Edição 334 • 2011

A era dos TLDs

Para conhecer o comportamento dos reservatórios do présal, Petrobras programa 18 testes de longa duração

Flavio Bosco

Nos últimos anos uma sigla entrou na rotina da indústria brasileira do petróleo: TLD as iniciais de teste de longa duração. No ano passado foram realizados três desses testes. Em 2011 serão mais seis. Não é de hoje que a Petrobras resolveu apostar em testes de longa duração para conhecer melhor como se comportariam alguns dos reservatórios descobertos essa estratégia é utilizada pela companhia há pouco mais de uma década. A diferença é que agora eles são cada vez mais frequentes por conta das incógnitas encontradas abaixo da camada de sal. Só na Bacia de Santos duas plataformas estão dedicadas exclusivamente para essa atividade o FPSO Dynamic Producer e o FPSO Cidade de São Vicente. A primeira, afretada à Petrobras pela Petroserv, está alocada desde dezembro do ano passado na área de Guará, no bloco BM-S-9 até o fi nal do ano a plataforma será realocada para a área vizinha de Carioca Nordeste.

Já o FPSO Cidade de São Vicente, da BW Offshore, começou em abril a extrair os primeiros barris da área de Lula Nordeste, no bloco BM-S-11. Em águas rasas, a plataforma SS-11 e o FSO Avaré estão instalados no bloco BM-S-40, onde produzem o TLD de Tiro e Sídon. Isso sem contar os poços que são interligados aos sistemas de produção já instalados na Bacia de Campos como o TLD da área de Brava, que tem um poço conectado à plataforma P-27 desde abril, o TLD de Carimbé, interligado à P-48 em dezembro do ano passado, e o TLD do reservatório de Tracajá, que desde fevereiro está interligado à plataforma P-53 aproveitando a capacidade das instalações existentes. TLDs são adotados para obter informações sobre o comportamento de reservatórios e sobre os fl uidos que serão produzidos em áreas novas.

"O objetivo do teste de longa duração é causar uma perturbação positiva no reservatório e observar como se comporta a drenagem, como os fl uidos se movimentam e como a pressão se distribui, para poder entender e projetar o desenvolvimento do campo", explica o gerente geral de Estratégia e Portfolio da área de Exploração e Produção da Petrobras, Hugo Repsold. O primeiro TLD implementado pela Petrobras ocorreu no campo de Roncador, na Bacia de Campos, em 1999, com o FPSO Seillean uma unidade com capacidade para extrair 20 mil barris por dia, que depois também foi utilizada nos campos de Jubarte e Golfi nho. No mundo, as primeiras experiências datam do início da década de 1990, no Mar do Norte.

Mais do que os teste de poço que também mede as propriedades do reservatório é a partir das informações adquiridas durante um TLD que a petroleira declara a comercialidade e elabora com maior grau de certeza o plano de desenvolvimento do campo. Com essas informações nas mãos, os engenheiros dimensionam a malha de drenagem o número e localização dos poços projetam o sistema de coleta da produção e a planta de processo mais adequada. E de quebra, a companhia ainda consegue antecipar receitas nos últimos boletins de produção de petróleo e gás, a Petrobras tem destacado o volume produzido pelos TLDs como contribuição ao aumento dos volumes extraídos dos campos nacionais. "O objetivo principal de um teste de longa duração é conhecer melhor o reservatório, para que o desenvolvimento seja mais acertado no futuro. Antecipar a produção é um efeito colateral.

Mas o TLD precisa ser aprovado pela Agência Nacional do Petróleo e ser contabilizado na produção do país", ressalta o professor Denis Schiozer, do Departamento de Engenharia de Petróleo da Unicamp (veja reportagem na página 00). A estratégia também não é exclusividade da Petrobras: os primeiros barris de óleo da OGX também serão extraídos através de um teste de longa duração programado para o fi nal deste ano no campo de Waimea, no bloco BM-C-41, da Bacia de Campos o FPSO OSX-1, uma plataforma com capacidade para produzir 80 mil barris por dia, atualmente passa por obras no estaleiro Keppel, em Singapura. Como o FPSO foi dimensionado para atender uma quantidade maior de poços, a OGX estuda utilizá-lo para a produção no campo.

Essa, no entanto, não é a regra. Uma plataforma utilizada em um sistema de produção defi nitivo tem planta de processo e capacidade de armazenamento otimizadas e equipamentos dimensionados para uma vida útil mais longa. Os FPSOs dedicados a TLDs geralmente têm porte menor as duas unidades da Petrobras têm capacidade para extrair até 30 mil barris por dia. E como fi cam instaladas em cada locação por seis meses, são dotadas de sistema de posicionamento dinâmico e riser rígido, o que permite o seu deslocamento, instalação e desinstalação na locação sem auxílio de nenhum recurso externo. Em média, a produção dos TLDs do pré-sal não ultrapassam a faixa de 14 mil barris por dia. A limitação não está na capacidade da plataforma, mas na restrição estabelecida pela ANP a agência tem condicionado a operação dos TLDs a um volume de queima de gás de 500 mil m³/dia.

Os TLDs também mostraram na prática o inóspito ambiente do pré-sal o primeiro TLD realizado na área de Tupi passou dois meses parado depois que a Petrobras detectou um problema nos parafusos de fi xação da árvore de natal molhada, e uma trinca em uma das conexões da tubulação durante descida de duto pela sonda da plataforma FPSO Dynamic Producer provocou a interrupção do TLD na área de Guará. Mas as primeiras avaliações confi rmaram as taxas de recuperação de 30% a 35% e a alta produtividade dos poços que devem produzir 20 mil barris por dia. "Quando olhamos o resultado desses TLDs, vemos que são muito bons: temos uma produção constante, sem problemas de reservatório, com bom escoamento lateral para alimentar o fl uxo de produção no poço", ressalta o diretor da Área Financeira da Petrobras, Almir Barbassa.

Para este ano, além dos testes de longa duração de Guará, Carioca e Lula Nordeste, a Petrobras programou ainda o TLD de Cernambi, no bloco BM-S-11. Na Bacia de Campos, a Petrobras ainda fará o TLD no campo de Aruanã, com o FPSO Cidade de Rio das Ostras, da Teekay o mesmo utilizado no TLD do prospecto de Siri. Para 2012, estão programados mais quatro TLDs na área do pré-sal em cinco anos, a região terá 18 testes de longa duração, todos com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre os reservatórios carbonáticos antes de adotar os sistemas defi nitivos. Mais do que o volume produzido, é o tempo de produção de cada um desses testes que trará "qualidade" à informação. "Embora o pré-sal já esteja produzindo, com o Piloto de Lula em franco crescimento de produção, essa ainda é uma fase de aquisição de informação", explica Repsold.

 


Ritmo acelerado para extrair as
reservas do pré-sal
Finalizado o teste de longa duração, a área de Guará receberá o FPSO Cidade de São Paulo. A Petrobras assinou o afretamento da plataforma com capacidade para produzir 120 mil barris de óleo e 5 milhões de m3/d de gás por dia com o consórcio Schahin / Modec o casco será convertido na China e a integração dos módulos será feita no Brasil. O mesmo acontecerá com o campo de Lula Nordeste: o FPSO Cidade de Paraty, afretado com o consórcio Queiroz Galvão / SBM, também terá capacidade para produzir 120 mil barris por dia. Seu casco será convertido em Cingapura e integrado no Brasil. Pelo planejamento da Petrobras, as duas plataformas entram em operação em 2013 serão os dois próximos projetos piloto na área do pré-sal da Bacia de Santos.

Outros dois FPSOs, responsáveis pelos projetos pilotos da área de Guará- Norte e do campo de Cernambi, já estão na fase fi nal de licitação cada plataforma terá capacidade para produzir 150 mil barris e 8 milhões de m³ de gás por dia. A previsão é que esses FPSOs entrem em operação em 2014. Além dos projetos exploratórios, as áreas da cessão onerosa também demandarão investimentos: ainda este ano a Petrobras dá inicio à licitação para a compra de quatro FPSO para operarem nas áreas da cessão onerosa a primeira área a receber uma plataforma será Franco, em 2015.

O Estaleiro Inhaúma já está sendo preparado para a construção das unidades. As atividades na área do pré-sal estão ganhando mais vigor só este ano serão perfurados 24 poços na área. Desde a descoberta do pré-sal, em 2007, até o ano passado, a Petrobras perfurou 20 poços na área. "Isso dá uma idéia do ritmo de crescimento que está se imprimindo nessa área da Bacia de Santos. Temos hoje seis sondas trabalhando e até o fi nal do ano vamos aumentar esse número", disse Barbassa. O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do Polo Pré-sal da Bacia de Santos Plansal, aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras em abril, prevê que até 2015 a produção alcance 613 mil barris de petróleo por dia com esses TLDs e projetos pilotos.

Os empreendimentos na área receberão US$ 73 bilhões 74% investido diretamente pela Petrobras e o restante pelos seus sócios. Esse valor já refl ete a redução de custos de perfuração de poços e a otimização na concepção dos projetos de produção a alta produtividade dos poços perfurados no pré-sal possibilita projetar plataformas com uma quantidade menor de poços interligados. Para pôr esse plano em operação, a companhia prevê operação de 13 plataformas na área do pré-sal da Bacia de Santos. Além dos projetos pilotos e das plataformas destinadas à cessão onerosa, a Petrobras já contratou oito FPSOs com capacidade para 150 mil barris e 6 milhões de m³ de gás por dia.

Essas plataformas, batizadas internamente de FPSOs replicantes serão padronizadas e construídas em série os cascos serão construídos no polo naval de Rio Grande. A intenção é que as duas primeiras a P-66 e a P-67 comecem a operar em 2015, nos campos de Lula Central e Lula Alto. Até 2015 a Petrobras projeta aumentar em um milhão de barris a produção de petróleo dos campos nacionais hoje em 2.003 mil barris por dia. Parte virá da entrada em operação de nove grandes plataformas e do aumento da produção de sistemas já instalados nas Bacias de Campos e Santos. Levantamento apresentado pela International Maritime Associates aponta que o Brasil terá 47 novos sistemas de produção até 2019 no mundo inteiro, serão 194 sistemas de produção neste período.

Os investimentos em exploração e produção vêm crescendo em 2009 a Petrobras contabilizou R$ 30,8 milhões e no ano passado R$ 32,4 milhões. Para este ano, a previsão é investir R$ 42,9 bilhões. A carteira de projetos prevê a aquisição de 19.670 km² de sísmica 3D 18.530 km² no mar e 1.140 km² em terra e 32.000 km de sísmica 2D 28.000 km no mar e 4.000 km em terra. Serão perfurados 162 poços exploratórios 53 no mar e 109 em terra e 587 poços de desenvolvimento de produção 97 no mar e 490 em terra. Para este ano, a meta é elevar a produção para 2,1 milhões de barris diários. A atividade exploratória será intensa não só para a Petrobras.

Só o Plano Plurianual de Geologia e Geofísica da Agência Nacional do Petróleo reserva R$ 235 milhões para este ano que serão gastos com levantamentos de sísmica, geoquimica e a perfuração de poços nas Bacias do Paraná, Araripe e Amazonas. A HRT deu início a perfuração do primeiro de onze poços na Bacia do Solimões onde deve começar a produzir já este ano e a Shell já havia anunciado a perfuração de dez poços exploratórios na Bacia de Santos e São Francisco até o primeiro semestre de 2012. A OGX, que no ano passado perfurou 26 poços, elevará a meta para 35 18 deles na Bacia de Campos e 9 no Parnaíba.
 
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