Revista Petro & Química
Edição 363 • 2015

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Gestão da mudança
 
EPCistas internacionais trazem novas práticas ao país. Mas evolução da engenharia nacional trava PCistas internacionais trazem novas práticas ao país. Mas evolução da engenharia nacional trava na escassez de projetos ¦ Flávio Bosco

Pequenas modificações fizeram a diferença na construção do Complexo Acrílico da Basf, no polo petroquímico de Camaçari / BA. Furos oblongos deram flexibilidade à estrutura metálica, plataformas elevatórias que alcançavam até 42 metros tomaram o lugar de andaimes e telas preveniram que a queda de instrumentos causasse acidentes. Obra é sempre uma oportunidade para adotar novas tecnologias e novas metodologias de construtibilidade. O complexo da Basf tinha ainda a vantagem de ser uma réplica de outra planta, erguida um ano antes na China. A WorleyParsons – responsável pelo EPCM – já sabia quais eram os caminhos críticos e as rotas de correção que deveriam ser buscadas. E o time de engenheiros teve o reforço de 40 alemães e chineses que haviam trabalhado na construção do complexo chinês.

A exemplo da WorleyParsons, outras empresas de engenharia deverão aproveitar os contratos para semear novas práticas no país. A espanhola Duro Felguera construirá duas usinas termelétricas para a Bolognesi. A americana Fluor, em parceria com a Construcap, está à frente do EPC do gasoduto e do sistema de coleta de gás da PGN no campo de Gavião Branco. “Essas empresas trazem bagagem internacional e podem agregar tecnologias como os softwares 3D e 4D e best practices vividas em outros projetos”, avalia o presidente da Niplan Engenharia, Nelson Branco Marchetti.

Não se trata da decadência da engenharia nacional ou de uma resposta à carência de recursos internos – ao contrário de países do Oriente Médio e da África, o Brasil não depende de know how importado para tocar seus projetos. A associação fi rmada com as empresas nacionais deixa isso evidente. A Niplan, especializada em montagem eletromecânica, prestou quase 12 milhões das 17 milhões de homens hora consumidas na montagem do Complexo Acrílico da Basf.

O foco da Fluor, que formou com a Construcap a joint venture CFPS, é o conceito de engenharia, compras, fabricação e construção - EPFC – que inclui a fabricação no modelo EPC. “Ao gerir todo o processo para os clientes, podemos aumentar a produtividade, concentrando-nos na construção desde o primeiro dia e projetando melhores conceitos de construção. Melhores conceitos – como scaffolding-into-3D, OptimEyes e 3rd Gen Modular Execution (tecnologias de automação e modelagem 3D interativos) – permitem-nos reduzir o custo das instalações, quebrando paradigmas e melhorando a segurança, a saúde e a pegada ambiental, bem como a programação de previsibilidade”, afi rma o vice-presidente de Vendas da Fluor para a America Latina, Andrés Beran.

Entre as empresas brasileiras, a novidade é o uso do Building Information Modeling - BIM – sistema de gerenciamento e informação integrado. As equipes de planejamento são abastecidas automaticamente com informações do canteiro, antecipando a tomada de decisão, com o objetivo de reduzir os impactos nos cronogramas de construção.

Para o presidente do CE-EPC, Cicero Facciolla, a chegada de empresas globais acrescenta tecnologias, metodologias e know how. Mas a experiência das empresas nacionais é uma vantagem competitiva que não pode ser ignorada. Em um modelo ideal, a empresa nacional se posiciona como líder da empreitada, para agilizar a transferência e compartilhamento do conhecimento, encurtar a curva de aprendizado e reduzir os riscos da adaptação. “O importante é defi nir regras claras e isonomia em todos os processos envolvidos. A indústria local tem um know-how importante e difi cilmente este ativo vai sofrer uma erosão tão rapidamente”.

Quando vai retomar?

Especialistas consultados por Petro & Química são unânimes em afi rmar: a engenharia industrial atravessa um momento de transição. E a Operação Lava Jato, que investiga a corrupção na Petrobras, nem é o maior problema – fosse apenas esse, outras empresas já teriam ocupado o espaço das empreiteiras que estão na lista negra da Petrobras.

Nos últimos anos, os grandes projetos têm se tornado mais raros. Desde que contratou a construção do gasoduto Rota 3, em setembro do ano passado, a Petrobras não encomenda um projeto vultoso. Para os projetos de exploração e produção, ela tem optado por afretar plataformas. As Refinarias Premium foram canceladas e a construção do Comperj e da UFN V suspensas.

A escassez de projetos já fez a engenharia nacional “virar suco” nas décadas de 80 e 90. Muitas empresas encerraram suas atividades e os recémformados tiveram que buscar emprego no mercado fi nanceiro. Há duas décadas, quase ninguém confiaria um projeto de grande porte a uma empresa nacional. A retomada das obras de infraestrutura e energia inverteu esse problema – e sobrou vaga de emprego para engenheiro.

Mercado aquecido é um campo fértil para o surgimento de empresas. A Chemtech, criada por três engenheiros egressos do Instituto Militar de Engenharia e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi impulsionada pelos projetos da Petrobras – em parceria com o Centro de Pesquisas da petroleira e com a Aker, projetou plataformas inteiras. A Radix já nasceu tendo a Petrobras como seu principal cliente, e com a desaceleração, passou a desenvolver projetos para petroleiras estrangeiras, como a ExxonMobil, e para empresas da área de alimentos e de saúde. “Os desafi os tecnológicos foram o grande fator a favor do nascimento e do crescimento da Chemtech e da Radix.

Precisamos ter empresas que consigam resolver os problemas brasileiros da melhor forma possível para o Brasil e para a sua realidade, gerando empregos de qualidade aqui e desenvolvendo nossa sociedade como um todo”, explica o presidente da Radix, Luiz Rubião.

 
 
 


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