Edição 334 • 2011

Fim dos "anos dourados" para o polipropileno?
A viabilização técnica da extração de gás de xisto nos EUA fará o setor petroquímico mundial dar outra guinada. E não apenas porque a fabricação de resinas será mais competitiva com o etano cotado abaixo de 40% do preço do barril nos próximos cinco anos, 86% das centrais petroquímicas flexíveis instaladas nos EUA já fizeram a opção pelo gás natural como matéria-prima. Mas sobretudo pelo estrangulamento na oferta de propeno e aromáticos. "Uma planta de 680 mil toneladas de eteno que processa etano somente consegue 30 mil toneladas de propeno.

Se a mesma planta é alimentada com nafta, produzirá 300 mil toneladas", conta a consultora da IntelliChem, Rina Quijada. Rina participou da Latin American Petrochemicals & Polimers Conference, organizada pela consultoria CMAI em São Paulo. Nos últimos anos, a demanda de polipropileno cresceu vertiginosamente, ganhando o espaço até de outras resinas por conta de sua versatilidade, atende hoje a 25% do consumo global de plásticos.

O problema agora passa a ser a oferta de matéria-prima: como o propeno sempre foi um coproduto de centrais petroquímicas e de refinarias, sua disponibilidade é afetada por fatores extra-mercado. "Na América do Norte, a produção de propeno nas centrais petroquímicas está no mesmo nível observado em 1990", ressalta o diretor da CMAI para a área de polipropileno, Esteban Sagel. Além disso, o polipropileno disputa o propeno com outros derivados – como o cumeno, a acrinolitrila, o óxido de propeno e o ácido acrílico – que remuneram melhor a matéria-prima. Esteban destaca ainda o suprimento de outros mercados abastecidos pela produção norte-americana. "Quando há uma oferta limitada de propeno, o preço aumenta, mas de uma maneira bastante volátil". Como o preço do propeno é um marcador que determina o custo de produção, toda a cadeia será afetada. Os preços do polipropileno já se equiparam a outros competidores, como o poliestireno – pelos dados da CMAI, entre outubro do ano passado e março de 2011 os preços da nafta subiram 30% no sudeste da Ásia, enquanto os preços do polipropileno subiram 22%, mostrando a dificuldade que os produtores têm em repassar o aumento de custos.

O consultor ressalta que as economias emergentes puxarão as perspectivas de crescimento da demanda nos próximos cinco anos: enquanto o consumo na Europa cresce 2,6% ao ano, a demanda na América do Sul cresce 5,7% e no Nordeste da Ásia 6,6%. "Temos uma expectativa de crescimento de demanda na América Latina, mas as capacidades de produção não devem aumentar, e a região continuará a depender da América do Norte, Oriente Médio e Ásia para compensar a diferença". Esteban também alerta para a situação brasileira – a importação de resinas, alternativa interessante até o ano passado, perdeu atratividade após alterações na tributação. "Será um desafio para o transformador, que tem que lutar contra a importação de produtos acabados".

A solução pode surgir da química verde?

Essa situação abre espaço para a busca por alternativas não convencionais – especificamente as fontes renováveis. O desafio é encontrar o que o gerente de Relacionamento Global da CMAI, Andrew Swanson, chama de "drop ins": substitutos tão iguais quanto possível aos produtos finais. Alguns deles já são comercializados olefinas e poliolefinas, biobutanol, PBS e 1.3 propanodiol. Swanson explica que o propeno pode ser obtido a partir do etanol – via eteno e buteno – ou através de um processo envolvendo enzimas e conversão de propanol através da desidratação. A solução, aposta Swanson, levará em conta a segunda geração dos biocombustíveis – aquela que utiliza os resíduos, e não os processos baseados em amidos e óleos. "O mundo quer deixar isso para trás porque eles concorrem com alimentos e rações".

O consultor aponta as vantagens do Brasil no campo da bioquímica – justamente porque o país apresenta custos menores para a biomassa do que os encontrados na América do Norte e na Europa. A produção de polipropileno verde a partir do etanol de cana de açúcar seria competitiva com o barril do petróleo custando US$ 80. Para que o etanol de milho se transforme em uma matéria-prima competitiva para a produção do polipropileno, o barril deveria custar US$ 110, ou US$ 140 para que o trigo possa ser usado como insumo na Europa. "A produção de etanol é 76% do investimento total de US$ 1,1 bilhão necessário para uma planta com capacidade de 400 mil toneladas de propeno de trigo", finaliza Swanson.
 
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