de nafta e de etanol. Com o custo médio de US$ 12,5 para extração de petróleo, uma tonelada de hidrocarbonetos custa US$ 94. Extraído da biomassa – com uma etapa de transformação de carboidratos em hidrocarbonetos – a produção de uma tonelada custa US$ 90. A comparação fica mais fácil tomando como base o preço da tonelada da nafta – de US$ 950 – em relação a tonelada de hidrocarboneto retirado do etanol – que custa US$ 900. “Biomassa é uma matéria-prima alternativa, mas não apresenta uma vantagem econômica substancial em relação ao uso dos petroquímicos tradicionais. Ela pode se justificar em situações de escassez, ou de outra lógica econômica”.

Mas o futuro pode reservar surpresas, porque os petróleos existentes na camada pré-sal ou nas areias betuminosas têm custos maiores de extração. “Para a biomassa a perspectiva é contrária: o desenvolvimento de biotecnologia e agricultura de precisão podem aumentar sua competitividade”.

Só que esses dois mercados – petróleo e etanol – funcionam como vasos comunicantes. “Como o etanol é utilizado como energia, o seu preço tende a ser puxado pelo mercado do petróleo”, ressalta o ex-presidente da Abiquim, Otto Perrone.

O representante do Instituto Petroquímico Argentino, Carlos Octtinger, traçou um cenário desalentador para quem ainda pretendia investir na produção de petroquímicos: a Argentina, que já sofre restrições na oferta de gás, pode se transformar em importador de petróleo em 2010 ou 2011. “Quando a Argentina pensou que tinha muito gás, incentivou a conversão dos automóveis, que hoje consomem 8 milhões de m³, a mesma quantidade de gás demandada pela indústria petroquímica”.

O que falta na Argentina sobra na Venezuela. E quem pretende investir em um projeto petroquímico ainda contará com o Plano Petroquímico Nacional, que pretende aumentar dos atuais 4% para mais de 8% a participação do setor no PIB venezuelano. O presidente do Centro Nacional de Tecnologia Química, Aléxis Mercado, mostrou que serão investidos até 2012 US$ 16 bilhões para triplicar a atual capacidade – de 11,5 milhões de toneladas. (Flávio Bosco)


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