Edição 301 • 2008

Por que a indústria química não cresce?
Aquecimento do mercado doméstico puxa demanda por produtos químicos e amplia déficit comercial

Obras de expansão da Petroquímica União: investimentos insuficientes para suprir a demanda interna

A indústria química brasileira enfrenta um cenário promissor para crescimento: a capacidade instalada está próxima de seu limite, há explosão no consumo e as importações estabeleceram novo recorde este ano. Mas os investimentos programados não conseguirão diminuir a dependência do mercado externo.

Os números apresentados pela Abiquim no 12º Encontro Anual da Indústria Química mostram que o bom desempenho apresentado pela indústria automobilística, pelo agronegócio e pela construção civil puxou o faturamento das empresas químicas a números recordes – dados preliminares apontam que a indústria registrado faturamento líquido de R$ 196,5 bilhões, uma alta de 9,3% em comparação ao ano passado.

“Temos um crescimento entre 4,7% a 5% do Produto Interno Bruto. Não é nenhuma China, mas um negócio bastante razoável. Para a indústria química, um crescimento da ordem de 10% é um número substantivo. Mas se analisarmos o crescimento real da produção, de apenas 1,5%, vemos que há problemas”, avisa o coordenador da Comissão de Economia da Abiquim, José de Freitas Mascarenhas.

Os números mostram que a demanda foi atendida por importações – que este ano cresceram 36,7%, levando o déficit da balança comercial a bater a casa dos US$ 13,1 bilhões. “Apenas 5% do crescimento da demanda foi atendido com produção nacional”, ressalta Mascarenhas.

Para qualquer economista, balança desfavorável é um mercado já disponível, e uma excelente oportunidade para investimentos. Mas isso não se reflete na indústria química. O vice-presidente executivo da Abiquim, Nelson Pereira dos Reis, admite que os investimentos de US$ 20,3 bilhões previstos pela indústria química até 2012 não são suficientes para diminuir a dependência do setor do mercado externo.

O empresariado cita a baixa rentabilidade observada no setor químico para explicar o acanhado volume de investimentos. “Há no âmbito interno, além das questões macroeconômicas como a taxa de câmbio e de juros, problemas que afetam a competitividade do setor. Recente levantamento feito pela Abiquim revelou que os principais problemas enfrentados pela indústria, na visão dos executivos do setor, são os custos logísticos, o não-pagamento pelos Estados dos créditos de ICMS e a carga tributária e entraves burocráticos”, explica o dirigente.

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A indústria, que já apresentou uma relação Ebitda / Rol próxima dos 22% no final da década passada, viu o índice despencar para 14,4% no primeiro semestre deste ano.

“Com rentabilidade baixa, é difícil ter um plano de investimentos de médio e longo prazo. Se considerarmos os últimos dois anos, vamos ter um crescimento até considerável em resinas termoplásticas – este ano o crescimento da demanda deve ser em torno de 10%, e no ano passado tivemos um crescimento de 9,58%. Mas, de 2000 a 2005, o crescimento foi bem abaixo das médias históricas”, lembra o coordenador da Comissão Setorial de Resinas Termoplásticas da Abiquim, José Ricardo Roriz Coelho.

Fica mais fácil ver que a indústria química não tem contentado muito os acionistas quando os resultados são comparados com outros setores, como o siderúrgico, que em 2006 apresentou uma relação Ebitda/Rol de 32,5%. A própria remuneração dos acionistas, que na média do setor químico ficou em 16,6%, nas industrias de aço chegaram a uma média de 41,2%.

As causas do problema, segundo Mascarenhas, são, em primeiro lugar, os preços da matéria-prima, “que crescem a olhos vistos e numa escala às vezes impossível de ser administrada pelo conjunto da indústria”. Mas há problemas de outra natureza – como o desempenho da logística nacional e o crédito de ICMS de exportação, que já chega a US$ 1,2 bilhão. “Há empresas que têm cerca de 20% de seu patrimônio líquido envolvido nesse problema”.

O presidente do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, lembra que a maior parte dos químicos importados pelo país são produtos de maior valor agregado. “A rigor, o grande problema da industria química brasileira é criar mecanismos que permitam que esses produtos de valor adicionado maior, que agregam mais tecnologia, sejam produzidos no Brasil”.

Flávio Bosco

Indústria química planeja investir US$ 20,3 bilhões até 2012
As empresas que atuam no segmento de produtos químicos para uso industrial planejam investir, até 2012, US$ 20,3 bilhões no Brasil, segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira da Indústria Química. Desse total, US$ 9,26 bilhões referem-se a projetos já aprovados ou em andamento e US$ 9,04 bilhões a projetos ainda em estudo – os US$ 2,03 bilhões restantes representam investimentos em manutenção, melhorias de processos, segurança e meio ambiente. O levantamento sobre as intenções de investimento tem como base informações de 210 indústrias químicas.

O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro é o maior projeto em termos de aplicação de recursos. A instalação da Unidade de Petroquímicos Básicos representará investimentos de US$ 5,2 bilhões, ao passo que as unidades de segunda geração demandarão mais US$ 3,2 bilhões.

Outro importante projeto é a instalação, em Minas Gerais, de uma unidade da Dow em parceria com a Crystalsev para a produção de 350 mil toneladas/ano de polietilenos a partir do etanol. O projeto, com previsão de conclusão para 2011, representa investimentos de US$ 1 bilhão. Em 2008, deverão ser concluídos os projetos de ampliação da capacidade de produção de eteno, de 500 mil para 700 mil toneladas/ano, da Petroquímica União, em Santo André / SP, com investimento superior a US$ 594 milhões, e a instalação de uma unidade de produção de polipropileno da Braskem em Paulínia / SP, com capacidade de 300 mil toneladas/ano – que está consumindo US$ 383 milhões.

Capacidade instalada próxima do limite

O nível de utilização da capacidade instalada do setor químico atingiu 91% em outubro, o maior patamar desde maio de 2005 – embora o mês de março deste ano tenha registrado o mesmo índice. A média dos últimos três anos ficou em 87% e certamente passará dos 90% no próximo ano, quando as três centrais petroquímicas pararão suas unidades para manutenção.

Mas o problema do setor é outro: a oferta de matérias-primas. Segundo o estudo “Demanda de Matérias-Primas Petroquímicas”, recém publicado pela Abiquim, a disponibilidade de matérias-primas será limitada e as expansões de produção deverão se apoiar em fontes diversificadas.

No caso da nafta, a oferta deverá crescer, mas não o suficiente para atender totalmente a demanda – o estudo estima que o déficit de nafta seja da ordem de 2,2 milhões de toneladas em 2020. As reservas de gás natural são modestas – e tornam muito difícil a instalação de unidades de grande porte. O mesmo acontece com o gás de refinaria, usado para a atual expansão da Petroquímica União.

Com incorporação de novas tecnologias fundamentadas no FCC Petroquímico, as frações pesadas passam a ser um segmento importante entre as fontes de matérias-primas. A biomassa, que embora ainda custe mais do que as matérias-primas fósseis, pode se aproveitar do significativo potencial de redução de custo, com base no aproveitamento integral da biomassa, em melhoramentos tecnológicos e no aumento da escala de produção.

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