Revista Petro & Química
Edição 376 • 2018

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Matéria de Capa
Uso racional da energia
Investimentos para o futuro com resultados no presente
 
 

Energia elétrica é insumo fundamental – e oneroso – na indústria do petróleo e em toda a produção química e petroquímica. Aprimorar indicadores de custos, via melhorias na gestão, não é sufi ciente. O caminho passa por investimentos maciços, na busca de opções, de fontes renováveis e/ou alternativas, e de tecnologias capazes de reduzir os custos e de garantir o futuro; afi nal, pesquisas mostram números impactantes, que sinalizam, para o ano de 2060, demanda global de energia provavelmente 60% maior do que hoje, com 2 bilhões de veículos em circulação no mundo, contra a frota atual de 800 milhões.

A Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ao prever, para 2050, a população do planeta na casa dos 9 bilhões de habitantes, estima que, para efi ciência do uso dos recursos naturais – principalmente a água, energia e terra – será necessário 60% a mais de comida, 50% a mais de energia e 40% a mais de água. Nesse sentido, a Divisão de Pesquisa e Tecnologia de Novas Energias da Shell trabalha com a possibilidade de que, em 2050, a população mundial será composta, aproximadamente, de 10 bilhões de pessoas, das quais 50% deverão morar em cidades.

Qualquer que seja o cenário, o esforço global está direcionado a prover energia cada vez mais limpa, e vem conduzindo a pesquisas que impactam diretamente no conceito de uso racional de energia na indústria petroquímica.

Várias iniciativas vêm sendo registradas. Entre as mais recentemente divulgadas, está a criação do Centro de Inovação em Novas Energias (CINE), resultante da união entre a Shell Brasil, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), as universidades Estadual de Campinas (Unicamp) e de São Paulo (USP), e o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).

 
Anunciado em 23 de maio, o CINE, em cinco anos, receberá recursos da ordem de R$ 110 milhões – “o maior investimento já feito no Estado de São Paulo no âmbito do Programa FAPESP Centros de Pesquisa em Engenharia”, comemora Giancarlo Ciola, gerente regional de Colaborações para Pesquisa e Inovação da Shell. Caberá à Shell o aporte de até R$ 34,7 milhões no novo centro; à Fapesp, R$ 23,14 milhões, sendo que os demais R$ 53 milhões virão da Unicamp, USP e Ipen, na forma de salários de pesquisadores e de pessoal de apoio, infraestrutura e instalações.
 
Outro exemplo de investimento em estudos focados na redução de custos no campo da recuperação energética dos resíduos, e integração de fontes alternativas de energia ao processo produtivo da cadeia de P&G, é o Instituto de Tecnologia da Firjan SENAI, que, de forma prática – resume o gerente de Tecnologia e Inovação do Instituto de Tecnologia da instituição, Paulo Roberto Furio – encontrou possibilidades de redução de água e energia nos processos de pré-refi no, em função do desenvolvimento de modelos matemáticos de previsibilidade de metais e sólidos suspensos.
“Utilizamos a tecnologia de recuperação energética por gaseifi cação e otimização de processos analíticos de P&G. Com relação à energia, temos ganhos obtidos por conta da diminuição da demanda contratada e linearização do consumo energético. Quanto aos resíduos, além da recuperação energética, há ganhos com a redução dos custos envolvidos com seu gerenciamento”, explica Furio.
 
Investimento da indústria

A preocupação da indústria na melhoria de efi ciência energética também se materializa em investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento, com resultados palpáveis. Quando o assunto é motores elétricos, o investimento na substituição daqueles em operação por soluções energeticamente mais efi cientes é compensador, afi nal, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 76% de todo o consumo de energia elétrica da Indústria Química tem origem nesses equipamentos.
 
O custo da energia elétrica e as difi culdades atuais do mercado criaram uma equação que vem dando resultados positivos para a indústria de motores elétricos, que investe na efi ciência energética, como a WEG, que através de suas tecnologias procura atuar em parceria com seus clientes, ou, como prefere seu diretor de Vendas para América do Sul, Fernando Cardoso Garcia, indo “direto ao foco, os motores elétricos e seus acionamentos que são o principal consumidor de energia elétrica na indústria”.
 
As iniciativas dessa empresa vão além da produção de produtos mais efi cientes energeticamente, demanda obrigatória pelos diversos programas de metas e legislações em todo o mundo. Os investimentos em Pesquisa e Inovação Tecnológica situaram- se, em média, em 2,7% da receita líquida nos últimos quatro anos. “Nós temos soluções efi cientes e os clientes têm um vasto campo de oportunidades, mas essa conexão não é direta. Assim, a ação é identifi car juntamente com os clientes as possíveis aplicações e mostrar os ganhos, que são bastante promissores”, esclarece Garcia. Prova disso é a criação da rede WE³ Especialistas de Efi ciência Energética, que conta com integradores treinados para identifi cação das oportunidades em efi ciência energética e implantação de soluções, atuando em conjunto com a equipe WEG, através do CNEE – Centro de Negócios de Efi ciência Energética.
 
Redução na conta: um exemplo
 
“Em 2012, quando a Solvay incorporou as operações internacionais da Rhodia, foi estruturado um plano de efi ciência energética em todos os sites industriais da empresa no mundo. Esse plano, denominado Solwatt, vem sendo aplicado desde então, com resultados signifi cativos, oferecendo uma contribuição importante para as atividades da empresa”, informa Sérgio D’Amore Filho, diretor de Desenvolvimento Sustentável e Energia da Solvay na América Latina.
 
Resultados computados mostram a assertividade da iniciativa, pois, a meta estipulada foi atingida: a redução de 10% da conta de energia do Grupo Solvay, estimada em € 1 bilhão por ano. “No desenvolvimento desse plano – que continua sendo aplicado mundialmente – as ações de melhoria de efi ciência identifi cadas representam uma redução de cerca de 17% no valor da conta de energia”, comemora, frisando que “à medida que reduzimos consumo energético, também estamos reduzindo emissões atmosféricas, na mesma proporção. Para nós, a matriz energética deve ser sustentável nos seus pilares: ambiental, social e econômico. Nossas ações no campo de melhoria energética têm essa premissa”.

Entre os exemplos, D’Amore lembra que a Solvay está implantando soluções digitais de monitoramento, operação remota e controle mais efi ciente de suas plantas do ponto de vista energético, pois “nós acreditamos que essas tecnologias poderão contribuir para a redução global dos custos de energia”. Cita também um caso de sucesso registrado em unidade da empresa nos Estados Unidos, com a compra de créditos de toda a produção de uma fazenda de energia solar para compensar as emissões das plantas industriais lá instaladas.

A contribuição da manutenção

Manutenção também se constitui em disciplina fundamental, quando o tema é uso racional da energia em ambientes industriais. Os ganhos – que envolvem, por exemplo, rendimento nos equipamentos, com menor quantidade de parada, diminuindo o consumo energético – são proporcionais às inovações tecnológicas incorporadas.
 
 
Roberto Busato Belger, presidente da Unidade de Negócio Manserv Industrial, listando medidores de vibração, medidores de ruídos, medidores de vazamentos, robôs de pintura, drones, entre as tecnologias, cita como exemplos a termografi a – que indica a tendência da perda no sistema elétrico por emissão de calor dos equipamentos – e o uso de alinhador a laser, que “indica um desalinhamento entre dois equipamentos acoplados, o que gera grandes perdas de energia e pode levar à quebra. Com a aplicação dessa tecnologia, a manutenção é acionada antes que chegue a esses extremos”. Em números, a aplicação da manutenção (seja preventiva, preditiva ou melhorias) visando a ganhos energéticos para o sistema elétrico, proporciona retorno ao redor de 10% e, quando voltada a sistema térmico, os resultados chegam a 20%, quantifi ca Belger.
 
CINE: mais de 20 projetos em andamento

A meta do Centro, criado em parceria por Shell, Fapesp, USP, Unicamp e Ipen é produzir conhecimento na fronteira da pesquisa e, paralelamente, transferir tecnologia para o setor empresarial, desenvolvendo, fundamentalmente, pesquisas avançadas com foco na conversão de energia solar em produtos químicos e no armazenamento de energia com emissão zero (ou próximo de zero) de gases de efeito estufa; transformação de gás natural em combustíveis que produzam menos gases do efeito estufa ao gerar energia; produção de dispositivos de armazenamento de energia e que utilizem como combustível fontes renováveis, além de novas rotas tecnológicas para converter metano em produtos químicos, por exemplo.

O CINE, segundo Ciola, começa “carregando 20 projetos de 120 pesquisados, com mais de 15 unidades envolvidas, segmentados em quatro linhas de pesquisa, sediadas nas instituições de ensino e pesquisa: Unicamp (Armazenamento Avançado de Energia e Portadores Densos de Energia), na USP (Ciência de Materiais e Químicas Computacionais) e no Ipen (Rota Sustentável para a Conversão de Metano com Tecnologias Químicas Avançadas). Além disso, as pesquisas poderão gerar resultados que serão usados pela Shell para gerar startups ou fi rmar parcerias com outras empresas.
 
 

 

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