Flávio Bosco
Depois da tempestade, a bonança. Alguns setores da economia estancaram a sangria e a demanda e os preços das resinas termoplásticas começam a dar sinais de estabilização – um alento após o baque registrado no último trimestre do ano passado, embora o setor já saiba que o bom momento vivido nos primeiros meses de 2008 ficará apenas arquivado na memória.
Quando o acesso ao crédito tornou-se mais difícil e o mundo parou de comprar carros e bens duráveis, o primeiro impacto é sentido na estratégia de investimentos – as empresas incorporaram o novo cenário global em suas análises e passaram a adotar uma “postura seletiva”. Enquanto a demanda não emitir sinais de recuperação, a lista de prioridades será preenchida pelos empreendimentos que apresentem retorno financeiro rápido.
Nesse breu, os pontos luminosos ainda são raros – e ninguém se arrisca a prever o comportamento do setor para este ano. “Embora tenhamos notado certa estabilidade no mercado externo, a situação ainda está muito volátil”, ressalta o consultor Otávio Carvalho, da Maxiquim.
O maior estímulo para quem deseja persistir nos projetos de expansão é a retração nos custos e prazos de fornecimento dos equipamentos e serviços. A crise global, pelo menos, serviu para colocar os projetos dentro de uma dimensão gerenciável, revertendo a alta nos preços dos equipamentos observada na época das vacas gordas. “É claro que, com a incerteza do mercado, o pessoal tirou um pouco o pé para alocar recursos. Mas de qualquer forma, o cronograma na maior parte dos investimentos está mantido”, afirma Otávio Carvalho.
“Não existe uma receita, mas os investimentos ocorrem, evidentemente, nas ocasiões em que as empresas estão bem”, destaca o ex-presidente da Abiquim, Otto Perrone. As petroquímicas nacionais atravessaram um período de queda da demanda com aumento da oferta no início da década de 1980 – quando o pólo petroquímico de Triunfo / RS entrou em operação. Toda a cadeia – da Petrobras à terceira geração – assumiu um desconto para produtos exportados. A oferta adicional encontrou um caminho de escoamento – com a condição de que houvesse um resultado positivo divisível.
Crises como essa também servem para retirar do setor os agentes que buscam no mercado futuro do petróleo um retorno rápido para seu investimento – e acabam desbalanceando a relação entre oferta e demanda na formação dos preços das commodities petroquímicas. “Havia uma valorização excessiva das commodities”, lembra o presidente da Quattor, Vitor Mallmann.
Há dois tipos de prejudicados nessa história: o grupo de empresas que aumentaram o endividamento apostando na oferta de crédito para financiar operações de aquisição e as unidades menos produtivas. As consultorias estimam que a demanda internacional deva encolher em oito milhões de toneladas este ano – pode ser menos que 10% do consumo de 140 milhões de toneladas de resinas, mas não deixa de ser uma má notícia para um mercado que até o final do ano terá uma oferta adicional de nove milhões de toneladas de eteno. O preço para manter as plantas operando com altos índices de ocupação será o fechamento de várias unidades menos eficientes – sobretudo na América do Norte e na Europa, regiões que mais sofrem com as questões de custos e logística.
Vitor Mallmann aposta que a queda nos preços da matéria-prima favorece a produção regional – uma vez que os custos com logística não viabilizam o atendimento global a partir de um único ponto. “Quando os preços do petróleo e do gás estão altos, uma planta no Oriente Médio, com acesso ao gás a US$ 1 / MMBTU, tem uma vantagem enorme. Agora, com essa diferença menor entre os custos, a vantagem econômica desses projetos fica reduzida”.
Ponto para o Brasil: o país não escapou da crise – e nem vai retomar tão cedo o ritmo de crescimento apresentado até setembro do ano passado. Mas nenhum analista prevê retração para o consumo doméstico. O oitavo mercado consumidor do mundo é visto como uma ilha de estabilidade. Os números levantados pela Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas da Abiquim – Coplast apontam no primeiro bimestre do ano aumento de 2,5% vendas ao mercado interno e de 86,4% nas exportações em comparação com novembro e dezembro de 2008.
Só a Quattor bateu recordes de exportação nos dois meses seguintes a retomada das operações no pólo do ABC. Vitor Mallmann conta que, quando a Quattor voltou a operar no final do ano, após a parada de manutenção, esperava encontrar um mercado demandante. Mas os estoques, formados antes da parada, ainda estavam lá. Foram enviadas para fora 80 mil toneladas de resinas – não porque o mercado externo estivesse demandante, mas porque as petroquímicas teriam que escoar a produção que não encontrasse lugar no mercado interno. Em 2009, as petroquímica não têm nenhuma parada de manutenção programada – além disso terão uma oferta adicional a preços competitivos por conta do câmbio desvalorizado. “A região da América Latina é importadora de resina. E o Brasil pode complementar mercados que não têm produção”, avalia Otávio Carvalho.
O que se tem, por enquanto, é o fenômeno de realinhamento dos estoques – o que não é um bom indicador para projeção da demanda. Em plena crise, os clientes preferiram controlar seus inventários como uma maneira de conseguir liquidez. Mas a julgar pelos indicadores econômicos internos, essa estabilidade vai longe – ajudada principalmente pela desvalorização cambial, que protege os produtores locais. As duas plantas de insumos básicos da Braskem, que havia paralisado duas unidades por conta da retração da demanda, voltaram a operar com níveis de ocupação acima de 90%. É um sinal de que estamos bem. |