Edição 238 – Junho de 2002 – Revista Petro & Química
Eu já sabia!
Round 4: pior resultado já obtido nas Licitações
realizadas pela ANP
21 blocos arrematados de 54 oferecidos, e uma arrecadação de R$ 92.377.971. Para quem viu disputas espetaculares e grandes lances nos leilões anteriores, a Quarta Rodada fica marcada como o pior resultado já obtido nas Licitações realizadas pela Agência Nacional do Petróleo. O resultado, no entanto, não surpreendeu ninguém, nem a direção da ANP. “Foi um resultado muito bom, surpreendeu-me positivamente, pois tínhamos expectativas relativamente modestas”, disse o diretor geral da Agência, Sebastião do Rego Barros.

Também pudera: uma combinação de fatores só poderia afetar negativamente o leilão. Em primeiro lugar, quase todas as grandes oil companies já possuem áreas em bacias brasileiras – adquiridas nas três primeiras rodadas de licitação – e até hoje não houve nenhuma grande descoberta. E vários blocos estavam localizados em áreas de novas fronteiras, que possuem pouca informação geológica.

O diretor geral da ANP apontou também a queda do preço do petróleo no final do ano passado, quando as companhias programaram seus investimentos. Isso sem contar os problemas que ainda assombram a economia mundial. “É um excelente resultado. Enquanto o sistema financeiro tem dúvidas sobre o nosso país, o setor de petróleo investe aqui”, comemora Rego Barros.

“Os resultados obtidos nas primeiras rodadas indicavam que essa rodada não deveria ser realizada agora, mas devia aguardar um resultado exploratório melhor. Além disso não existem dados geofísicos de qualidade, o que poderia melhorar o interesse das empresas. Outra questão é o levantamento ambiental prévio que deveria ser feito”, rebate o ex-secretário de Petróleo do Rio de Janeiro, Wagner Victer.

“Se eventualmente não houve sucesso, está relacionada a questão dos estudos sísmicos: quanto menos dados existem, é mais prejudicial. Estamos tendo agora um resultado da falta de estudos sísmicos que deveriam ser feitos. E também devemos a uma certa letargia e falta de um foco adequado por parte do Ibama”, completa o ex-diretor-geral da ANP, David Zylbersztajn.

A primeira rodada de licitações, realizada em 1999, vendeu 12 dos 27 blocos ofertados – 44% de aproveitamento – com arrecadação de R$ 321.656.637. Em 2000, na segunda rodada, foram vendidos 21 dos 27 blocos oferecidos – 77% de aproveitamento – com uma arrecadação de R$ 468.259.069. No ano passado foram arrematados 34 dos 53 blocos – 64% de aproveitamento – e arrecadação de R$ 594.944.023.

Áreas terrestres foram atração

O destaque deste ano ficou com os blocos terrestres – áreas de menor risco e menos dependente de tecnologia. De 15 oferecidos, dez foram arrematados – até mesmo a Petrobras arrematou três áreas em terra.

Todas as nove áreas enquadradas na categoria C foram vendidas. Com as áreas mais complexas, classificadas na categoria A, apenas quatro foram vendidas, entre as 18 ofertadas. Esse fato pode explicar, em parte, o baixo valor arrecadado – as áreas enquadradas na categoria C normalmente têm preço mínimo menor que as regiões A e B.

Dentre as bacias, o foco deixou de ser Santos e Campos. Neste ano, todas as áreas nas Bacias do Recôncavo e Potiguar foram arrematadas. “O Recôncavo ainda tem muito óleo e gás para ser descoberto”, avalia Wagner Freire, presidente da Starfish – empresa que arrematou sozinha uma área na Bacia do Recôncavo.

Já as áreas de novas fronteiras – onde o conhecimento geológico é escasso – não despertaram interesse. É o caso das Bacias do Amazonas, Parnaíba, São Francisco, São Luiz, Pelotas e Pernambuco-Paraíba. Segundo o superintendente de Licitações da ANP, Ivan Simões Filho, essas bacias deverão ser mais estudadas pela Agência para entrarem nos próximos leilões.

Entre os blocos offshore arrematados, sete estavam localizados em águas rasas e quatro em águas profundas. Na Bacia de Santos, por exemplo, apenas duas das oito áreas ofertadas foram arrematadas – nas três rodadas anteriores, as regiões de maior profundidade foram as mais disputadas pelas empresas. Esse resultado demonstra que as empresas procuraram investimentos de maior risco. “Nossa estratégia foi baseada em explorar áreas onde há um risco menor”, disse o gerente de E&P da Petrobras, Carlos Alberto de Oliveira.

Por outro lado, foi por aí que três novas empresas – a brasileira Petrorecôncavo, a canadense Dover e a portuguesa Partex – marcaram a estréia no setor de petróleo brasileiro.

A partir dessa rodada aumenta o número de players no setor de petróleo brasileiro, com a estréia da BHP Billiton – que arrematou sozinha o bloco BM-C 24 – e da Newfileld – que arrematou o bloco BM-ES 20 – além da Partex, Dover e Petrorecôncavo.

O número negativo foi o de empresas habilitadas a participar das ofertas neste ano: 29. Haviam sido 42 empresas nas duas últimas rodadas, e 38 na primeira rodada de licitações. Além disso, das 29 empresas que estavam habilitadas a participar do leilão, 12 não fizeram ofertas. Das 17 que mostraram interesse em algum bloco, 14 levaram a concessão sozinhas ou em consórcios.

Prováveis mudanças

O diretor-geral da ANP não descarta mudanças nas próximas rodadas de licitações de blocos de petróleo. “Não vamos mudar por mudar, tampouco ficar imóveis. A agência sempre manteve um diálogo e constante com as empresas, portanto é possível que a ANP, faça algumas mudanças. Há muitas sugestões que estamos pensando”.

Rego Barros ressaltou, no entanto, que o bid brasileiro já entrou no calendário internacional da indústria do petróleo, e o espaçamento entre uma rodada e outra só deverá ser ampliado com razões muito fortes. “E essa razão até agora não apareceu, e creio que não aparecerá”.

Dentre as sugestões apresentadas e que poderão ser adotadas no futuro está a adoção do modelo de células, já empregado no Golfo do México. “Dentro do diálogo que a Agência mantém com a indústria, temos trocado idéias sobre possíveis modificações para as próximas rodadas. A idéia de trabalhar com blocos menores é criar um bloco padrão, como no Golfo do México”, explica o diretor da ANP, Jonh Forman.

Nesse sistema, uma empresa pode comprar áreas adjacentes e montar um bloco com as dimensões desejadas. “Ao licitar uma malha de blocos de menor porte, é possível deixar que os próprios interessados desenhem o perfil de seus alvos. Esse é um assunto que está em discussão, e a aplicação se dará de uma forma gradual. Blocos de menor porte nas áreas onde a informação for mais disponível. E nas áreas de novas fronteiras, que possuem um nível de informação menor, os blocos serão agregados, formando áreas maiores”, completa Forman.
Veja como ficou a Licitação
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