A produção brasileira de petróleo cresce a
uma média de 10% ao ano, desde 1997. Em breve, a Petrobras
estará produzindo tanto petróleo quanto o Brasil necessita.
Já este ano, a média diária de produção
no Brasil é de 1,5 milhão de barris de petróleo
para um consumo de 1,8 milhão de barris/dia. Em 2006, a produção
deverá atingir a casa dos 1,9 milhão de barris diários.
O aumento na produção interna muda o panorama nacional.
Os municípios e Estados brasileiros contemplados com royalties
começam a colher frutos de uma nova realidade. No Rio de
Janeiro, se formam os Emirados Fluminenses por conta
da produção na Bacia de Campos.
A regulamentação da indústria de petróleo
e gás natural institui um conjunto de mudanças de
caráter técnico-administrativo e a redefinição
no papel do Estado. De produtor e provedor, o Estado passa para
regulador e fiscalizador. Acarretou, ainda, o aumento da arrecadação
da União, Estados, Municípios através dos royalties
e participação especial. Antes da aprovação
da Lei 9.478/97, a arrecadação era de cerca de R$
194 milhões, em 1997. Com as alterações promovidas
pela ANP, a arrecadação atingiu valores de R$ 2,9
bilhões, em 2000.
Desde 1999, quando teve início a abertura do setor de petróleo
no Brasil, 38 novas empresas passaram a atuar no país, das
quais apenas 9 brasileiras. Entre as estrangeiras estão desde
as gigantes Shell, ExxonMobil e ChevronTexaco, até companhias
independentes, como a Newfield e Maersk. Das nacionais, figuram
empresas que já prestavam algum tipo de serviço à
Petrobras como a Marítima, Queiroz Galvão e
a Starfish. Até hoje, 12 companhias comunicaram descobertas
de óleo ou gás à Agência Nacional do
Petróleo.
A primeira empresa estrangeira a produzir em grande escala no Brasil
foi a Shell, em agosto deste ano. Os campos localizados na Bacia
de Campos fazem parte de uma parceria realizada entre a Petrobras
e a Entreprise empresa que acabou sendo adquirida pela Shell.
Antes da Shell, as únicas companhias estrangeiras a produzir
no Brasil foram a Devon Energy, e a UP Petróleo, subsidiária
da americana Anadarko. Das brasileiras, a Starfish iniciou a produção,
também em parceria com a Petrobras, na Bacia de Santos.
Quem mais se beneficiou da abertura de mercado foi a Petrobras.
A empresa aumentou sua relação reserva/mercado,
lembra David Zylberstajn.
Em um cenário de abertura, a Petrobras teria que repensar
seu papel. A estratégia seria a atuação integrada
e a internacionalização. Com uma produção
de petróleo que passa de 1,5 milhão de barris por
dia, um parque de refino capaz de processar 1,8 milhão de
barris por dia, além de ativos em distribuição,
transporte, petroquímica e geração de energia,
a Petrobras pensa agora em avançar no mercado externo, onde
já está presente em oito países.
Três áreas são prioritárias: Costa Oeste
da África, Golfo do México e América Latina.
O maior exemplo dessa estratégia é a Argentina, onde
adquiriu 58% das ações da Perez Companc e a Santa
Fé, além de firmar contrato de troca de ativos com
a Repsol YPF.
A Petrobras precisava ter uma presença mais internacional,
e acabou conquistando isso. Compraram a Perez Companc na Argentina.
Eu ajudei falando com o presidente Duhalde muitas vezes para poder
realizar o negócio, conta o presidente Fernando Henrique
Cardoso.
Na Bolívia, por exemplo, passados sete anos do início
das atividades exploratórias no campo de San Alberto, a Petrobras
faz mais do que produzir gás natural, refinar petróleo
ou comercializar derivados: os investimentos na área social
alcançaram os US$ 1,3 milhões. No país, a companhia
brasileira tem uma presença marcante no apoio à educação,
saúde, cultura e meio ambiente. No departamento de Tarija
onde estão localizados dois campos concedidos à
Petrobras já foram patrocinadas a construção
de oito escolas para a comunidade, reforma da única maternidade
local e eletrificação rural.
Com um faturamento que deve atingir US$ 1 bilhão em 2002,
a Petrobras é a maior empresa do país, respondendo
por cerca de 12% do Produto Interno Bruto da Bolívia. Nada
mal para quem arcou com todos os investimentos iniciais de um projeto
de risco nem mesmo geólogos como Carlos Walter Campos,
desbravador da Bacia de Campos, acreditavam que pudesse existir
gás na cadeia de montanhas bolivianas.
Essas ações são frutos da redefinição
estratégica imposta pelo presidente da companhia, Henri Philippe
Reichstul, nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Um
novo modelo organizacional é implantado, com a criação
de quatro áreas de negócio E&P, Abastecimento,
Gás & Energia e Internacional e mais duas áreas
de apoio Financeira e Serviços. ADRs da Petrobras
são lançadas na Bolsa de Nova York.
Todo o mundo sabe que a Petrobras é líder mundial
em capacitação de águas profundas. E agora
está se transformando em uma empresa. Com a abertura de mercado,
se a companhia não se capacitasse na área de negócios,
não poderia sobreviver à competição.
Hoje ela tem as duas bases: está tecnicamente preparada e
sabe fazer do petróleo um negócio, comenta Álvaro
Teixeira.
A divisão da empresa em 40 unidades corporativas suscita
dúvidas sobre a privatização da companhia.
Collor vendeu os ativos na petroquímica, acabou com
a Petromisa e a Interbras. Agora dividiram a Petrobras em 40 unidades
de negócio, prevendo transformá-las em subsidiárias
e privatizar começaram fazendo isso com a Refap,
conta o presidente da Aepet, Fernando Siqueira.
A Petrobras tinha que se comportar como uma empresa, mas nunca
apoiei a idéia de privatizá-la, afirma o ex-presidente
da República, Fernando Henrique Cardoso.
O resultado apresentado no ano 2000 seria o maior de sua história:
um lucro líquido de R$ 9.942 milhões. No ranking das
dez maiores petroleiras do mundo, a Petrobras ocupou o sexto lugar.
Já naquele ano, a produção brasileira ultrapassa
a marca de 1,5 milhão de barris diários; 40% desse
volume vem do campo de Marlim. No ano seguinte, a Petrobras receberia
o OTC Distinguished Achievement Award, desta vez em reconhecimento
à produção no campo de Roncador, a 1853 metros
de profundidade.
Em busca de novas descobertas, a Petrobras lança o Procap
3000, para viabilizar a produção em lâminas
dágua superiores a três mil metros.
Mas a gestão de Reichstul acabou arranhada por acidentes:
em 2000, o rompimento de um duto do terminal da Ilha dÁgua
provoca o vazamento de 1 milhão de litros de óleo
na Baia da Guanabara / RJ. Meses depois, outro vazamento, desta
vez na Repar, espalha 4 milhões de litros de óleo
no rio Iguaçu / PR.
Também a tentativa frustrada de alterar o nome fantasia da
empresa para Petrobrax até hoje é criticada. Em 2001,
a explosão ocorrida na plataforma P-36, que operava na Bacia
de Campos em 2001, é o mais trágico da história
da empresa.
Nesse cenário a Petrobras elabora o projeto Pegaso
o mais ambicioso programa de gestão ambiental, saúde
e segurança já desenvolvido por uma companhia petrolífera
em todo o mundo, orçado em US$ 1 bilhão.
Fomento
É também neste momento que surge a Organização
Nacional da Indústria do Petróleo Onip, com
a bandeira da cooperação para melhor competir. Criada
com base em estudo realizado sob encomenda da Agência Nacional
de Petróleo que recomendou a criação de um
órgão de fomento à indústria de petróleo
e gás, a Onip segue no caminho de promover maior participação
dos fornecedores locais de bens e serviços nos projetos de
investimento no setor.
O novo século traz também na bagagem do setor de petróleo
novidades que podem enxertar um ciclo de desenvolvimento da pesquisa
científica e tecnológica do país. Os fundos
setoriais, criados pelo Governo Federal, visavam a injeção
de R$ 4,5 bilhões até 2005 no setor de pesquisa científica
e tecnológica.
Projetos audaciosos são desenvolvidos no âmbito do
CTPetro como o tanque oceânico projetado pela Coppe
/ UFRJ para realizar ensaios de equipamentos e impactos usados nas
atividades de produção de petróleo e gás
offshore.
David Zylberstajn cita os benefícios dos royalties advindos
da produção de petróleo sobre o Rio de Janeiro
e os Estados da região Nordeste. O país ganhou
como nunca. Se tirar a indústria do petróleo do Rio
de Janeiro, o Estado entra em decadência.
A participação da indústria do petróleo
no Produto Interno Bruto do país serve como termômetro:
até 1997, o setor era responsável por 2,7% do PIB.
Em 2000, essa participação chegou a 5,4% do PIB.
Setor petroquímico inicia reestuturação
Passados dez anos do start do processo de privatização
do setor petroquímico nacional, a Petrobras continua com
importância fundamental talvez até mais agora,
depois da aquisição da Perez Companc, o que reforçou
sua posição no mercado petroquímico: no pacote
de ativos da empresa, estão a Innova, além da Petroquímica
Argentina S.A. Pasa, produtora integrada de resinas com plantas
em San Lorenzo e Zárate, e 40% da Petroquímica Cuyo,
produtora de polipropileno, em Buenos Aires.
Depois do processo de privatização, a participação
da Petroquisa na segunda geração limitava-se a uma
parcela da Petroquímica Triunfo. Agora, além das participações
na Braskem, a subsidiária também garantiu importante
parcela na Rio Polímeros sem contar as participações
na Copesul e Petroquímica União.
Para alcançar uma posição relevante no mercado
de poliolefinas que vá além do papel de fornecedor
de matérias-primas o primeiro passo será definir
a carteira de projetos segundo essa estratégia.
Petroquisa à parte, a Braskem e a Rio Polímeros são
os dois ícones da nova fase vivida pelo setor petroquímico
nacional: operação integrada reunindo central de matérias-primas
com a produção de resinas visando a competitividade
em relação à petroquímica internacional.
A primeira surgiu oficialmente há pouco mais de seis meses,
a partir da fusão de ativos petroquímicos dos grupos
Odebrecht e Mariani. E a Rio Polímeros já nasce dentro
dessa nova concepção, integrando a produção
de eteno com a produção de polietilenos.
Não que a indústria petroquímica nacional tivesse
nascido em bases errôneas pelo contrário, o modelo
societário tripartite, na década de 1970, embora diferente
do praticado nos outros países, foi a melhor opção
para a consolidação do setor no Brasil. Juntando,
no mesmo projeto, o Estado representado pela Petrobras
com o capital privado nacional e o capital estrangeiro, foi possível
realizar, num curto prazo, vultosos investimentos que resultaram
em três pólos petroquímicos no país.
O problema veio com o processo de privatização. O
modelo decorrente da alienação dos ativos pertencentes
à Petrobras resultou em um emaranhado de participações
que reunia, em um mesmo negócio, sócios com interesses
estratégicos distintos o que não contribuiu
para a elevar as empresas do setor à condição
de players internacionais.
Hoje, a preocupação do setor é compor estruturas
integradas entre a primeira e a segunda geração petroquímica,
a exemplo do que acontece nos EUA e Oriente Médio. E também
equacionar os cruzamentos societários que, mesmo com
a integração, tem colocado empresas no papel de fornecedoras
de matérias-primas e concorrentes ao mesmo tempo. Tudo isso
para viabilizar o crescimento do parque petroquímico nacional
e enfrentar, em pé de igualdade, a concorrência internacional.
Em leilão realizado em julho de 2001, o Grupo Odebrecht arrematou
a participação de 23,73% que o Banco Econômico
possuía na Conepar e na Copene dando um passo
para a dissolução da complexa composição
societária das empresas do setor e criando uma petroquímica
de classe mundial a Braskem.
O assunto também está em pauta na Unipar, que articula
a integração da Petroquímica União com
as empresas de segunda geração instaladas em Mauá
/ SP o mais bem localizado e rentável dos três
pólos petroquímicos do país.
O complexo Gás Químico do Rio de Janeiro já
nasce com outra concepção empresarial, integrando
a primeira e segunda geração em uma única empresa,
com participação societária de duas empresas
privadas Unipar e Suzano mais a Petrobras e o BNDES.
Outra novidade é a entrada do gás natural nos novos
projetos petroquímicos nacionais. Até o início
dos anos 80, a produção nacional não justificava
um investimento em um complexo petroquímico que utilizasse
o gás natural como matéria prima, e que fosse competitivo.
Nesse cenário, três centrais petroquímicas foram
construídas, todas baseadas em nafta.
A exploração na Bacia de Campos trouxe novas perspectivas:
já no final da década de 1980, não só
o volume, mas também os prognósticos da produção,
permitiram os primeiros estudos de viabilidade de um complexo baseado
em gás o teor de etano contido no gás natural
produzido na Bacia ultrapassa 9%.
Paralelamente, devido a ampliações nas centrais já
existentes, o mercado apontava oportunidades na linha de olefinas
principalmente em polietilenos. O volume de gás
justificava, e o mercado apontava para a linha dos polietilenos.
Com isso, o projeto teve movimento para sensibilizar os investidores,
conta o superintendente da Rio Polímeros, Roberto Villa.
Empreendimento de US$ 1,08 bilhão, a Rio Polímeros
contempla a implantação de um complexo industrial
destinado à produção de 540 mil toneladas anuais
de polietilenos
Atualmente, a petroquímica representa 60% da indústria
química do País que é responsável
por 4% do PIB. O Brasil produz 2,5 milhões de toneladas de
eteno, o que representa 3% da produção mundial.
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