Edição 353 • 2013

Projeto básico

Definidos os vencedores da 1ª Rodada do Pré-Sal, começam agora as negociações para fornecimento dos equipamentos e serviços para o desenvolvimento da área de Libra – a própria presidente Dilma Rousseff tem repetido que, para extrair um volume estimado
entre 8 e 12 bilhões de barris, serão necessárias de 12 a 18 plataformas. Para os fabricantes nacionais, tão importante quanto a demanda é a exigência de conteúdo local de 90% para a engenharia básica e de detalhamento – uma vez que praticamente toda a tecnologia a ser adotada no empreendimento é definida nessa fase. Um projeto desenhado por uma empresa de engenharia instalada fora do Brasil tem menos chance de especificar equipamentos nacionais. “Quem faz a engenharia básica define onde os equipamentos serão comprados”, pondera o presidente da Associação de Engenharia
Industrial, Antônio Müller. Trazer a interação com as empresas de engenharia para
o momento em que o projeto conceitual ou básico está sendo desenhado tem sido um dos pleitos dos fornecedores de equipamentos – geralmente eles só são consultados na fase de compras, quando qualquer alteração no projeto tem um custo muito alto. Devemos encontrar uma forma de nos envolver nessas fases iniciais do empreendimento”, diz o presidente do Conselho de Óleo e Gás da Associação Brasileira
da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Claudio Makarovsky.
Um caminho defendido por Müller é repetir a estratégia adotada nas décadas de 70 e 80, quando os projetos básicos eram desenhados por empresas brasileiras – mesmo que tivessem que licenciar tecnologia estrangeira. Assim foram construídas no país plataformas, refinarias e polos petroquímicos. A realidade, no entanto, mudou. A crise cambial e a hiperinflação daquela época eram um estímulo à nacionalização de quase tudo. Hoje o principal desafio das empresas nacionais é a baixa produtividade – medições realizadas pela Petrobras em seus empreendimentos apontaram que um operário perde mais tempo aguardando instruções, a montagem de andaime ou a chegada de equipamentos do que com a “mão na ferramenta”. Não é muito difícil entender os motivos que empurraram o setor para essa situação: o vácuo de demanda nas décadas seguintes tirou o fôlego para as empresas de engenharia manterem seus quadros no mesmo patamar tecnológico que as empresas americanas ou europeias.
Há poucos anos, diante das perspectivas que o setor de petróleo apresentava, as associadas da Abemi colocaram em marcha um plano de ação para corrigir a defasagem. O diagnóstico apontava a necessidade de investimentos significativos em qualificação dos trabalhadores e na adoção de metodologias inovadoras. Em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, a Abemi desenvolveu um MBA em gerenciamento
de empreendimentos – e quando o governo criou o Prominp, foram treinados 80 mil profissionais, em todos os níveis. As iniciativas mais recentes estão relacionadas às práticas que melhorem o desempenho da segurança no trabalho e a capacitação
de encarregados – através do Programa de Desenvolvimento de Mão de Obra, criado pela Petrobras. Também tem buscado exemplos de boas práticas de EPC no Construction Industry Institute – CII – entidade ligada à Universidade do Texas. Só este ano, o Centro de Excelência em EPC – formado por empresas de engenharia e companhias de petróleo – realizou dois workshops em parceria com o CII. No último, em novembro, dois pesquisadores da entidade discutiram com 48 representantes das empresas como implantar práticas de construtibilidade, benchmarking e front end planing. “Mão de obra qualificada e competente é uma das peças chaves para superar desafios. No entanto, esta não pode ser considerada a única dificuldade a ser trabalhada. Investir na inovação, no aperfeiçoamento constante dos métodos e procedimentos de trabalho, na disciplina operacional e financeira são condições que devem acompanhar este processo”, avalia a presidente do Centro de Excelência em EPC, Renata Baruzzi (veja entrevista na pg AB).
Algumas iniciativas já começam a ser observadas entre as empresas brasileiras – com a modelagem 3D e 4D, integração de sistemas ou adoção de tecnologia RFID para
identificação de equipamentos em canteiros, como forma de reduzir o tempo de execução.
Projetos mais sofisticados – para lâminas d’água cada mais profundas ou processos de refino cada vez mais complexos – e métodos construtivos avançados sempre são um
desafio para as empresas de engenharia. Some-se a isso prazos mais apertados e cada vez mais partes envolvidas em um empreendimento – o que significa um desafio para o gerenciamento de interfaces. “Temos ainda um fator que acaba aumentando o desafio, que é a competitividade: a pressão por custos faz com que tenhamos que achar alternativas para entregar o projeto com toda complexidade que lhe é peculiar, em um prazo geralmente bem comprimido, mas ainda assim sem comprometer custos”, conta o diretor da Chemtech, Gildeon Filho.
Padrões internacionais de custo e prazo tem sido cobrados pela Petrobras – principal contratante para as empresas associadas da Abemi. A estratégia adotada pela companhia
é fazer internamente os projetos básicos – a não ser nos casos de tecnologias proprietárias, em que precisa contratar o projeto – e repassar o detalhamento para empresas de engenharia. Desde o episódio da plataforma P-57 – que foi re-projetada após os excessivos preços apresentados na primeira licitação – a Petrobras tem defendido a simplificação e a padronização dos projetos. A experiência serviu de
modelo para os projetos da P-58, P-62, P-63 e dos FPSOs replicantes.
Como toda e qualquer atividade econômica, os ganhos de produtividade estão diretamente relacionados à escala – os EPCistas globais praticamente têm projetos em prateleira. Sempre há, no entanto, diferenças pontuais entre as plataformas – que variam conforme as características do campo em que ela irá ser alocada – ou refinarias – que além das características do óleo a ser processado, também mudam de acordo com os derivados a serem produzidos. Evitar que essa flexibilidade não se transforme em aumento de custos é um desafio para quem está desenhando o projeto. Gildeon defende uma padronização das tecnologias, ferramentas e fornecedores. “Toda variação, seja de tecnologia, no modelo de contratação, no fornecedor ou nas ferramentas que se usa, não contribui em nada para ter um aumento de produtividade”. O que pode fazer a diferença, sobretudo, é essa exigência de conteúdo local para a engenharia no contrato de partilha de Libra. Na avaliação do presidente da Abemi, embora agressivo, o índice de 90% de conteúdo local deve ser perseguido. “É um número agressivo. Mas temos que perseguir. Ter a engenharia no país é ter a inteligência do negócio”.

Flavio Bosco

 
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