Edição 356 • 2014

 

O petróleo deverá dominar a matriz energética mundial por (pelo menos) mais duas décadas

Mas as qualidade da matéria-prima disponível exigirá (mais) investimentos em hidrorrefino

 

Os novos padrões de qualidade de combustíveis, em vigor no país desde 1º de janeiro deste ano, reduziu os limites de enxofre na gasolina para 50 mg/kg – ou 50 ppm. Para o diesel comercializado nas regiões metropolitanas o teor de enxofre foi limitado a 10 ppm. Para atendê-los, a Petrobras investiu na construção de 26 unidades de conversão e hidrotratamento em suas refinarias nos últimos anos. Também ampliou a produção de gasolina – para 491 mil barris por dia – e diesel – para 850 mil barris diários. Ainda assim, precisou importar em média 32 mil barris de gasolina e 174 mil barris de diesel por dia para atender à demanda interna – que no ano passado foi de 545 mil barris de gasolina e mais de 1 milhão de barris de diesel por dia.

O que se passa com a Petrobras e com o mercado brasileiro é uma amostra do que ocorre no mundo: o petróleo ainda é a principal fonte da matriz energética – e não há nenhum sinal de que seu consumo pare de crescer nas próximas duas décadas. As projeções mais conservadoras do World Energy Outlook, da Agência Internacional de Energia, apontam que o consumo avança num ritmo de 1,1% ao ano até 2020 e 0,4% a partir de 2021– alcançando 101,4 milhões de barris por dia em 2035. A consultoria Hart Energy estima que a demanda em 2035 alcance 118,4 milhões de barris por dia – um crescimento médio de 1,2% ao ano – enquanto a Global Data prevê que a demanda cresça entre 1,2% e 1,4% até 2017.

Seis em cada dez barris extraídos serão consumidos pelo setor de transportes – sobretudo nas economias emergentes.

Esses mercados tem atraído o maior volume de investimentos – não apenas em capacidade de destilação, mas também em hidrorrefino – para converter o petróleo cada vez mais pesado e ácido em combustíveis com baixo teor de enxofre.

Até 2017 os investimentos já anunciadas ampliam a capacidade de destilação em 7,96 milhões de barris por dia. No mesmo período, as novas unidades de coqueamento, FCC e hidrocraqueamento adicionam 5,26 milhões de barris, de acordo com as projeções da Global Data.

As unidades de hidrocraqueamento representam 37% de todo investimento em conversão previstos entre 2013 e 2017 e estão concentrados no Oriente Médio, Rússia e EUA, enquanto as unidades de FCC, construídas para maximizar a produção de gasolina, são 33% dos projetos e serão erguidos no Oriente Médio e China. As unidades de coqueamento representam os 30% dos investimentos em processo de conversão nos próximos quatro anos.

Mesmo na Europa, onde os especialistas preveem o fechamento de refinarias, investimentos em hidrorrefino serão necessários. Na Rússia, a rentabilidade fomentada pelos incentivos fiscais está estimulando upgrades para atendimento ao mercado interno e exportações para a Europa.

Nos EUA, o acesso ao tight oil das áreas de Eagle Ford e de Bakken – que tem preços menores do que os petróleos de boa qualidade – tem elevado os ganhos das refinarias de média e baixa complexidade – como a refinaria de Pasadena. As unidades mais complexas têm apresentado bons resultados com o suprimento de petróleo importado do Canadá. O nível de utilização da capacidade saltou para 89% em 2013. Superavitário, o mercado acaba escoando a produção excedente para os países da América Latina – não apontam novos investimentos.

“O mercado americano de gasolina está se saturando, com uma tendência de baixa, refletindo medidas de eficiência energética, a penetração dos biocombustíveis e o envelhecimento da população, que passa a usar menos o automóvel – e esse talvez seja o fator estrutural mais importante, porque ele não deriva de políticas energéticas, que podem se alterar, mas de uma mudança do perfil de um consumidor”, destaca o professor Alexande Szklo, do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ.

Ampliação da capacidade prevista até 2017



Os maiores investimentos estão concentrados na Ásia e Oriente Médio, impulsionados pelo consumo de China e Índia. O Oriente Médio, com um petróleo que varia de leve a mediano azedo, investirá em hidrotratamento para atender ao mercado chinês – que está especificando o derivado em níveis europeus. Na China, o processamento de petróleos mais pesados aponta o revamp nas refinarias em operação, com a instalação de unidades de coqueamento, FCC e HDT.

Ainda assim, o upgrade do parque existente e a construção de novas refinarias – e o fechamento de plantas obsoletas – não serão suficientes para atender à demanda, abrindo espaço para a importação de combustíveis e insumos petroquímicos.

O cenário brasileiro indica a necessidade de novas unidades de destilação, coqueamento retardado e hidrorrefino – particularmente a rota HCC, que apresenta maior rendimento em diesel. Inédito no país, o hidrocraqueamento já está programado para o Comperj – o que motivou a Fábrica Carioca de Catalisadores investir na produção de catalisadores para hidroprocessamento. As projeções da Wood Mackenzie para o mercado brasileiro apontam um aumento de 1,7% ao ano na demanda entre 2013 e 2016 – apenas para a mistura gasolina / etanol, a previsão é de crescimento médio de 3,7% ao ano.

“No curto prazo, nossas projeções indicam um crescimento da demanda na faixa de 6% para combustível ciclo Otto (gasolina e etanol) e 4% para o diesel entre 2013 e 2020. No longo prazo, a taxa de crescimento do ciclo otto cai para 3% e a partir de 2035 para 2% até 2050, com a
entrada de uma plataforma veicular mais eficiente, que são os veículos híbridos, e a demanda por passageiro / km, que é outro fenômeno importante”, aponta o professor Alexandre Szklo.

Um negócio pouco atrativo

Mesmo deficitário e promissor, o segmento de refino não consegue atrair os players internacionais. Nem mesmo as refinarias privadas conseguem operar de forma rentável.
A principal queixa está na defasagem dos preços praticados no mercado interno.

A única refinaria privada a operar a plena carga é a Riograndense, que possui acordo com a Petrobras para processar o petróleo quando as margens são desfavoráveis.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, chegou a propor à companhia uma parceria para a REF Brasil – criada por sua consultoria Costa Global com a Energio. O projeto era construir quatro mini refinarias, com capacidade de 5 mil a 10 mil barris, em estados produtores de petróleo – Sergipe, Alagoas, Ceará e Espírito Santo – o que reduziria os custos logísticos. O projeto não despertou o interesse da Petrobras. E acabou sendo colocado em segundo plano após a prisão de Paulo Roberto Costa, acusado pela Justiça Federal de lavagem de dinheiro.

 
 

Petrobras amplia produção sem construir novas unidades

Quando a Petrobras começou a construir a Refinaria Abreu e Lima, em 2010, suas doze refinarias juntas produziam 1.832 mil barris de derivados por dia. Em março deste ano, bateram a marca de 2.151 mil barris por dia – um aumento maior do que a capacidade de produção na Rnest. Pouco mais de 100 mil barris refletem os investimentos em modernização – com a construção de unidades de conversão e tratamento de derivados. Com a substituição de equipamentos, adoção de tecnologias mais eficientes e a otimização da logística de escoamento, a Petrobras conseguiu, nos últimos dois anos, ampliar a produção em mais 80 mil barris de diesel e QAV e 40 mil barris por dia de gasolina. Esse último salto é fruto do Programa de Produção de Médios e Gasolina – Promega, criado para eliminar gargalos que limitam a produção e a eficiência das unidades de processo. A meta é, até 2016, elevar em 165 mil barris por dia a produção de diesel, querosene e gasolina. Apenas nos três primeiros meses deste ano, a Petrobras importou 424 mil barris de derivados por dia.

Uma medida inicial, que provocou impacto nos resultados, foi a adequação dos tipos de petróleo processados em cada refinaria. A própria Rnest é um bom exemplo: a avaliação realizada pela área de Engenharia Básica do Centro de Pesquisas levou a refinaria, originalmente projetada para processar petróleos pesados, adotar um elenco de petróleos mais leves – incluindo o extraído no pré-sal – e ampliar a capacidade em 30 mil barris diários sem necessidade de novos investimentos.

O trabalho foi tocado pelas áreas de Refino, Logística e Marketing e Comercialização – para que cada refinaria recebesse o petróleo mais adequado. A visão integrada das unidades de processamento, de conversão e de tratamento de cada refinaria permite a troca de produtos intermediários entre algumas delas – nesse caso, eleva-se ao máximo o processamento de uma unidade de destilação, mesmo que as outras unidades não tenham capacidade para absorver toda a corrente, e o excedente é direcionado a outra refinaria que tenha capacidade ociosa. A estratégia está sendo adotada especialmente nas refinarias instaladas em São Paulo, que são interligadas por dutos.

A missão dos pesquisadores do Cenpes foi definir a adoção de tecnologias novas e de maior eficiência – foram trocados internos de torres, feixes de permutadores de calor, novos tipos de catalisadores e distribuidores de carga em reatores das unidades de craqueamento catalítico e de hidrotratamento de diesel.

Em março, o diesel foi o principal derivado produzido, com 822 mil barris por dia, seguido por gasolina, com 483 mil barris.

Com o fator de utilização na casados 96%, ampliar a carga de referência em suas unidades depende da autorização da Agencia Nacional do Petróleo. Em abril a ANP autorizou aumento em 10% da sua capacidade da Refinaria Gabriel Passos - Regap – que passa para 166 mil barris por
dia. No ano passado, o aumento de capacidade foi aprovado na Refinaria Landulpho Alves - Rlam, que passou a processar 377 mil barris por dia.

Companhia inicia o processo de licitação das refinarias Premium

A Petrobras já enviou às empresas de engenharia as primeiras cartas convites para obras das refinarias Premium I e II, que serão construídas no Maranhão e no Ceará. O objetivo é iniciar as obras da primeira refinaria no início de 2015 – para que entre em operação em 2018. Em março foram emitidos os convites para terceirização dos serviços de geração de hidrogênio das duas refinarias e de tratamento de água e efluentes da Premium I.

A refinaria a ser construída no município de Bacabeira – a 60 km de São Luis / MA – terá capacidade para processar 600 mil barris por dia – em dois trens de 300 mil barris – e produzirá principalmente diesel (30 mil m3/dia) e QAV (6 mil m3/dia). A Petrobras evita antecipar o investimento necessário para erguer essas unidades – afirma que somente após a conclusão da etapa de consulta ao mercado será possível mensurar o custo total da refinaria. O projeto pode ser erguido em parceria com a chinesa Sinopec – com a qual a Petrobras assinou um estudo de viabilidade técnica-econômica para analisar a formação de uma joint venture.

Quando a pedra fundamentalda refinaria foi lançada, há quatro anos, a previsão era colocar a refinaria Premium I em operação em 2016. Com o propósito de viabilizar a construção da unidade, a Petrobras contratou a Mustang Engineering para revisar o projeto elaborado pela UOP e enquadrá-lo em métricas internacionais.

A Premium II, no Ceará, terá um trem de 300 mil barris de capacidade – com operação prevista para 2019.

Concebido para atender ao crescimento da demanda por resinas, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro teria uma unidade de craqueamento catalítico fluido – FCC adaptado para maior produção de petroquímicos. Essa rota, predileta para a produção de gasolina, já era dominada pela companhia – que tinha treze dessas unidades, sendo duas de craqueamento de resíduo atmosférico, em suas refinarias. Mudanças na operação e no catalisador para elevariam o rendimento em eteno e propeno. Mas a explosão no consumo de gasolina, a descoberta do pré-sal – e mais recentemente o “renascimento” da indústria petroquímica americana baseado no shale gas – ofuscaram a relevância do FCC petroquímico.

A produção de petroquímicos agora será feita a partir dos líquidos de gás natural – etano, propano e butano – e a responsabilidade do projeto está nas mãos da Braskem.

Atualmente a capacidade de produção de propeno nas refinarias da Petrobras soma 100 mil toneladas/mês. Já a produção de nafta petroquímica vem caindo, definida pela demanda de gasolina – segundo os dados da ANP, no primeiro trimestre deste ano, a Petrobras produziu 1.362 mil m³ de nafta, 17,2% menos do que nos três primeiros meses de 2013 e 20,1% abaixo do acumulado no primeiro trimestre de 2012.

O FCC petroquímico se consolidou na China, com algumas unidades desenvolvidas pela Sinopec. A Sasol colocou uma unidade em operação na África do Sul, em dezembro de 2006 com tecnologia desenvolvida pela KBR – com capacidade para converter 250 mil toneladas por ano de propeno, e uma seção de recuperação para processamento de correntes ricas em olefinas, que eleva para 525 mil toneladas por ano a capacidade. Uma unidade de demonstração comercial, com capacidade para 40 mil toneladas por ano de olefinas foi construída em uma refinaria da SK em Ulsan / Coréia do Sul, com o objetivo de demonstrar a tecnologia e o desempenho do catalisador.

A líder dessa rota é a UOP, com 17 unidades licenciadas em operação comercial – que juntas somam 1 milhão de barris por dia de capacidade, e rendimentos superiores 8% em propeno. As duas maiores têm capacidades de 201 mil e 180 mil barris por dia. Outras unidades em projeto ou em construção adicionam quase 400 mil barris de capacidade.

 

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Recap: processamento 24% maior
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Reman: aumento de capacidade em testes
Reduc: maior produção de diesel e gasolina
Revap: processamento recorde
Refap: inovação garante performance de HDT

RPBC: aditivo permite maior processamento de RAT

Replan: derivados mais limpos

Regap: ANP autoriza
aumento de capacidade

Rlam: novas unidades para limpar derivados

Riograndense: investimento em efi ciência energética
Manguinhos: à espera de uma decisão do STF
Dax Oil: processamento de cargas importadas
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