Edição 314 • 2009

A chacoalhada da crise
Demanda já é maior do que a registrada no final de 2008 – porém longe dos volumes consumidos há um ano. Fechando ciclo de expansões, empresas adotam postura seletiva nos investimentos em 2009
Tsutomo Sassaki

Flávio Bosco

Depois da tempestade, a bonança. Alguns setores da economia estancaram a sangria e a demanda e os preços das resinas termoplásticas começam a dar sinais de estabilização – um alento após o baque registrado no último trimestre do ano passado, embora o setor já saiba que o bom momento vivido nos primeiros meses de 2008 ficará apenas arquivado na memória.

Quando o acesso ao crédito tornou-se mais difícil e o mundo parou de comprar carros e bens duráveis, o primeiro impacto é sentido na estratégia de investimentos – as empresas incorporaram o novo cenário global em suas análises e passaram a adotar uma “postura seletiva”. Enquanto a demanda não emitir sinais de recuperação, a lista de prioridades será preenchida pelos empreendimentos que apresentem retorno financeiro rápido.

Nesse breu, os pontos luminosos ainda são raros – e ninguém se arrisca a prever o comportamento do setor para este ano. “Embora tenhamos notado certa estabilidade no mercado externo, a situação ainda está muito volátil”, ressalta o consultor Otávio Carvalho, da Maxiquim.

O maior estímulo para quem deseja persistir nos projetos de expansão é a retração nos custos e prazos de fornecimento dos equipamentos e serviços. A crise global, pelo menos, serviu para colocar os projetos dentro de uma dimensão gerenciável, revertendo a alta nos preços dos equipamentos observada na época das vacas gordas. “É claro que, com a incerteza do mercado, o pessoal tirou um pouco o pé para alocar recursos. Mas de qualquer forma, o cronograma na maior parte dos investimentos está mantido”, afirma Otávio Carvalho.

“Não existe uma receita, mas os investimentos ocorrem, evidentemente, nas ocasiões em que as empresas estão bem”, destaca o ex-presidente da Abiquim, Otto Perrone. As petroquímicas nacionais atravessaram um período de queda da demanda com aumento da oferta no início da década de 1980 – quando o pólo petroquímico de Triunfo / RS entrou em operação. Toda a cadeia – da Petrobras à terceira geração – assumiu um desconto para produtos exportados. A oferta adicional encontrou um caminho de escoamento – com a condição de que houvesse um resultado positivo divisível.

Crises como essa também servem para retirar do setor os agentes que buscam no mercado futuro do petróleo um retorno rápido para seu investimento – e acabam desbalanceando a relação entre oferta e demanda na formação dos preços das commodities petroquímicas. “Havia uma valorização excessiva das commodities”, lembra o presidente da Quattor, Vitor Mallmann.

Há dois tipos de prejudicados nessa história: o grupo de empresas que aumentaram o endividamento apostando na oferta de crédito para financiar operações de aquisição e as unidades menos produtivas. As consultorias estimam que a demanda internacional deva encolher em oito milhões de toneladas este ano – pode ser menos que 10% do consumo de 140 milhões de toneladas de resinas, mas não deixa de ser uma má notícia para um mercado que até o final do ano terá uma oferta adicional de nove milhões de toneladas de eteno. O preço para manter as plantas operando com altos índices de ocupação será o fechamento de várias unidades menos eficientes – sobretudo na América do Norte e na Europa, regiões que mais sofrem com as questões de custos e logística.

Vitor Mallmann aposta que a queda nos preços da matéria-prima favorece a produção regional – uma vez que os custos com logística não viabilizam o atendimento global a partir de um único ponto. “Quando os preços do petróleo e do gás estão altos, uma planta no Oriente Médio, com acesso ao gás a US$ 1 / MMBTU, tem uma vantagem enorme. Agora, com essa diferença menor entre os custos, a vantagem econômica desses projetos fica reduzida”.

Ponto para o Brasil: o país não escapou da crise – e nem vai retomar tão cedo o ritmo de crescimento apresentado até setembro do ano passado. Mas nenhum analista prevê retração para o consumo doméstico. O oitavo mercado consumidor do mundo é visto como uma ilha de estabilidade. Os números levantados pela Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas da Abiquim – Coplast apontam no primeiro bimestre do ano aumento de 2,5% vendas ao mercado interno e de 86,4% nas exportações em comparação com novembro e dezembro de 2008.

Só a Quattor bateu recordes de exportação nos dois meses seguintes a retomada das operações no pólo do ABC. Vitor Mallmann conta que, quando a Quattor voltou a operar no final do ano, após a parada de manutenção, esperava encontrar um mercado demandante. Mas os estoques, formados antes da parada, ainda estavam lá. Foram enviadas para fora 80 mil toneladas de resinas – não porque o mercado externo estivesse demandante, mas porque as petroquímicas teriam que escoar a produção que não encontrasse lugar no mercado interno. Em 2009, as petroquímica não têm nenhuma parada de manutenção programada – além disso terão uma oferta adicional a preços competitivos por conta do câmbio desvalorizado. “A região da América Latina é importadora de resina. E o Brasil pode complementar mercados que não têm produção”, avalia Otávio Carvalho.

O que se tem, por enquanto, é o fenômeno de realinhamento dos estoques – o que não é um bom indicador para projeção da demanda. Em plena crise, os clientes preferiram controlar seus inventários como uma maneira de conseguir liquidez. Mas a julgar pelos indicadores econômicos internos, essa estabilidade vai longe – ajudada principalmente pela desvalorização cambial, que protege os produtores locais. As duas plantas de insumos básicos da Braskem, que havia paralisado duas unidades por conta da retração da demanda, voltaram a operar com níveis de ocupação acima de 90%. É um sinal de que estamos bem.







Petrobras busca sócios para empreendimentos petroquímicos

O plano de negócios da Petrobras reservou US$ 5,6 bilhões para os projetos relacionados ao setor petroquímico. Mas a prioridade da companhia será fechar os acordos societários – sobretudo no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – para tocar os projetos.

O objetivo, explica o diretor da Área de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, é se associar com empresas que:
1) aportem recursos;
2) aportem tecnologia e;
3) abram mercados para a produção do Comperj.

Paulo Roberto Costa cita como exemplo as negociações com a indiana Reliance – que firmou acordos de cooperação técnica tanto para o Comperj quanto para a PetroquímicaSuape. Além dela, mais de uma dezena de empresas procurou a Petrobras para tratar do assunto.

No inicio deste ano a companhia constituiu a estrutura jurídica do Comperj, criando cinco sociedades anônimas para cada área de produção para preparar a entrada de potenciais sócios – além de uma sociedade de propósito específico que deterá as participações da Petrobras. Ao passo que essas participações societárias – em que a Petrobras deterá 40% – forem fechadas, o sócio aportará os recursos relativos aos investimentos já realizados – como terraplanagem e aquisição de equipamentos.

A falta de um acordo societário impede que outro projeto saia do papel: o pólo de ácido acrílico que a companhia previa colocar em operação este ano. Há mercado – o Brasil é importador do ácido acrílico – e há matéria-prima – basta a Petrobras construir uma unidade separadora de propeno na Refinaria Gabriel Passos. Mas a companhia ainda não conseguiu atrair nenhuma das cinco detentoras de tecnologia – e também não se interessou em desenvolver tecnologia própria. “Parece que agora as coisas estão andando”, limita-se a dizer o diretor, sobre o desenrolar das negociações com um novo parceiro. O novo cronograma, no entanto, só será conhecido após o fechamento da sociedade.

Em Camaçari / BA, a Petrobras irá erguer uma segunda fábrica de ácido nítrico – um investimento ao redor de R$ 150 milhões. “Estamos discutindo contratos de longo prazo com os clientes. Fechando esses contratos, teremos mais uma unidade”.

PetroquímicaSuape

Em Pernambuco os tratores já tocam a construção da PetroquímicaSuape – um complexo para a produção de PTA, com capacidade instalada de 700 mil toneladas por ano. 580 mil toneladas serão processadas lá mesmo, nas plantas de filamentos de poliéster. Com a saída da Citene do bloco societário, a Petroquisa passou a ser a única acionista do projeto e decidiu reunir a unidade de polímeros e fios de poliéster e a de PTA em um único projeto integrado. O projeto PetroquímicaSuape passou a contar também com uma planta de resina PET, com capacidade de 450 mil toneladas/ano. As três unidades industriais estarão em funcionamento no segundo semestre de 2010. O investimento total do projeto é da ordem de R$ 4 bilhões.

A integração da cadeia de poliéster será totalmente consolidada com o fornecimento do paraxileno produzido no Comperj.

O acordo firmado com a Reliance prevê a cooperação de técnicos da empresa indiana na estruturação das atividades de produção e logística de insumos e produtos das diversas unidades industriais. “A Reliance é a maior produtora mundial de poliéster têxtil e tem larga experiência em processos integrados de produção de PTA, PET e filamentos, inclusive com tecnologias e plantas industriais de última geração e semelhantes às que estão sendo construídas pela PetroquímicaSuape”, explica o superintendente da petroquímica, Richard Ward.

Os projetos da Petrobras no setor petroquímico

Comperj

Localização: Itaboraí / RJ
Obra orçada inicialmente em US$ 8,4 bilhões, transformará o petróleo pesado em combustíveis e resinas petroquímicas (1,3 milhão de toneladas de polietilenos e 850 mil toneladas de polipropileno).

Complexo de Ácido Acrílico

Localização: Betim / MG
Complexo para produção de ácido acrílico – matéria-prima para polímero superabsorvente. Petrobras negocia licenciamento da tecnologia.

Planta de ácido nítrico

Localização: Camaçari / BA
Segunda planta de ácido nítrico no pólo petroquímico. Petrobras negocia contratos de longo prazo com mercado consumidor

PetroquímicaSuape

Localização: Ipojuca / PE
Construção de uma planta que transformará o Paraxileno em PTA, com capacidade de 640 mil toneladas / ano. Investimento previsto em R$ 4 bilhões.

Braskem produzirá 1 milhão de toneladas de polietilenos no Peru

O consórcio formado entre a Braskem, Petrobras e Petroperú planeja erguer um pólo integrado de polietilenos com capacidade para 1 milhão de toneladas / ano. A Petrobras vem buscando fontes adicionais de gás nos blocos 58 e 57 – este em parceria com a Repsol – que viabilizem esse volume de produção. Essa revisão do projeto levou a data de operação para 2014 – a previsão inicial era colocar uma planta de 700 mil toneladas em operação em 2011 ou 2012.

Mas a estréia internacional da Braskem está marcada para o final de 2011, quando a planta da Propilsur – joint venture entre a brasileira e a Pequiven para produção de polipropileno na Venezuela – entrar em operação. Em paralelo, outra joint venture – denominada Polimérica – erguerá um pólo integrado de polietilenos com operação prevista para 2013. A primeira, um projeto de 450 mil toneladas a ser construída no Complexo de Jose, já tem encomendado o projeto de engenharia básica, com reserva técnica de equipamentos. Já a Polimérica, encarregada da produção de 1,1 milhão de toneladas/ano de polietilenos, firmou os contratos de licenciamento tecnológico.

As atenções dos técnicos e executivos da Braskem estão mesmo voltadas ao projeto do polietileno verde – que começa a ser erguido no pólo de Triunfo / RS. Com investimento de R$ 500 milhões, o projeto terá uma capacidade de produção de 200 mil toneladas por ano. As obras começam já neste mês – com início das operações agendado para 2011. Em paralelo, o departamento comercial corre para fechar os contratos de longo prazo – nas ações de marketing realizadas pelo mundo, a empresa certificou-se da atratividade do projeto após fechar acordos de fornecimento e distribuição.

O presidente da Braskem, Bernardo Gradin, admite que a queda nos preços do petróleo afeta a competitividade do projeto de produzir polietilenos a partir do etanol. “Por outro lado, houve um boom de oferta. Todos os fornecedores estão apresentando alternativas – até mesmo atrelar os preços do etanol ao combustível fóssil”.

Investimentos

Para 2009, a Braskem planejou investir R$ 909 milhões – excluindo as despesas com a aquisição da Ipiranga e da Politeno, e sem a necessidade dos gastos com as paradas em duas unidades de insumos básicos, o volume se equivale ao que a empresa investiu em 2008.

Bernardo Gradin espera assinar uma nova regra de precificação da nafta com a Petrobras – a intenção é aumentar o tempo de referência e no perfil do produto para definição do preço da nafta, que representa cerca de 80% dos custos da petroquímica.

 

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